“Capitão Astúcia” tenta caminho alternativo no audiovisual: no YouTube e de graça

A primeira vez que troquei uma ideia com o Filipe Gontijo foi em 2015. Ele havia acabado de dirigir um filme de realidade virtual, em um momento em que as big techs juravam de pés juntos que o futuro do entretenimento estava numa realidade virtual empacotada em um pedaço de papelão com um celular enfiado […]

Abr 29, 2025 - 19:22
 0
“Capitão Astúcia” tenta caminho alternativo no audiovisual: no YouTube e de graça

A primeira vez que troquei uma ideia com o Filipe Gontijo foi em 2015. Ele havia acabado de dirigir um filme de realidade virtual, em um momento em que as big techs juravam de pés juntos que o futuro do entretenimento estava numa realidade virtual empacotada em um pedaço de papelão com um celular enfiado dentro.

Corta para 2025 e, desta vez, ainda na mesma conversa por e-mail, Filipe busca inovar nos bastidores. Seu primeiro longa-metragem, Capitão Astúcia, saiu direto no YouTube, de graça, sem anúncios. O modelo de negócio? Quem gostar do longa pode contribuir com um Pix de qualquer valor.

“Estamos ganhando pouco [com os Pix], mas é alguma coisa”, disse-me por e-mail. “E somos donos do nosso filme pra vender ele ‘picado’ para todo e qualquer player e TV pública que topar o contrato sem exclusividade.” A não-exclusividade é a única regra na distribuição de Capitão Astúcia.

Perguntei ao Filipe o motivo desse caminho pouco usual. Recebi uma resposta de alguém desiludido com o arranjo tradicional do audiovisual no Brasil, da ganância das distribuidoras dos grandes centros ao caminho de baixo retorno que as obras fazem dos cinemas para o aluguel digital e, por fim, o streaming — e só um, porque todos exigem exclusividade, “como se o filme independente da pessoa fosse a joia rara definitiva para alguém assinar o streaming ou o pacote de TV a cabo”, explica.

Bem-humorado, Filipe faz uma analogia usando o seu herói a um da Marvel: “A amarração violenta de um Capitão América, com o pagamento magro de um Capitão Astúcia.”

Em Brasília, onde mora e onde o filme foi rodado, o cineasta reuniu uma equipe para tocar a distribuição. Além do YouTube, Capitão Astúcia já foi exibido na TV Globo de Brasília, licenciado para duas companhias aéreas, estará no Tela Brasil (streaming governamental) e foi exibido, de graça, em lares de velhinhos, cineclubes e ao ar livre em cidades que sequer têm salas de cinema.

“Encontrei um time com o espírito do Capitão Astúcia para fazer um lançamento que também tem a mesma energia.”

Filipe lembra que existem outros filmes, e de boa qualidade, disponíveis no YouTube. O diferencial de Capitão Astúcia foi pular dos cinemas direto para a plataforma de vídeos do Google: “Desconsideramos a regra da valorização de ‘primeira janela‘. Os independentes podem estar em todas as janelas ao mesmo tempo e maximizar seu investimento em divulgação.”

Está dando certo? Até a tarde desta terça (29), Capitão Astúcia acumulava 2,9 mil visualizações no YouTube. Muito ou pouco, isso é relativo. Para Filipe, vale a tentativa: “É legal tentar uma coisa nova. Mesmo que seja para quebrar a cara, pelo menos não estamos seguindo um caminho que não faz sentido para o Capitão Astúcia.”

Assista ao filme no YouTube.