O que se passou no "apagão" em Portugal e Espanha?

O dia 28 de Abril passa a ficar associado ao grande "apagão" Ibérico, deixando Portugal e Espanha sem electricidade. Como se não bastasse já se ter passado pela situação quase irreal do período de confinamento da Covid-19, na segunda-feira dia 28 de Abril passamos por outra situação que, no mínimo, revela as fragilidades do mundo moderno que damos por garantido - mas que, como ficou demonstrado, pode desaparecer de um dia para o outro. Ainda sem causas devidamente explicadas, registamos um apagão que deixou Portugal e Espanha sem energia eléctrica. Tradicionalmente, sabemos que uma falha de energia é algo que fica resolvido em poucos minutos ou, em casos extremos, em algumas horas, e normalmente de forma pontual afectando apenas uma pequena área. Mas desta vez, a falta de energia foi global, afectando praticamente a totalidade de Portugal e de Espanha. Nos momentos iniciais ainda foi possível manter as comunicações móveis, mas com o passar das horas também as comunicações começaram a desaparecer - com alguns operadores a resistirem por mais tempo que outros, certamente devido às opções de backup de energia adoptadas para as torres celulares. E assim, se iniciou o "caos". Sem comunicações móveis, depressa se começaram a notar as fragilidades da nossa sociedade dependente das comunicações imediatas: pais que não podiam contactar as escolas para saber se os filhos tinham aulas ou tinham que regressar para casa; consultas e compromissos que não se sabia se seriam mantidos, acompanhados da incerteza de se saber o que se passava. Quem ainda tiver um rádio portátil tradicional podia ir ouvindo as notícias, mas quem dependesse da rádio via internet ficava sem nada saber. De forma mais inexplicável, assistiu-se a uma corrida aos combustíveis e supermercados, com longas filas e prateleiras limpas, como se estivessem a antever um apocalipse - e da mesma forma, o civismo parece ter ficado esquecido por grande parte das pessoas (ainda bem que por cá não é comum andar-se armado, senão seria extremamente provável que tivessem havido casos complicado). Nos hospitais, foi tempo de por em prática os planos de emergência e contingência, com os geradores a mostrarem para que servem, e com a preocupações a ser a de assegurar o devido reabastecimento à medida que as horas iam passando. Nas casas, as preocupações eram de ordem mais mundana: será que a comida nos frigoríficos e congeladores se irá aguentar? Como vou aquecer a comida (para quem estiver dependente de sistemas eléctricos)? Vou tomar banho de água fria? E felizmente que, na maioria do país, não se registou falta de água (embora algumas zonas possam ter sentido isso mais no final do dia). Houve também muitos portugueses que ficaram intrigados por, apesar de terem painéis solares, não poderem usufruir dessa energia. Isto porque a maioria dos sistemas de painéis não está preparado para tal, interrompendo o fornecimento de energia em caso de falta da energia da rede. Há sistemas que permitem manter a casa em funcionamento, mas que têm que ser devidamente configurados para tal, ou então recorrer a um sistema com baterias, concebido para assegurar essa função. Para quem estiver habituado a fazer campismo, as coisas acabavam por se tornar mais simples, já que se está mais habituado a ter o material necessário para "sobreviver". Especialmente para as gerações mais novas, não deixa de ser um episódio educativo, de como aquilo que dão por garantido pode desaparecer literalmente de um dia para o outro. O apagão, embora curto (menos de um dia), também teve alguns efeitos curiosos, como o de se ver mais pessoas a passear e falar na rua (em vez de ficarem em casa ou andarem com a cara colada ao telemóvel). Talvez não fosse má ideia instituir um dia "offline" por ano, ao estilo dos simulacros para outros incidentes e catástrofes, que servisse de preparação para um cenário como este.

Abr 29, 2025 - 12:52
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O que se passou no "apagão" em Portugal e Espanha?
O dia 28 de Abril passa a ficar associado ao grande "apagão" Ibérico, deixando Portugal e Espanha sem electricidade.

Como se não bastasse já se ter passado pela situação quase irreal do período de confinamento da Covid-19, na segunda-feira dia 28 de Abril passamos por outra situação que, no mínimo, revela as fragilidades do mundo moderno que damos por garantido - mas que, como ficou demonstrado, pode desaparecer de um dia para o outro.

Ainda sem causas devidamente explicadas, registamos um apagão que deixou Portugal e Espanha sem energia eléctrica. Tradicionalmente, sabemos que uma falha de energia é algo que fica resolvido em poucos minutos ou, em casos extremos, em algumas horas, e normalmente de forma pontual afectando apenas uma pequena área. Mas desta vez, a falta de energia foi global, afectando praticamente a totalidade de Portugal e de Espanha.

Nos momentos iniciais ainda foi possível manter as comunicações móveis, mas com o passar das horas também as comunicações começaram a desaparecer - com alguns operadores a resistirem por mais tempo que outros, certamente devido às opções de backup de energia adoptadas para as torres celulares. E assim, se iniciou o "caos".

Sem comunicações móveis, depressa se começaram a notar as fragilidades da nossa sociedade dependente das comunicações imediatas: pais que não podiam contactar as escolas para saber se os filhos tinham aulas ou tinham que regressar para casa; consultas e compromissos que não se sabia se seriam mantidos, acompanhados da incerteza de se saber o que se passava. Quem ainda tiver um rádio portátil tradicional podia ir ouvindo as notícias, mas quem dependesse da rádio via internet ficava sem nada saber. De forma mais inexplicável, assistiu-se a uma corrida aos combustíveis e supermercados, com longas filas e prateleiras limpas, como se estivessem a antever um apocalipse - e da mesma forma, o civismo parece ter ficado esquecido por grande parte das pessoas (ainda bem que por cá não é comum andar-se armado, senão seria extremamente provável que tivessem havido casos complicado). Nos hospitais, foi tempo de por em prática os planos de emergência e contingência, com os geradores a mostrarem para que servem, e com a preocupações a ser a de assegurar o devido reabastecimento à medida que as horas iam passando.

Nas casas, as preocupações eram de ordem mais mundana: será que a comida nos frigoríficos e congeladores se irá aguentar? Como vou aquecer a comida (para quem estiver dependente de sistemas eléctricos)? Vou tomar banho de água fria? E felizmente que, na maioria do país, não se registou falta de água (embora algumas zonas possam ter sentido isso mais no final do dia).

Houve também muitos portugueses que ficaram intrigados por, apesar de terem painéis solares, não poderem usufruir dessa energia. Isto porque a maioria dos sistemas de painéis não está preparado para tal, interrompendo o fornecimento de energia em caso de falta da energia da rede. Há sistemas que permitem manter a casa em funcionamento, mas que têm que ser devidamente configurados para tal, ou então recorrer a um sistema com baterias, concebido para assegurar essa função.

Para quem estiver habituado a fazer campismo, as coisas acabavam por se tornar mais simples, já que se está mais habituado a ter o material necessário para "sobreviver".


Especialmente para as gerações mais novas, não deixa de ser um episódio educativo, de como aquilo que dão por garantido pode desaparecer literalmente de um dia para o outro. O apagão, embora curto (menos de um dia), também teve alguns efeitos curiosos, como o de se ver mais pessoas a passear e falar na rua (em vez de ficarem em casa ou andarem com a cara colada ao telemóvel). Talvez não fosse má ideia instituir um dia "offline" por ano, ao estilo dos simulacros para outros incidentes e catástrofes, que servisse de preparação para um cenário como este.