Micr♥soft 50 Anos – a empresa que mudou o mundo – Parte 5
Descubra como a Microsoft revolucionou o mundo da tecnologia com seus inovadores hardwares, desde o Z80 Softcard até o Xbox e os Lumias Micr♥soft 50 Anos – a empresa que mudou o mundo – Parte 5

Um amigo meu dizia que se a Microsoft só fizesse hardware, seria a empresa mais amada do planeta. Não só concordo, como vou demonstrar, neste artigo, como entre erros e acertos, ela vem criando hardwares memoráveis, desde seus primórdios.
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- Microsoft 50 Anos – a empresa que mudou o mundo – Parte 3

Sim, seria assim (Crédito: HiDream / Editoria de Arte)
1 – Z80 Softcard
Em 1980 o Apple II estava se tornando muito popular, e a Microsoft percebeu que teria problemas; eles ampliaram a oferta de seus programas, portando-o para sistemas CP/M, um sistema operacional baseado no processador Z80, mas o Apple rodava em cima do 6502, arquiteturas fundamentalmente diferentes.
Portar softwares para 6502 significava reescrever do zero, o que sairia muito caro. Paul Allen então deve uma idéia: Que tal construir uma placa que dê ao Apple II compatibilidade com o CP/M?

Z80 Softcard (Crédito: Reprodução Internet)
Assim nasceu o Softcard. Na versão original ele trazia um Z80 rodando a 2.041 MHz, o dobro do clock do Apple II. Circuitos faziam remapeamento de memória e através de magia eletrônica colocavam o Z80 para falar com o 6502. A placa era acompanhada de uma cópia do CP/M e do Microsoft BASIC. Bastava espetar a danada e seu Apple se tornava compatível com dezenas de milhares de programas CP/M.
Incluindo WordStar.
Havia bastante dúvida se o Softcard iria vender. Decidiram apresentar o produto na West Coast Computer Faire, mas só como curiosidade. Não havia nem planejamento para vender. Mesmo assim o executivo da empresa fazendo a demonstração terminou a feira com mais de 1000 cartões de visita de gente interessada no Softcard.
A Microsoft também projetou uma expansão de 16KB de memória, e mais tarde lançou uma versão para o Apple IIe que vinha com 64 KB de RAM e circuito para exibição de texto em 80 colunas.
A placa foi considerada um diferencial para a Apple, e vendeu feito água. Nos primeiros três meses foram 5.000 unidades, foi a maior fonte de renda da Microsoft em 1980, ao custo de US$ 349 (US$ 1.360 em valores de 2025) era BEM razoável, pois economizava várias placas isoladas.
Em 1982 a cada 5 computadores da Apple, um tinha uma Softcard instalada.
2 – Xbox
A ideia da Microsoft fazendo um videogame só não era mais ridícula do que a Apple criando um, mas está aí o Pippin para mostrar que coisas estranhas acontecem, e em novembro de 2001 foi lançado o Xbox.
As críticas foram pesadas; era um segmento que a empresa não tinha experiência, era um mercado já saturado, estariam traindo a PC Master Race, Sony, Nintendo, ninguém faria jogos para o Xbox...
A Microsoft lançou um hardware enxuto, poderoso, e com títulos irresistíveis, como Halo: Combat Evolved. No primeiro ano venderam 24 milhões de consoles no mundo todo, o que parece muito mas o PS2 vendeu 155 milhões. Aliás, foi até bom não terem vendido muito, a Microsoft levava prejuízo a cada venda, o valor original de US$ 299 não cobria os custos de fabricação. A empresa amargou US$ 4 bilhões de prejuízo na conta do Xbox, mas era um investimento a longo prazo.

