Novo “Karatê Kid” chega aos cinemas. Confira todas as estreias

Lançamentos também incluem o terror "A Mulher do Jardim", duas animações, dois dramas internacionais e cinco produções brasileiras

Mai 8, 2025 - 16:33
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Novo “Karatê Kid” chega aos cinemas. Confira todas as estreias

A programação de cinema destaca “Karatê Kid: Lendas”, estreia mais ampla da semana. A retomada da franquia chega às telonas com apelo nostálgico para os fãs do filme original dos anos 1980, mas também visa o público atual da série “Cobra Kai”. Outros lançamentos incluem o terror “A Mulher do Jardim”, duas animações, dois dramas internacionais e cinco produções brasileiras.

 

KARATÊ KID: LENDAS

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Mais de 40 anos após o original, a franquia “Karatê Kid” retorna aos cinemas para unir diferentes gerações da saga – e do público. Dirigido por Jonathan Entwistle (criador das séries “The End of the F*ing World” e “I Am Not Okay With This”, marcadas pelo humor ácido – aqui dando um salto para o cinema de ação familiar), o longa é o sexto da franquia e funciona como sequência direta tanto dos filmes clássicos estrelados por Ralph Macchio quanto do reboot de 2010 com Jackie Chan. A história se passa três anos após os eventos da série “Cobra Kai”, situando-se dentro do chamado “Miyagi-verso”. O grande atrativo de “Lendas” é justamente reunir, pela primeira vez, Daniel LaRusso (Macchio) e o Sr. Han (Chan) – mentor do remake de Jaden Smith – em uma mesma trama.

Apesar da presença dos famosos, o protagonista da vez é vivido pelo jovem ator sino-americano Ben Wang (da série “A Jornada de Jin Wang”), um adolescente prodígio do kung fu que, após uma tragédia familiar, é forçado a deixar sua casa em Pequim e se mudar com a mãe para Nova York. Em meio ao luto e ao choque cultural, Li tenta evitar conflitos, mas logo descobre que “os problemas o encontram” – seja enfrentando bullies na escola ou lidando com a saudade de casa. Quando um novo amigo americano precisa de ajuda contra um grupo rival de caratê, Li relutantemente se inscreve em um torneio de artes marciais local. Porém, ele percebe que apenas suas habilidades de kung fu não bastam para vencer os desafios. É aí que entra em cena seu mentor, o Sr. Han, que, sentindo a urgência da situação, chama um expert em caratê. Juntos, Han e Daniel unem seus estilos e filosofias para preparar o jovem, desenvolvendo respeito mútuo durante o treinamento.

O filme está repleto de easter eggs e homenagens: desde flashbacks de Sr. Miyagi (com imagens de arquivo de Pat Morita) até referências diretas ao treinamento clássico de Daniel-san. Jackie Chan, aos 70 anos, participou ativamente das cenas de ação – inclusive colaborando na coreografia das lutas. O diretor revelou que Chan sugeriu pequenas gags visuais durante as filmagens, como pular de cantos inesperados e rolar sobre mesas, que descreveu como “ideias mágicas” incorporadas na edição final.

Não há como negar que o sucesso inesperado da série “Cobra Kai” no streaming foi o motivo de a Sony apostar em retomar a franquia no cinema. Por isso, “Karatê Kid: Lendas” surge como um “reboot legado”, visando tanto os pais que vibraram com o filme de 1984 quanto filhos que maratonaram “Cobra Kai” na Netflix. Se manter o equilíbrio – assim como os ensinamentos do Sr. Miyagi – entre honrar o passado e empolgar o presente, “Lendas” poderá firmar um novo capítulo vencedor na saga “Karatê Kid”. As primeiras exibições indicam uma recepção calorosa dos fãs.

