O desfile de moda que denunciou a ditadura brasileira para o mundo

A coleção 'Moda Política', de Zuzu Angel, retratou a busca da estilista pelo filho, torturado e morto pelo governo militar

Abr 12, 2025 - 15:49
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O desfile de moda que denunciou a ditadura brasileira para o mundo

Um dos muitos usos da moda é a expressão política. Exemplo disso é a produção de Zuleika de Souza Netto, conhecida como Zuzu Angel. Durante a ditadura militar brasileira, a estilista utilizou suas peças para denunciar internacionalmente a repressão que ocorria no país.

Zuzu iniciou sua carreira na moda nos anos 1950. Ficou conhecida por fazer desfiles de suas peças nos Estados Unidos, levando cores e estampas inspiradas em Minas Gerais, na Bahia e no Rio de Janeiro, locais em que viveu. Produziu peças marcantes vestidas por artistas como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak.

Croqui Zuzu Angel
Croqui Zuzu Angel(foto: Instituto Zuzu Angel/Reprodução)

Na virada dos anos 1960 para os anos 1970, porém, a estilista travou uma batalha contra o governo militar em busca do corpo de seu filho Stuart Angel, estudante de economia que foi dado como desaparecido. Ele fazia parte de organizações de esquerda que combatiam a ditadura no Brasil e foi preso em 14 de maio de 1971, torturado e morto.

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Neste período, Zuzu criou uma coleção Moda Política com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e estampas bélicas. Além disso, trazia anjos e itens das lembranças do filho. 

Confira alguns itens da coleção:

  • Vestido de protesto por Zuzu Angel
    Vestido de protesto por Zuzu Angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução
  • Detalhe vestido Zuzu Angel
    Detalhe vestido Zuzu Angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução
  • Vestido de protesto Zuzu Angel
    Vestido de protesto Zuzu Angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução
  • Detalhe de vestido de Zuzu Angel
    Detalhe de vestido de Zuzu Angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução
  • Vestido de protesto elaborado por Zuzu Angel
    Vestido de protesto elaborado por Zuzu Angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução
  • Detalhe de vestido de Zuzu Angel
    Detalhe de vestido de Zuzu Angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução
  • Modelo de luto de Zuzu angel
    Modelo de luto de Zuzu angel Instituto Zuzu Angel/Reprodução

Em 1971, Zuzu realizou um desfile-protesto no consulado do Brasil em Nova York. O ato ganhou as manchetes dos jornais internacionais canadenses e americanos, denunciando a violência da ditadura contra uma mãe que queria o corpo do filho.

A estilista apelou a políticos importantes e celebridades, tanto brasileiras quanto americanas, em busca de Stuart. Em 1973, encontrou-se inclusive com o general Ernesto Geisel. O apelo dela foi parar no congresso americano, por meio do discurso do senador Edward Kennedy.

Zuzu Angel
Zuzu Angel(foto: Instituto Zuzu Angel/Reprodução)

Uma vez, Zuzu ainda roubou o microfone de uma aeromoça enquanto pousava no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para dizer aos passageiros do voo que "desceriam no Brasil, país que torturava e matava jovens estudantes".

O corpo de Stuart nunca foi encontrado. Em 1976, ainda em sua busca, Zuzu morrreu em um acidente de carro na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. O carro que estava dirigindo derrapou na saída do túnel e saiu da pista. Em 2007, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos ouviu duas testemunhas do acidente, que disseram ter visto o carro de Zuzu ser fechado por outro veículo e ser jogado para fora da pista. Antes do acidente, Zuzu deixou um bilhete onde informava que se fosse morta por assalto, acidente ou outras causas teria sido obra dos perseguidores do governo militar. 

Em 2019, a filha da estilista conseguiu emitir as certidões de óbito da mãe, Zuleika, e do irmão, Stuart. A morte de ambos foi atestada como "não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".