Um ano com D. Dinis (15)

(Excerto do meu romance "Dom Dinis - a quem chamaram O Lavrador")   Ao som dos alaúdes, Pêro Anes Coelho entoou os primeiros versos da cantiga de autoria de Dinis. A amada era informada de que seu amigo andava tão triste, que já quase não podia falar:             O voss’ amig’, amiga, vi andar    tam coitado que nunca lhi vi par,    que adur mi podia já falar,Os outros dois trovadores juntaram-se-lhe no refrão. O apaixonado suplicava que fossem rogar à amada que tivesse mercê dele:     pero quando me viu disse-m’ assi:    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar    por Deus que haja mercee de mi.»Era um poema em jeito de recado. A corte e os convidados seguiam encantados como Pêro Anes Coelho anunciava o coitado haver perdido o juízo e o ânimo:    El andava trist’ e mui sem sabor,    como quem é tam coitado d’ amor    e perdudo o sem e a color,E, de novo, se lhe juntaram os outros no refrão:    pero quando me viu disse-m’ assi:    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar    por Deus que haja mercee de mi.»Embora descrevesse um sofrimento, a cantiga possuía uma melodia leve e muito ritmo, na mudança entre o solista e o refrão.    El, amiga, achei eu andar tal    como morto, ca é descomunal    o mal que sofr’ e a coita mortal,    pero quando me viu disse-m’ assi:    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar    por Deus que haja mercee de mi.»   Nota: Todas as Cantigas de Amigo transcritas no meu romance são originais de D. Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas. 

Mar 20, 2025 - 12:19
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Um ano com D. Dinis (15)

(Excerto do meu romance "Dom Dinis - a quem chamaram O Lavrador")

 

Ao som dos alaúdes, Pêro Anes Coelho entoou os primeiros versos da cantiga de autoria de Dinis. A amada era informada de que seu amigo andava tão triste, que já quase não podia falar:
        
    O voss’ amig’, amiga, vi andar
    tam coitado que nunca lhi vi par,
    que adur mi podia já falar,

Os outros dois trovadores juntaram-se-lhe no refrão. O apaixonado suplicava que fossem rogar à amada que tivesse mercê dele:

    pero quando me viu disse-m’ assi:
    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
    por Deus que haja mercee de mi.»

Era um poema em jeito de recado. A corte e os convidados seguiam encantados como Pêro Anes Coelho anunciava o coitado haver perdido o juízo e o ânimo:

    El andava trist’ e mui sem sabor,
    como quem é tam coitado d’ amor
    e perdudo o sem e a color,

E, de novo, se lhe juntaram os outros no refrão:

    pero quando me viu disse-m’ assi:
    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
    por Deus que haja mercee de mi.»

Embora descrevesse um sofrimento, a cantiga possuía uma melodia leve e muito ritmo, na mudança entre o solista e o refrão.

    El, amiga, achei eu andar tal
    como morto, ca é descomunal
    o mal que sofr’ e a coita mortal,
    pero quando me viu disse-m’ assi:
    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
    por Deus que haja mercee de mi.»

 

Nota: Todas as Cantigas de Amigo transcritas no meu romance são originais de D. Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.