 

A MULHER NO JARDIM

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Depois de uma sequência de filmes de ação blockbuster, o diretor espanhol Jaume Collet-Serra retorna às origens de “A Órfã” (2009) com este terror da Blumhouse que explora temas de luto, culpa e saúde mental sob uma lente sobrenatural. O filme é protagonizado pela talentosa Danielle Deadwyler (premiada por “Till” em 2022), mas não agradou a crítica (43% no Rotten Tomatoes) e rendeu apenas US$ 22 milhões na bilheteria dos Estados Unidos, frente a um orçamento modesto de US$ 12 milhões.

O terror se passa em uma fazenda isolada no interior dos EUA e acompanha Ramona (Deadwyler), uma mãe deprimida, viúva e cadeirante após um acidente de carro que tirou a vida do marido. Ela tem dois filhos para cuidar: Taylor, um adolescente rebelde, e Annie, uma garotinha sensível. Certo dia, surge no quintal de casa uma figura feminina misteriosa, vestida de preto e envolta em um véu esvoaçante, que permanece parada do lado de fora encarando a família. Ramona inicialmente pensa se tratar de uma mulher idosa perdida ou confusa, e tenta buscar ajuda – mas não há sinal de telefone nem luz (Ramona só tem celular, e ele está sem bateria, algo que o roteiro sublinha de forma astuta). A mulher no jardim não responde, apenas repete enigmaticamente a frase “Hoje é o dia” e faz pequenos avanços, sempre parando na beira da varanda. Quando o cachorro da família late descontrolado para a figura, ela parece usar uma espécie de “magia das sombras” – e o cão desaparece misteriosamente, deixando apenas um rastro de sangue, sugerindo ter sido atacado e morto.

A partir daí, os eventos escalonam em estranheza. Ramona tenta proteger os filhos dentro de casa, trancando portas e janelas, enquanto a mulher sussurra do lado de fora revelações. A protagonista fica assombrada, pois ela tem um segredo: embora tenha dito às crianças que o pai morreu dirigindo, na realidade era Ramona quem estava ao volante naquela noite fatídica e provocou o acidente após uma briga conjugal. A presença sobrenatural aprofunda a culpa de Ramona, enquanto fenômenos paranormais começam a ocorrer dentro da casa (espelhos se quebram, as luzes piscam quando o gerador volta a funcionar por instantes). O detalhe é que ninguém mais vê a mulher. Quando a polícia finalmente chega, nada encontra.

A razão da manifestação sobrenatural dividiu opiniões, com merecidas críticas sobre a metáfora excessivamente explícita e falta de surpresas. De todo modo, o filme integra uma tendência recente do terror moderno de personificar problemas psicológicos, vista em predecessores mais contundentes como “Babadook” (sobre a depressão materna) e “O Homem Invisível” (sobre traumas de abuso).

 

INVENCÍVEL

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Na tradição dos dramas edificantes de fé que alcançaram popularidade nos EUA na última década, o filme narra a jornada de Austin LeRette, um garoto que nasceu com uma combinação de condições desafiadoras: ele está no espectro autista e possui osteogênese imperfeita – doença conhecida como “ossos de vidro”, que o deixa suscetível a fraturas frequentes. Apesar dessas fragilidades físicas, Austin exibe um espírito alegre e otimista que inspira todos ao seu redor. Seu pai, Scott, inicialmente luta para aceitar e entender o filho, preocupado com o futuro dele e com seus próprios fracassos pessoais. A trama acompanha a transformação de Scott de um jovem pai imaturo e cético a um homem de fé que aprende lições de amor incondicional com Austin.

Há um elemento imaginativo na narrativa: Scott conversa frequentemente com um amigo imaginário chamado Joe – uma figura cômica e meio extravagante que funciona como a consciência dele, quase um “anjo do ombro” que o aconselha. Essa escolha narrativa inusitada dá um tom fantasioso ao drama familiar. Mas, no decorrer do filme, a família enfrenta as provações típicas do gênero – hospitalizações de Austin, questões financeiras e de casamento – , para destacar a força na religião.