O Xbox original e dois controles "Duke". Era elegante, de certa forma (Crédito: Jzh2074/Wikimedia Commons)
Aos poucos o Xbox foi criando seu público fiel, ma enfrentou problemas sérios, como os famigerados Três Anéis da Morte. Quando do lançamento do Xbox 360, uma quantidade anormal de consoles começou a dar defeito, e defeito sério, que nem as autorizadas conseguiam consertar.
Em sua sanha de ecochatos, a Microsoft tinha passado a usar solda sem chumbo, que não resistia muito bem às variações térmicas. A ventilação era insuficiente e os dissipadores também não eram lá essas coisas. O Xbox 360 esquentava, esfriava e acabava travando. Estima-se que até 54% das unidades vendidas tenham apresentado defeito.
É um testemunho à confiança dos usuários, a marca não ter morrido depois disso, mas hoje está todo mundo feliz com seus Xboxes de quarta geração, estabelecidos como uma das partes do diunvirato que domina o mundo dos consoles, junto com o Playstation. Ao menos no Ocidente, claro, no Japão nem sabem que Xbox existe...
3 – Mouses e Teclados
Há teclados de todas as formas, tamanhos e valores. Se você for no Ed. Avenida Central, no Centro do Rio de Janeiro, vai encontrar teclados até por R$ 14. É absolutamente surreal que alguém consiga projetar, fabricar, enviar para o outro lado do mundo e ainda ter lucro com um teclado de R$ 14. Na outra ponta, há o equivalente aos audiófilos dos teclados, que pagam R$ 5 mil em um teclado mecânico.
No meio do caminho, ficávamos tentando achar um bom teclado, experimentando nas lojas, comparando preço, aprendendo a descartar os muito xing-lings e ficar com os xing-lings de marca, como Genius, mas por muito tempo, antes da chegada dos teclados mecânicos de preço razoável, o sonho realista de consumo era um teclado da Microsoft.

Parece projetado pelo Salvador Dali, mas garanto que era confortável! (Crédito: Reprodução Internet)
Existindo de 1994 até 2019, a linha de teclados ergonômicos da Microsoft era excelente, assim como seus mouses. Não havia como errar comprando teclado e mouse da Microsoft. Infelizmente em 2023 eles encerraram essa linha de hardware...
4 – Sidewinder
Há consenso que o controle do Xbox é excelente, e ele vem de uma boa linhagem. Em 1996 a Microsoft lançou o Microsoft SideWinder Game Pad, seu primeiro controle, compatível com PCs.
Depois dele vieram dezenas de controles, pads e joysticks, incluindo o cobiçadíssimo manche Sidewinder Force Feedback 2.
Force Feedback era uma tecnologia que usava motores para simular resistência no controle. Recuperar um avião de um mergulho era mais difícil, correr em uma pista faria o controle ficar “duro” nas curvas, e tremer se passasse por estrada de paralelepípedo.
A tecnologia teve seu auge no final do Anos 90, mas o preço elevado e a dificuldade de programar o recurso em jogos foram suficientes para transformar force feedback em tecnologia de nicho. Hoje você encontra em volantes caros e manches customizados para gente que leva simulador de vôo muito a sério.
A própria Microsoft encerrou a linha Sidewinder de controles como um todo, por volta de 2002. Deixou saudades.
5 – Telefones e Tentativas
Muito antes do Lumia, a Microsoft já tinha um telefone. Foi o Microsoft Cordless Phone System, lançado em 1998, era um conjunto de telefone sem-fio com uma base com conexão para PC, que agia como central inteligente.

Já tinha visto isso? (Crédito: Reprodução Internet)
Tinha reconhecimento de voz, caixa-postal, gerenciava toda as ligações feitas e recebidas, coisa fina. Um produto bem mais caprichado que o...
Microsoft Kin
O ano era 2010. O iPhone já era uma realidade. A Microsoft, no melhor estilo do meme clássico do Steve Buscemi, resolveu investir no Jovem, sem ter a menor idéia do que estava fazendo.
Ele lançaram o Kin, um projeto que levou dois anos e custou US$ 1 bilhão, com a proposta de ser um “dispositivo” para jovens entre 15 e 30 anos, descolados antenados nas redes sociais.

Essa é você, Microsoft, essa é você (Crédito: Grok / Editoria de Arte)
Depois de lançados os dois modelos, ambos encalharam de forma assustadora. Alguns relatos dizem que no total só 500 unidades foram vendidas. O lançamento na Europa foi cancelado, e após dois meses, a Verizon parou de vender o produto.
O Kin era essencialmente bizarro, a começar pela publicidade, que vendia como principal vantagem dele... mandar nudes. Sério!
Como um telefone social, tão planejado estrategicamente, fracassou assim?
Como diz o Lito, todo desastre envolve uma cadeia de fatores, e aqui cada um é um desastre em particular.
O preço – O Kin custava US$ 50, o modelo mais barato, e US$ 100 o mais caro. Só que cada um estava atrelado a um plano de dados da Verizon, com fidelização de dois anos, e o custo mensal era de US$ 70, US$ 100 em valores de hoje. Não sei de muitos jovens com essa grana pra torrar.
A Rede – O Kin deveria ser um aparelho voltado para redes sociais, e o Twitter já existia, mas por alguma decisão insana dos responsáveis pelo produto, o Kin só atualizava os dados das redes a cada 15 minutos. Era virtualmente impossível trocar uma ideia com a mina que recebeu seus nudes.
As Apps – não havia apps fora as pré-instaladas. Em pleno 2010, o Kin não tinha como instalar programas. Você se virava com o que tinha, e não tinha muita coisa. A app de Twitter dele permita atualizar o status, mas não abria mídia nem permitia que você desse reply para outras mensagens. A App de Facebook só permitia atualizar o Status e subir fotos. A app de MSN... que app de MSN? O Kin não tinha instant messenger nenhum.

