Tempo subjetivo e UX — Quando cada segundo conta
Tempo subjetivo e UX: Quando cada segundo contaA relação tempo e experiência em interfaces digitais.Ampulheta representando o tempo (Fonte)Já reparou na ansiedade que envolve o pedido de uma comida por delivery?Façamos um experimento. Abra o iFood, escolha um restaurante, selecione o pedido, finalize. Pronto: A espera se inicia.Mesmo com a estimativa do tempo de entrega, a sensação é de que cada segundo parece se arrastar. Paradoxalmente, caso o status do pedido não atualize, a sensação que fica é de lentidão, morosidade. Ao atualizar para “saiu para entrega” o sentimento é outro. O progresso ocorre e mesmo que o tempo total de espera não mude, a ideia é de que estamos mais próximos da entrega.A sensação que temos não é apenas emocional. Ela está diretamente ligada ao nosso cognitivo.A percepção do tempo, o emocional e sua mutabilidadeEsperar nunca é só questão de tempo. Relaciona-se diretamente como nos sentimos enquanto esperamos. O design tem um papel fundamental nisso.Estudos no campo da psicologia cognitiva mostram que a percepção do tempo é altamente influenciada pelo nosso estado emocional e estuda há muito o tempo subjetivo: A forma como o cérebro interpreta a passagem do tempo é frequentemente diferente do tempo real.Ou seja, há uma diferença entre o tempo cronológico (o que o relógio marca) e o tempo percebido (o que o cérebro interpreta).Pessoa aguardando o trem (Fonte)Em design de produtos digitais, o tempo raramente é percebido como ele realmente é.Hancock & Weaver (2005) analisaram como a ansiedade, complexidade da tarefa e tempo de espera impactam a percepção de duração em contextos computacionais. Segundo o estudo, usuários tendem a superestimar o tempo de espera quando não recebem feedback constante.Como podemos corrigir essa rota e tornar as experiências melhores no conceito de fluidez e percepção dos usuários?Susan Weinschenk é psicóloga comportamental e uma das principais referências em psicologia aplicada ao design e tecnologia. Em alguns de seus estudos, Susan mostra que o tempo percebido pode ser manipulado com técnicas simples de design. Um feedback imediato, mesmo que apenas visual, reduz a ansiedade do usuário e aumenta a sensação de que a interface é responsiva.Lembra do exemplo do iFood e o status da entrega do pedido? Pois é.Isso reforça a importância de considerar não apenas a performance técnica, mas também a percepção emocional do tempo como parte da experiência. Essa interpretação pode ser moldada e o design tem papel crucial em desenhar experiências que “enganam” o cérebro.Transformando a espera em algo mais confortável do que a sala de um consultório dos anos 2000 sem nenhuma revista à disposição.Sala de Espera (Fonte)O design e a esperaSusan Weinschenk (já citada anteriormente), afirma em seus estudos que o design pode ajudar a “acalmar o cérebro” durante momentos de incerteza. Ao reduzir a ambiguidade e oferecer feedback constante, diminuímos a ansiedade e regulamos a emoção durante a espera.Com esse insight a lógica do design é questionada. Não precisamos de respostas instantâneas a todo momento, até por isso ser impossível.Tomamos como exemplo a funcionalidade de confirmação de envio de mensagem no WhatsApp.Tecnoblog Responde — Vistos do WhatsApp (Fonte)Mais do que informar o status do envio da mensagem, ela tranquiliza. Cria-se um sentimento de progresso que reduz a ansiedade, mesmo que a pessoa demore a responder, o que nesse caso seria algo externo e alheio a jornada do usuário no aplicativo.Exemplos de design que modulam a emoção do tempoiFoodTrás animações e atualizações visuais com frases amigáveis durante o progresso do pedido. Essa prática mantém o usuário informado e engajado, o que reduz a sensação de espera.iFood — Acompanhamento de entrega do pedidoUberExibe a movimentação do carro em tempo real, além de trazer informações como o nome e o rosto do motorista. Isso reduz a insegurança emocional e humaniza a espera.Uber — Motorista a caminhoInstagram StoriesAs barras de tempo no topo da tela ajudam o usuário a entender quanto tempo falta para o conteúdo terminar, além de mostrar quantos stories aquele perfil tem disponível para visualização. Isso evita frustração e torna a experiência previsível.Instagram — Visualizando um story“Devemos manter os usuários informados sobre o que está acontecendo, por meio de feedbacks claros e contínuos.”— Nielsen Norman GroupComo o UX impacta a percepção do tempoSe o tempo subjetivo é moldado por emoções, feedbacks e estímulos visuais, o design se torna uma poderosa ferramenta para moldar essa percepção. Tornar experiências mais fluidas, confiáveis e agradáveis é fundamental.“Está tudo bem por aqui.” — Usuário desconhecido que recebeu um feedback da interfaceSegundo Dan Saffer (autor de Microinteractions: Designing with Details) as microinterações têm o poder de encantar, informar e suavizar o tempo de espera. Botões com animações suaves, um carregamento com frases divertidas, ou um feedback visual instantâneo podem tran
Tempo subjetivo e UX: Quando cada segundo conta
A relação tempo e experiência em interfaces digitais.