Jon Gunn, o diretor e roteirista, é especialista em filmes de temática cristã – como “O Caso de Cristo” (2017) e “Uma Vida de Esperança” (2024). Como de praxe neste tipo de produção “true faith”, a história é real e adapta um livro de memórias escrito pelo próprio pai do garoto retratado na trama. A produção enfrentou um longo caminho até chegar aos cinemas: filmada em 2020, teve seu lançamento adiado diversas vezes e só estreou nos EUA em fevereiro de 2025. Com Zachary Levi (conhecido por “Shazam!” e pela série “Chuck”) no papel principal do pai, e Meghann Fahy (“The White Lotus”) como a mãe, o elenco traz ainda o jovem Jacob Laval como Austin – o menino cuja resiliência dá nome ao filme – , além de contar com participações de Patricia Heaton (“Everybody Loves Raymond”) e Jackie Chan (em uma breve aparição como ele mesmo, já que o garoto é fã do astro de artes marciais).

 

COLORFUL STAGE! O FILME: UMA MIKU QUE NÃO SABE CANTAR

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A animação japonesa é o primeiro longa-metragem protagonizado pela célebre personagem virtual Hatsune Miku. Baseado no jogo musical “Hatsune Miku: Colorful Stage!”, o filme combina drama adolescente e espetáculo musical em cores vibrantes. Com produção do estúdio P.A. Works, o longa traz para as telas a experiência imersiva do jogo, incluindo suas canções e personagens queridos.

Ambientado no bairro de Shibuya, em Tóquio, o desenho acompanha cinco bandas de adolescentes que se expressam por meio da música em dimensões alternativas chamadas Sekai, onde versões virtuais de Miku e outros Vocaloids os auxiliam. A protagonista humana é Ichika, uma jovem musicista que descobre uma nova Hatsune Miku – uma versão inédita da cantora virtual – que parece incapaz de cantar e busca ajuda desesperadamente. Essa Miku “quebrada” habita um Sekai sombrio, reflexo dos sentimentos depressivos de pessoas reais que perderam a esperança em seus sonhos. Ao longo da trama, Ichika e seus amigos das cinco bandas unem forças para restaurar a voz e a confiança dessa Miku melancólica. O conflito central gira em torno de saúde mental e criatividade: os jovens enfrentam inseguranças e desânimo, e a figura de Miku materializa essas emoções. Somente ao colaborar – combinando música e amizade – eles conseguem reacender a inspiração e impedir que a escuridão do desespero consuma a todos.

Como parte da onda de adaptações de jogos e ídolos virtuais para o cinema, “Colorful Stage!” se destaca por abordar de forma sensível temas de depressão juvenil e criatividade em um contexto fantástico. A direção é de Hiroyuki Hata, conhecido por animes como “Lapis Re:Lights” (2020) e “Happy Go Lily” (2015).

 

ADEUS GAROTO

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A estreia do diretor Edgardo Pistone foi consagrada com o prêmio de Melhor Primeiro Filme no Festival de Roma e um prêmio especial de direção no Black Nights de Tallinn. Filmado inteiramente em preto e branco, o longa impressiona pela estética que remete ao cinema italiano clássico, uma escolha estilística que amplifica a intensidade universal da história, evocando comparações com o realismo poético de Antonioni, ao mesmo tempo em que lembra obras violentas como “Gomorra” pela crueza social.

A trama acompanha Attilio, um jovem de 19 anos em um bairro operário de Nápoles, que é encarregado de proteger Anastasia, uma jovem prostituta do Leste Europeu. Attilio se apaixona silenciosamente por ela, mas seu mundo desaba quando seu pai sai da prisão endividado – o que força o rapaz a escolher entre salvar o pai ou viver esse amor proibido, colocando sua liberdade e vida em risco. Ambientado no submundo do crime napolitano, o filme subverte laços familiares: o pai frágil depende do filho, e o garoto carrega um peso adulto em ombros juvenis.