Microsoft Kin. Pra época eram bonitos! (Crédito: Roubei mesmo!)
Não havia sequer calendário ou calculadora. O Kin foi um desastre total, só não foi o maior fracasso da Microsoft por causa do...
6 – Maior fracasso da Microsoft
Quando estavam para lançar o Windows, lá nos Anos 80, perceberam que muita gente ainda tinha PCs básicos, mais ou menos como o Windows Vista, que pegou os usuários no final de um ciclo de atualização, então todo mundo tinha PCs obsoletos, mas não a ponto de justificar uma atualização.
A solução da Microsoft foi lançar a Mach 10, e depois a Mach 20, uma placa com uma CPU 80286, muito superior ao 8088 dos IBMs velhos de guerra. Ela trazia conexões para expansão de memória, e até uma porta de mouse. Qualquer PC virava um avião.

Microsoft Mach 20 (Crédito: Reprodução Internet)
Eis que resolveram tentar aproveitar o potencial da Mach 20, e criaram uma versão do OS/2 “otimizada” para rodar nela. As aspas são justificadas, a versão era totalmente bugada, performance uma piada. No final da história ele venderam ONZE cópias do O/2 para Mach 20. Oito foram devolvidas.
7 – Telefones, agora sim
Em 1996 começaram a aparecer PDAs no mercado, como o Pilot 1000, da Palm. A Microsoft percebeu que era uma fatia a explorar, e no mesmo ano anunciou o Windows CE, uma versão bem leve de seu sistema operacional, voltada para dispositivos móveis, mas não era a hora.
O hardware da época era MUITO lento, o Palm Professional vinha com 1MB de RAM e um processador de 16MHz, só funcionava por rodar aplicações MUITO enxutas (máximo de 40KB por executável).
Aos poucos a Microsoft foi melhorando o Windows CE, rebatizou-o para Pocket PC 2000 no ano 2000, e em 2003 virou Windows Mobile... 2003. (Ballmer não gastava dinheiro com marketeiros criativos)

HTC Touch. Não se engane, ele nem de longe era elegante assim, isso era só uma shell safada (Crédito: HTC)
O Windows Mobile melhorou bastante com o tempo, mas tinha suas desvantagens. A última versão, 6, foi lançada em 2007. Eu tive um HTC Touch, tenho até hoje, era um telefone minúsculo, compacto e com uma experiência Windows completa, dava até para mapear discos de rede via WIFI e abrir arquivos no Word.
O problema é que a experiência Windows completa em um celular é uma bela bosta. No Dell X51v, PDA lançado três anos antes, o Windows era mais confortável.
O Windows Mobile foi atropelado pelo iPhone, lançado no mesmo ano, e pelo Symbian, que oferecia uma experiência mais limitada, mas mais agradável. O jeito era voltar pra prancheta, e a Microsoft voltou, ah se voltou.
Mantiveram o kernel do Windows CE, e construíram em cima dele uma interface totalmente nova, chamada de Metro. O foco mudou totalmente, o Windows Mobile era todo corporativo. O Metro era para consumidor final. O principal problema do Android na época, o fato de qualquer fabricante porqueira meter Android em um hardware vagabundo, entregar uma experiência péssima e deixar o consumidor achando que só iPhone prestava, foi percebido pela Microsoft.
O Windows Phone 7, o novo sistema operacional mobile da empresa, foi projetado para fornecer a mesma experiência decente mesmo em aparelhos mais fracos, e só licenciariam para quem atingisse ao menos aquele limite.

