Pequenos prazeres da vida

Instantes de pura realização pessoal: Às vezes, tudo que a gente precisa pra se sentir bem é um grão de arroz grudado no dedo — aquele que escapou do prato e agora virou seu novo mascote até o próximo banho. Ou talvez uma caminhada distraída...

Abr 29, 2025 - 13:58
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Pequenos prazeres da vida

Instantes de pura realização pessoal:

Às vezes, tudo que a gente precisa pra se sentir bem é um grão de arroz grudado no dedo — aquele que escapou do prato e agora virou seu novo mascote até o próximo banho. Ou talvez uma caminhada distraída que, por obra divina, faz seu pé pisar bem no meio de uma folha seca e… creck. A vida, meus caros, não é feita de grandes momentos. É feita desses estalinhos emocionais que acontecem quando a gente menos espera.

Esses dias eu me peguei sorrindo porque encontrei uma nota de dois reais no bolso de uma calça que eu não usava desde o começo da pandemia. Aquela calça que já não me serve direito, mas que eu me recuso a doar porque “um dia eu volto a fazer exercício”. E ali estava ela, me dando dinheiro e esperança. Dois reais e um voto de confiança.

As tirinhas que você viu aí em cima (e se não viu, por favor, pare de rolar e vá ver, porque eu não vou competir com nostalgia desenhada à mão) são basicamente um inventário de momentos que a gente costuma viver sem perceber que está vivendo. Lamber a colher do bolo, cheirar livro novo, abrir uma encomenda dos Correios como se fosse Natal e você tivesse comprado o próprio presente (o que, no caso, é verdade).

Tem coisa mais poética do que dormir com chuva batendo na janela? É como se o mundo estivesse lavando a alma e você aproveitasse pra dar uma cochilada durante a faxina. E a pipoca estourando na panela? Uma orquestra do caos culinário que termina com sal e manteiga. O verdadeiro som da esperança.

Confesso que, pessoalmente, tenho uma ligação profunda com o “fazer voz de robô no ventilador”. Uma performance que sempre termina comigo tossindo dramaticamente porque subestimei minha própria saliva. Mas vale a pena. Toda vez.

E quando eu falo dessas pequenas delícias da existência, não é só pra parecer profundo numa crônica. É porque a gente anda tão distraído com prazos, boletos e updates do WhatsApp que esquece que ainda dá pra sentir prazer em coisas que não exigem senha de acesso nem assinatura mensal.

Tipo dizer “eu avisei” com aquele olhar triunfante que mistura superioridade moral e um toque de ressentimento passivo-agressivo. Ou fazer moicano com shampoo e, por alguns segundos, esquecer que a água quente vai acabar e você vai ter que lidar com o mundo real de novo.

O segredo está todo aí. Em prestar atenção. Em aceitar que a felicidade talvez não venha com um final de semana em Paris, mas com o cheiro de pizza do dia seguinte esquentando no forno. Em entender que, sim, a vida é difícil — mas tem momentos em que ela resolve ser só… gostosa.

Como soprar um dente de leão e fingir que cada semente é um boleto sendo levado pelo vento.

E isso, sinceramente, já é o suficiente pra eu querer continuar tentando.

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Via Os Profanos