Pistone escalou não-atores e até seu próprio pai, Luciano Pistone, como o pai de Attilio, imprimindo autenticidade às relações em tela. A conquista de prêmios evidenciou o talento do diretor, apontado como uma nova voz do cinema italiano.

 

VIRGINIA E ADELAIDE

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Mistura de drama histórico e relato biográfico, “Virgínia e Adelaide” traz às telas a história real de duas mulheres pioneiras da psicanálise no Brasil. Estrelado por Gabriela Correa (“O Pastor e o Guerrilheiro”) como a brasileira Virgínia Leone Bicudo e Sophie Charlotte (“Renascer”) como a alemã Adelheid (Adelaide) Koch, o longa retrata a amizade improvável que fundou a psicanálise brasileira em meio aos turbulentos anos 1930.

A psicanalista judia alemã Adelaide Koch chega a São Paulo durante o Estado Novo (quando o presidente Getúlio Vargas instaurou a ditadura), fugindo da perseguição nazista em seu país. Formada pelo círculo de Freud em Berlim, ela busca refúgio e a chance de continuar praticando a psicanálise em solo brasileiro, que ainda não tinha acesso à essa prática. No ano seguinte, ela conhece Virgínia Bicudo, uma jovem socióloga negra e de origem modesta, interessada nos mistérios da mente e que se tornaria a primeira psicanalista não-médica do Brasil. O filme narra o encontro marcante dessas duas trajetórias: Adelaide, uma médica europeia erudita lidando com o trauma do exílio; Virgínia, uma filha de um ferroviário que rompe barreiras de raça e gênero para adentrar um campo então elitista e dominado por homens brancos.

Inicialmente, Adelaide assume Virgínia como sua paciente em análise – ela a atende durante quase dez anos, num processo terapêutico crucial para que Virgínia elabore questões pessoais (incluindo o racismo sofrido e a perda precoce do pai) e se prepare para tornar-se também analista. Conforme os anos avançam, as duas se tornam colegas de trabalho e amigas íntimas por toda a vida. O roteiro enfatiza essa evolução, desde análise recriadas, com Adelaide no divã ouvindo Virgínia falar de sonhos e angústias, e cenas posteriores delas já colaborando lado a lado na fundação da Sociedade Psicanalítica de SP.

Codirigido pela jovem cineasta Yasmin Thayná (conhecida pelo curta “Kbela”) em parceria com o veterano Jorge Furtado (de “O Homem que Copiava”), o filme opta por focar na dimensão humana e afetiva dessa relação, mas não deixa de abordar de forma sutil questões maiores como racismo, antissemitismo e acesso à saúde mental. Virgínia Bicudo enfrentou preconceito duplo: por ser mulher e negra, foi barrada de ingressar na faculdade de Medicina (por isso formou-se socióloga) e, mesmo após formar-se analista, sofreu resistência do meio. Adelaide, por sua vez, escapa do Holocausto mas lida com o autoritarismo do Estado Novo – numa cena tensa, agentes de Vargas interrogam-na por suspeitarem de ligações “subversivas”, já que o regime via a psicanálise com desconfiança, por ser “ciência estrangeira”.

 

BETÂNIA

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Primeiro longa solo do diretor Marcelo Botta (“Abestalhados 2”), “Betânia” é uma parábola sobre o impacto das transformações ambientais e sociais no interior do Maranhão. A protagonista, vivida com força contida pela estreante Diana Mattos, é uma parteira idosa forçada a deixar o isolamento de seu vilarejo sem eletricidade para reencontrar os filhos na vila natal, próxima aos Lençóis Maranhenses. Entre dunas, lagoas secas e um tecido familiar em erosão, a personagem tenta preservar uma identidade em desaparecimento.

O projeto nasceu de uma pesquisa documental que Botta realizou em 2018 nos próprios Lençóis Maranhenses. Algumas cenas foram inspiradas por relatos reais de vilas soterradas pela areia. O uso ocasional do francês, presente em parte da comunidade retratada, reflete o intercâmbio linguístico pouco explorado na região, conferindo autenticidade ao retrato de um Brasil invisível no cinema comercial.

