Analistas acreditam que nova coligação poderá formar governo estável na Alemanha
Analistas alemães ouvidos pela Lusa acreditam que ainda é cedo para perceber o futuro do novo governo na Alemanha, mas estão otimistas relativamente ao acordo conseguido entre conservadores e social-democratas, que poderá trazer estabilidade. A pressão económica dos EUA e a pressão política das sondagens, que dão a extrema-direita em empate com a União Democrata […]


Analistas alemães ouvidos pela Lusa acreditam que ainda é cedo para perceber o futuro do novo governo na Alemanha, mas estão otimistas relativamente ao acordo conseguido entre conservadores e social-democratas, que poderá trazer estabilidade.
A pressão económica dos EUA e a pressão política das sondagens, que dão a extrema-direita em empate com a União Democrata Cristã (CDU) terão acelerado as negociações a três que concluíram esta quarta-feira, em Berlim.
“O novo governo sabe o que é que está em risco porque é a última oportunidade de combater a extrema-direita. Se a economia melhorar, penso que será possível ter um executivo mais estável do que o esperado. Já sobre a possibilidade de a CDU voltar a ganhar terreno e votos, isso é mais incerto porque as pessoas estão zangadas”, apontou Martin Kessler.
O líder dos conservadores e vencedor das últimas eleições, Friedrich Merz, prometeu, em conferência de imprensa de apresentação do novo acordo, “fazer o país avançar novamente”.
Para o editor chefe de política do jornal Rhenische Post, o resultado do acordo de coligação “parece melhor do que o esperado”. “Alteração da política de migração, concentração na segurança externa e interna, digitalização, redução da burocracia, diminuição dos impostos sobre as empresas e melhoria das regras de amortização relativas ao investimento. Mas as questões importantes, como a reforma do sistema de pensões, os cuidados de saúde ou os cuidados aos idosos, ainda não foram abordadas. Algumas coisas, como os subsídios para a agricultura e a restauração ou a melhoria das pensões para as mães, são prendas eleitorais e contraproducentes“, acrescentou.
O líder dos conservadores e vencedor das últimas eleições, Friedrich Merz, prometeu, em conferência de imprensa de apresentação do novo acordo, “fazer o país avançar novamente” com investimentos na economia e na defesa.
Merz deverá ser nomeado chanceler no início de maio, numa altura em que o presidente dos EUA, Donald Trump, desencadeou uma guerra comercial, provocando incerteza relativamente aos futuros laços de segurança transatlânticos.
“O novo governo federal também poderá beneficiar com o confronto com os EUA, uma vez que está a surgir um novo inimigo externo que nos poderá unir”, considerou Ulrich von Alemann, em declarações à Lusa.
Para o politólogo alemão, as sondagens que apontam uma igualdade entre o partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar nas eleições de 23 de fevereiro, e a CDU, são “fenómenos de curto prazo” que podem mudar rapidamente após ser conhecido este acordo de coligação.
Como a CDU/CSU criou expectativas antes das eleições de que poderia haver uma reviravolta total na política alemã, será ainda mais difícil recuperar votos e a confiança. Isso nunca poderá acontecer com um governo de coligação.
“Também depende muito da reação dos meios de comunicação social, que, esperemos, acabará por se libertar das suas críticas políticas gerais”, apontou, sublinhando ainda que, “se ambos os lados conseguirem dar um sinal claro de que fizeram concessões razoáveis e formarem um novo governo equilibrado, isso também poderá ter resultados positivos nas sondagens num futuro próximo”.
“Como a CDU/CSU criou expectativas antes das eleições de que poderia haver uma reviravolta total na política alemã, será ainda mais difícil recuperar votos e a confiança. Isso nunca poderá acontecer com um governo de coligação. Resta saber como é que a AfD se vai posicionar no futuro”, sublinhou ainda von Alemann.
Martin Kessler quer esperar para ver, adiantando que Merz não estava numa situação “confortável” com os resultados recentes das sondagens. “A principal razão é Friedrich Merz ter prometido não tocar no travão da dívida e acabar por fazer uma viragem de 180 graus. Penso que isso não é muito bem recebido pelos votantes da CDU, já que o partido acabou por fazer muitas concessões ao SPD [Partido Social-Democrata] e também aos Verdes”, acrescentou. Ainda assim, acredita que as “negociações aceleradas e a confiança que se está a gerar entre os novos parceiros” são “promissoras”.
O acordo surge 45 dias depois das eleições antecipadas na Alemanha, que o bloco conservador formado pela CDU e pela sua congénere bávara, CSU, venceu com 28,6% dos votos, à frente da AfD (20,8%), do SPD (16,4%), dos Verdes (11,6%) e da Esquerda (8,8%).
O documento tem 146 páginas e intitula-se “Responsabilidade pela Alemanha.” Está dividido em seis capítulos, cada um dos quais se centra num tema considerado fundamental pelos três partidos, como a economia ou as migrações.
O SPD vai agora pedir aos seus mais de 357 membros que votem por correio a aprovação da coligação. No último fim de semana de abril, a CDU deverá reunir um comité composto por membros do Conselho Executivo do partido, bem como representantes das associações e delegados estaduais. Na CSU é a direção do partido a decidir.