Já reparou na ansiedade que envolve o pedido de uma comida por delivery?
Façamos um experimento. Abra o iFood, escolha um restaurante, selecione o pedido, finalize. Pronto: A espera se inicia.
Mesmo com a estimativa do tempo de entrega, a sensação é de que cada segundo parece se arrastar. Paradoxalmente, caso o status do pedido não atualize, a sensação que fica é de lentidão, morosidade. Ao atualizar para “saiu para entrega” o sentimento é outro. O progresso ocorre e mesmo que o tempo total de espera não mude, a ideia é de que estamos mais próximos da entrega.
A sensação que temos não é apenas emocional. Ela está diretamente ligada ao nosso cognitivo.
A percepção do tempo, o emocional e sua mutabilidade
Esperar nunca é só questão de tempo. Relaciona-se diretamente como nos sentimos enquanto esperamos. O design tem um papel fundamental nisso.
Estudos no campo da psicologia cognitiva mostram que a percepção do tempo é altamente influenciada pelo nosso estado emocional e estuda há muito o tempo subjetivo: A forma como o cérebro interpreta a passagem do tempo é frequentemente diferente do tempo real.
Ou seja, há uma diferença entre o tempo cronológico (o que o relógio marca) e o tempo percebido (o que o cérebro interpreta).
Em design de produtos digitais, o tempo raramente é percebido como ele realmente é.
Hancock & Weaver (2005) analisaram como a ansiedade, complexidade da tarefa e tempo de espera impactam a percepção de duração em contextos computacionais. Segundo o estudo, usuários tendem a superestimar o tempo de espera quando não recebem feedback constante.
Como podemos corrigir essa rota e tornar as experiências melhores no conceito de fluidez e percepção dos usuários?
Susan Weinschenk é psicóloga comportamental e uma das principais referências em psicologia aplicada ao design e tecnologia. Em alguns de seus estudos, Susan mostra que o tempo percebido pode ser manipulado com técnicas simples de design. Um feedback imediato, mesmo que apenas visual, reduz a ansiedade do usuário e aumenta a sensação de que a interface é responsiva.
Lembra do exemplo do iFood e o status da entrega do pedido? Pois é.
Isso reforça a importância de considerar não apenas a performance técnica, mas também a percepção emocional do tempo como parte da experiência. Essa interpretação pode ser moldada e o design tem papel crucial em desenhar experiências que “enganam” o cérebro.
Transformando a espera em algo mais confortável do que a sala de um consultório dos anos 2000 sem nenhuma revista à disposição.
O design e a espera
Susan Weinschenk (já citada anteriormente), afirma em seus estudos que o design pode ajudar a “acalmar o cérebro” durante momentos de incerteza. Ao reduzir a ambiguidade e oferecer feedback constante, diminuímos a ansiedade e regulamos a emoção durante a espera.
Com esse insight a lógica do design é questionada. Não precisamos de respostas instantâneas a todo momento, até por isso ser impossível.
Tomamos como exemplo a funcionalidade de confirmação de envio de mensagem no WhatsApp.
Mais do que informar o status do envio da mensagem, ela tranquiliza. Cria-se um sentimento de progresso que reduz a ansiedade, mesmo que a pessoa demore a responder, o que nesse caso seria algo externo e alheio a jornada do usuário no aplicativo.