Filmado em ritmo contemplativo, o longa registra o avanço do deserto e das contradições trazidas pela modernização. A fotografia traduz esse conflito entre o orgânico e o industrial, com destaque para cenas que revelam a beleza em ruína da paisagem maranhense. O elenco, formado por atores locais e figuras da cultura popular como Tião Carvalho, reforça a imersão numa realidade que mistura afeto, memória e resistência.

Exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim e vencedor do prêmio Coup de Coeur no Cinélatino – Rencontres de Toulouse, “Betânia” também passou pelo Festival do Rio, onde recebeu um prêmio especial pela performance de Diana Mattos.

 

LISPECTORANTE

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Drama lírico brasileiro, o filme inspirado pelo universo literário de Clarice Lispector já entrega seu conteúdo pelo título – um neologismo que evoca o sobrenome da escritora e a ideia de algo “alucinante” ou “intoxicante”. Estrelado por Marcélia Cartaxo (vencedora do Urso de Prata em 1985 por “A Hora da Estrela”, uma adaptação de Clarice), “Lispectorante” acompanha Glória Hartman, uma mulher madura que enfrenta uma profunda crise existencial e financeira. Sem perspectivas na cidade grande, ela decide retornar a Recife, sua cidade natal, apenas para encontrá-la em processo de decadência e abandono.

Em meio à paisagem urbana degradada, Glória descobre, por acaso, as ruínas da casa onde viveu a escritora Clarice Lispector décadas antes (Lispector morou em Recife durante parte da infância). Nas paredes carcomidas desse sobrado antigo, há uma fenda – uma rachadura – por onde Glória começa a testemunhar cenas extraordinárias. Como se olhasse por um portal temporal ou imaginário, ela vê episódios mágicos e visões oníricas que parecem emergir dos escritos de Clarice. São flashes poéticos: uma menina solitária lendo com um buquê de estrelas ao redor (remetendo a personagens claricianos), diálogos entre pessoas que podem ou não existir, aparições de um cachorro chamado Ulisses (nome do pet de Lispector). Esses acontecimentos fantásticos, que só Glória enxerga, começam a mudar o curso de sua vida, oferecendo-lhe novas perspectivas sobre si mesma e seu passado.

Há um elemento de crítica social: a falta de políticas culturais transformaram espaços históricos em ruínas. A protagonista, outrora atriz ou artista (o filme sugere, sem didatismo, que Glória teve um passado ligado às artes), vê na decadência à sua volta um reflexo de sua própria invisibilidade enquanto mulher mais velha. Porém, as visões Clariceanas lhe devolvem a inspiração. Assim, “Lispectorante” se torna uma jornada de autodescoberta tardia e transcendência do cotidiano, muito alinhada aos temas de introspecção e epifanias presentes na obra de Clarice.

Já a encenação da diretora Renata Pinheiro (“Carro Rei”) lembra a estrutura de uma peça teatral – cenários limitados (a casa de Clarice é um palco recorrente) e foco em monólogos e diálogos introspectivos. Não por acaso, Marcélia Cartaxo tem várias cenas sozinha, narrando em voz alta pensamentos ou trechos de textos literários, como se estivesse “lendo Clarice” para a câmera.

 

INVENTÁRIO DE IMAGENS PERDIDAS

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Filmado no interior do Rio Grande do Sul durante a pandemia de covid-19 em 2021, com uma equipe reduzida e orçamento enxuto, a produção se passa em um futuro próximo, onde uma revolução fundamentalista coloca o país em guerra civil. Duas mulheres em fuga se escondem em uma casa no campo, que está povoada por memórias de um ex-cineasta, esquecido como o próprio cinema.