Lumia 1020. 41 Megapixels de pura qualidade (Crédito: Nokia)
Em 2011 a Microsoft fez um acordo operacional com a Nokia, que andava mal das pernas, e lançaram a Lumia, uma linha de celulares com Windows Phone que eram finos, elegantes e sinceros. A Metro era uma interface linda e enxuta, o hardware era excelente, a câmera do Lumia 1020 é decente até hoje.
Eu nunca conheci um usuário de Lumia insatisfeito com o aparelho. O hardware estava todo lá. Em 2012 o Lumia 920 foi lançado com carregamento sem-fio. O iPhone só foi disponibilizar essa tecnologia em 2017. Só que não só de hardware se faz um telefone.
Os desenvolvedores não tinham incentivos para escrever programas para o Lumia. Já tinham que gerenciar dois ambientes distintos, iOS e Android. Os números, principalmente no mercado americano, não justificavam isso. Em 2012 o Android vendeu 105 milhões de aparelhos nos EUA. A Apple vendeu 26 milhões. Lumias? 600 mil.
Sem softwares para acessar as incessantes novidades de streaming e redes sociais, o Lumia foi deixando de ser útil. Alguns aplicativos alternativos ainda conseguiam disponibilizar acesso para Twitter e Instagram, mas era tudo meio capenga.
Em 2014 a Microsoft comprou a divisão mobile da Nokia, com a idéia de virar uma Apple, controlando toda a cadeia de produção, mas foi muito pouco, muito tarde. Dois anos depois os Lumias representavam 1% do Mercado. Os modelos 950 e 950XL ainda foram lançados em 2015, e o mais em conta 650 em 2016, mas era o fim. Em 2017 o Lumia estava morto.
Seus assassinos? Ganância (o licenciamento por aparelho custava US$ 15, contra US$ 1 do Android), arrogância (a Microsoft chegou a fazer um enterro do iPhone), e a presunção de que se construir, eles virão, afinal quem não iria querer desenvolver aplicativos para o sistema mobile da Microsoft? Developers developers developers, afinal.
Os Lumias terminaram nas gavetas, ninguém quis jogar fora, um hardware de respeito, um aparelho amado por seus usuários, morto por seus criadores.
Em 2023, Satya Nadella disse que se arrependeu de ter matado o Windows Phone. Todos concordamos, Satya.
8 – Os que quase foram
A Microsoft tem um histórico de hardwares com imenso potencial, mas que não deram certo por estarem no lugar errado na hora errada, por falta de visão de quem faz ou de quem compra, ou puro azar. Vamos a um rápido resumo:
8.1 – Microsoft Kinect
O conceito seria revolucionário hoje, imagine em 2010. Um conjunto de sensores capaz de mapear uma pessoa, identificar sua estrutura, movimentação e usar isso para controlar videogames? Excelente. Exceto que era uma forma ruim de controlar videogames, ninguém conseguiu fazer funcionar, exceto cientistas e engenheiros que compravam Kinects a preço de brinquedo, e ganhavam um sistema IR com LIDAR capaz de mapear objetos tridimensionalmente.
Até hoje o Kinect é usado em laboratórios, quando acham old new stock para vender, claro.
8.2 – Microsoft Hololens
Ao contrário do Kinect, o Hololens era uma ferramenta profissional; um headset de realidade aumentada capaz de projetar imagens tridimensionais no ar, na sua frente. Quando experimentei, me senti em Star Trek.
O potencial era usar Hololens em cirurgia, treinamentos, manutenção, inspeções. Um especialista remoto poderia linkar um Hololens ao Hololens de um operador local, ver o que ele estava vendo, e indicar como desarmar uma bomba nuclear, ou algo assim.
O custo de US$ 3.500 por unidade, e a Microsoft escolhendo quem teria o privilégio de poder comprar, não ajudou. Lançado em 2015, com uma versão 2 em 2019, em 2022 o HoloLens 3 foi cancelado, e a Microsoft basicamente parou de falar nele. Outros óculos de RA apareceram, a maioria mais baratos, mas RA/RV continua sendo a tecnologia do futuro...
8.3 – Surface Studio
A Microsoft tem uma longa história com telas de toque, desde o Windows XP Tablet Edition, em 2002, até os excelentes tablets/laptops da linha Surface, mas um dos mais lindos e elegantes produtos da empresa foi o Surface Studio, descontinuado em 2024.
Era um PC integrado com uma tela de toque, suporte a caneta e ao Microsoft Dial, um controle giratório multifuncional que era reconhecido pela própria tela.

Eu (ainda) quero! (Crédito: Microsoft)
Muita gente sem perceber fez o melhor elogia que a Microsoft poderia receber: “Parece um Mac!”
Sonho de consumo de muita gente, o Surface Studio durou até bastante, tendo sido lançado em 2016, mas como sempre, era um produto de nicho, com a versão mais barata custando o equivalente a US$4 mil em 2025.
Conclusão
Entre erros e acertos, a Microsoft fez parte de sua História com Hardware, e seja um Lumia, seja um mouse valente esperando na gaveta para ser chamado e salvar o dia, seja o controle do Xbox, que todos sabemos ser superior ao do Playstation, todo mundo tem uma memória afetiva ligada à Microsoft.
No próximo capítulo, conheceremos a fundo a história do Windows NT, quando a Microsoft aprendeu a fazer sistema operacional de gente grande.