Exemplos de design que modulam a emoção do tempo
iFood
Trás animações e atualizações visuais com frases amigáveis durante o progresso do pedido. Essa prática mantém o usuário informado e engajado, o que reduz a sensação de espera.
Uber
Exibe a movimentação do carro em tempo real, além de trazer informações como o nome e o rosto do motorista. Isso reduz a insegurança emocional e humaniza a espera.
Instagram Stories
As barras de tempo no topo da tela ajudam o usuário a entender quanto tempo falta para o conteúdo terminar, além de mostrar quantos stories aquele perfil tem disponível para visualização. Isso evita frustração e torna a experiência previsível.
“Devemos manter os usuários informados sobre o que está acontecendo, por meio de feedbacks claros e contínuos.”
— Nielsen Norman Group
Como o UX impacta a percepção do tempo
Se o tempo subjetivo é moldado por emoções, feedbacks e estímulos visuais, o design se torna uma poderosa ferramenta para moldar essa percepção. Tornar experiências mais fluidas, confiáveis e agradáveis é fundamental.
“Está tudo bem por aqui.”
— Usuário desconhecido que recebeu um feedback da interface
Segundo Dan Saffer (autor de Microinteractions: Designing with Details) as microinterações têm o poder de encantar, informar e suavizar o tempo de espera. Botões com animações suaves, um carregamento com frases divertidas, ou um feedback visual instantâneo podem transformar segundos de incerteza em momentos de confiança.
“É no detalhe que mora a diferença entre tolerar e amar uma interface.”
— Dan Saffer
Carregamentos e skeleton screens
Continuando sobre as telas de carregamento, um dos maiores inimigos da experiência é a tela parada, sem feedback. Em aplicativos e sites mais recentes, há uma prática bem comum conhecida como skeleton screens. São aquelas estruturas cinzas que imitam o layout do conteúdo antes de ele carregar. Essa prática melhora significativamente a percepção do tempo.
Segundo estudos do Nielsen Norman Group, o uso da skeleton screen ajudam a reduzir a ansiedade do usuário ao indicar que o conteúdo está sendo carregado, além de criar a ilusão de um tempo menor de espera para o carregamento da interface.
Reduzir a complexidade = reduzir o tempo
Outro princípio fundamental está no uso da Lei de Hick. Ela afirma que, quanto mais opções oferecemos, mais tempo o usuário leva para decidir. Reduzir a complexidade visual e o número de decisões ajuda a tornar a experiência dos usuários mais rápida e menos estressante, apesar de não ter influência sobre o tempo real.
Designs com foco em simplicidade, agrupamentos visuais coerentes, hierarquia clara e espaço em branco bem utilizado fazem o cérebro trabalhar menos, e isso encurta o tempo percebido.
Quando projetamos com intenção, o tempo deixa de ser um obstáculo e passa a ser parte da experiência do usuário.
Carregando…
A espera faz parte da vida. No meio digital também, principalmente quando nos referimos a sistemas mais robustos e que dependam de integrações externas.
Apesar disso, a maneira como a espera é percebida faz diferença. O tempo cronológico sempre é o mesmo, mas o tempo subjetivo e percebido é completamente diferente e depende do design, feedback e cuidado nas interações.
“Como as pessoas se sentem enquanto esperam?”
No fim das contas, a espera faz parte do caminho. Cabe a nós desenharmos esse caminho de forma mais humana e dinâmica.
Leituras complementares e estudos
- Krug, S. (2014). Não me faça pensar
- Norman, D. (2006). O Design do dia a dia
- Nielsen Norman Group. (2016). Skeleton Screens: A Better Loading Experience
- Hancock, P. A., & Weaver, J. L. (2005). On time distortion under stress conditions. Human Factors, 47(3), 512–525
- Bradley, M. M., & Lang, P. J. (2000). Affective reactions to acoustic stimuli. Psychophysiology, 37(2), 204–215
- Saffer, D. (2013). Microinteractions: Designing with Details. O’Reilly Media
- Weinschenk, S. (2011). 100 Things Every Designer Needs to Know About People. New Riders
Tempo subjetivo e UX — Quando cada segundo conta was originally published in UX Collective