O filme foi dirigido e roteirizado por Gustavo Galvão (“Ainda Temos a Imensidão da Noite”) e traz Maria Galant (“A Benção”), Larissa Mauro (“A Natureza das Coisas Invisíveis”) e Roberto Oliveira (“Casa Vazia”) nos papéis principais. Exibido em diversos festivais, recebeu os prêmios de Melhor Longa-Metragem, Melhor Atriz (Maria Galant) e Melhor Montagem (Cristiane Oliveira e Tula Anagnostopoulos) no Festival de Cinema de Ribeirão Preto.

 

CRIATURAS DA MENTE

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O documentário se aventura pelos territórios do sonho, da ciência e das tradições ancestrais. Dirigido por Marcelo Gomes – cineasta pernambucano renomado por filmes como “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “Joaquim” – o longa explora de forma inventiva como os sonhos e outras formas de acesso ao inconsciente podem transformar a experiência humana.

O projeto tem como protagonista e guia o neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, um dos maiores especialistas mundiais em estudo do sono e autor do best-seller “O Oráculo da Noite”. Partindo de uma premissa quase filosófica – entender o papel dos sonhos na humanidade – Sidarta viaja por diferentes regiões e culturas, dialogando tanto com neurocientistas quanto com pajés indígenas e líderes espirituais afro-brasileiros. A ideia central é aproximar o conhecimento científico ocidental sobre o inconsciente (como a neurociência explica sonhos, memórias, etc.) dos saberes ancestrais de povos originários e culturas de matriz africana que possuem ricas tradições oníricas.

A narrativa abraça a ideia de romper com perspectivas eurocêntricas no campo científico. Assim, enquanto mostra Sidarta apresentando teorias modernas (por exemplo, que sonhar ajuda a consolidar memórias e até a planejar o futuro – hipótese defendida em seu livro), coloca isso lado a lado com a cosmovisão de um pajé que interpreta sonhos para orientar sua comunidade. Dessa comparação, emerge uma crítica construtiva: a ciência ocidental por vezes desqualificou os saberes tradicionais como “misticismo”, mas o filme sugere que integração e respeito podem gerar um conhecimento mais completo.

Marcelo Gomes apresenta esses temas complexos de forma acessível e visualmente impactante. O filme frequentemente materializa em tela os sonhos narrados, usando encenações simbólicas e animações artísticas para ilustrar conteúdos oníricos.

 

MEMÓRIAS DE UM ESCLEROSADO

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O documentário transforma em arte a experiência real do cartunista Rafael Corrêa, diagnosticado com esclerose múltipla em 2010. Codirigido por ele próprio ao lado da cineasta Thais Fernandes, a obra adota tom bem-humorado e corajoso para narrar a jornada de Rafael em busca de compreensão e aceitação da doença. Lançada no Festival Cine PE 2024, conquistou o troféu de Melhor Longa-Metragem pelo júri oficial e pelo público, além de prêmios de Roteiro, Trilha Sonora e Ator Coadjuvante para o próprio Corrêa. Também saiu laureada do tradicional Festival de Gramado 2024, conquistando Menção Honrosa e troféus de Melhor Roteiro, Montagem, Desenho de Som e Trilha na mostra de filmes gaúchos.

Um dos grandes méritos de “Memórias de um Esclerosado” é sua linguagem visual e narrativa pouco convencional. Longe de ser um doc estático, o longa é um mosaico multimídia: ao longo de 75 minutos, Rafael e Thais Fernandes costuram imagens de arquivo pessoal (filmagens caseiras, fotos de família), desenhos e tirinhas animados, colagens e sequências encenadas, tudo isso integrado ao acompanhamento da rotina atual do cartunista. Esse uso de quadrinhos e animação torna o filme dinâmico e lúdico – por exemplo, quando Rafael ilustra, em traços caricatos, as alucinações e pesadelos que teve com sapos após o diagnóstico. A montagem, premiada em Gramado, equilibra bem o tom leve e o emotivo, jamais deixando o espectador mergulhar demais na tristeza.