Semana de Design de Milão confirma a tendência do amarelo manteiga
Presente na história do homem desde a antiguidade, o amarelo atravessou séculos associado à riqueza e ao sol. “O amarelo ocre foi usado pelos neandertais cerca de 40/45 mil anos antes de Cristo, como uma espécie de cola para colar pedras, fazer lanças, como um adesivo. (…) Então ele é uma cor que figura no […] O post Semana de Design de Milão confirma a tendência do amarelo manteiga apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

Presente na história do homem desde a antiguidade, o amarelo atravessou séculos associado à riqueza e ao sol. “O amarelo ocre foi usado pelos neandertais cerca de 40/45 mil anos antes de Cristo, como uma espécie de cola para colar pedras, fazer lanças, como um adesivo. (…) Então ele é uma cor que figura no nosso imaginário desde quando a pintura começou a ser feita”, explica Bruno Dunley, artista visual e co-fundador da Joules & Joules.
Dunley explica que a cor segue aparecendo ao longo dos anos, seja no auripigmento egípcio, no massicote grego ou no amarelo cádmio popularizado por Van Gogh. “Todos esses amarelos que citei, tirando o amarelo ocre, são tóxicos. O amarelo de Nápoles feito verdadeiramente é muito raro, porque ele é um antimoniato de chumbo. (…) O amarelo de cromo também é muito tóxico”, diz ele.

“Mound of Butter”, de Antoine Vollon – Foto: Divulgação
Ainda assim, a cor nunca abandonou o mundo da arte – e recentemente, um tom mais suave conquista novos territórios: o amarelo manteiga. Durante a Semana de Design de Milão, a criativa britânica Faye Toogood está lançando uma linha de móveis no tom em parceria com a Tacchini, intitulada Bread and Butter.
Segundo Guilherme de Beauharnais, editor de moda da Harper’s Bazaar, foi no século XVIII que o amarelo manteiga começou a ganhar espaço, com os ideais barrocos e a romantização da vida camponesa: “No imaginário pop, por exemplo, a Maria Antonieta de Sofia Coppola aparece algumas vezes no filme vestida de amarelo pastel”, lembra o editor. “Isso sofre uma guinada na Era Vitoriana, quando os amarelos voltam a ser fortes. Na França também surgem como cor predileta dos modelos de alta costura que estavam surgindo naquele momento”.
O tom que conquistou a moda
Nos anos 2000, o butter yellow se tornou sinônimo de feminilidade em produções como Gossip Girl (2007) e Como Perder Um Homem em 10 Dias (2003), com o icônico vestido Carolina Herrera usado pela personagem de Kate Hudson. Mas foi a partir de 2020 que a popularização veio com tudo: “Por um lado, a pandemia criou um clima de caos, mas também de desejo por tranquilidade. (…) Por outro, as tendências old money e o minimalismo criaram uma obsessão pela neutralidade.”, pontua Guilherme.
Após tons vibrantes como o pink da Valentino e o azul aceso da Burberry tomarem conta das passarelas, o amarelo manteiga apareceu em coleções de Jacquemus, da Louis Vuitton, da Chanel e até do Rick Owens. Uma de suas aparições recentes mais comentadas foi no Oscar de 2025, com o ator Timothée Chalamet vestindo um look Givenchy de couro amarelo manteiga. Assim como o lilás, o tom vem ganhando destaque justamente pela neutralidade: serve como uma alternativa genderless aos neutros tradicionais – e é aí que o design entra em cena.
A nova aposta do design
Após aparecer em peso nas últimas semanas de moda, a tendência migrou para o mundo do design e vem sendo a aposta daqueles que querem um toque de cor menos radical. Versátil, o amarelo manteiga pode ser adaptado para diferentes itens: sofás, poltronas, luminárias, tapetes e até eletrodomésticos já adotaram o tom.
Considerada uma cor que evoca alegria e otimismo, é capaz de criar uma sensação de aconchego aos ambientes, ao mesmo tempo em que traz vitalidade. É também fácil de combinar: não tão ousado quanto outros tons de amarelo, nem tão neutro quanto o bege e o cinza, por exemplo. Essa flexibilidade permite que ele seja utilizado tanto como cor principal quanto em detalhes sutis que acendem os ambientes.
Em um mundo onde as barreiras de gênero vêm sendo diluídas, o amarelo manteiga é uma cor democrática. Ele veste igualmente ambientes masculinos e femininos, urbanos ou campestres, modernos ou clássicos. E o sucesso do tom no design também se relaciona com o movimento de retorno ao bem-estar: espaços afetivos, quentes e confortáveis ganharam protagonismo.
Invadindo espaços arquitetônicos
Profundo estudioso das cores, Le Corbusier criou três grupos para descrever suas composições: construtivas, dinâmicas e transicionais. O primeiro reúne pigmentos naturais, utilizados para criar atmosferas agradáveis e alterar a percepção do espaço. São derivados de tons pasteis e terrosos como marrom, ocre e siena, empregados para estabelecer uma sensação de calor, harmonia e conexão com o ambiente natural.
As dinâmicas, por sua vez, são vibrantes e intensas, incluindo cores primárias como vermelho, azul e amarelo puro. Com seu uso pontual, Le Corbusier pretendia criar detalhes que capturassem a atenção em composições arquitetônicas. Por fim, as cores de transição utilizam pigmentos sintéticos transparentes e são utilizadas para alterar superfícies – sem afetar a percepção de volume ou profundidade espacial.
Em tempos de revolução, portanto, as cores chegam à arquitetura em tons mais fortes. Mas desde a pandemia da Covid-19, o mundo pede o calor do amarelo somado ao acolhimento dos tons pasteis. Sendo assim, o butter yellow vem sendo incorporado em paredes, pisos e até tetos, buscando uma atmosfera mais convidativa e inovações moderadas.
É uma cor que combina com madeira, fibras naturais, linho e algodão – materiais que evocam a leveza e o orgânico. Pode ser também um contraponto à frieza do concreto. Por fim, vale a inspiração na forma como o arquiteto mexicano Luis Barragán utilizava o amarelo para transformar espaços por meio da luz e da cor, criando um senso de espiritualidade cotidiano.
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