O que é dating doomscrolling e por que isso pode atrapalhar seus relacionamentos

O termo doomscrolling surgiu por volta de 2020, no início da pandemia de covid-19, para definir a leitura compulsiva de conteúdo negativo em busca de informações importantes. O mundo dos relacionamentos também ganhou sua versão do hábito, chamado dating doomscrolling — neste caso, quando o indivíduo lê relatos sobre encontros e experiências amorosas negativas, reforçando a ideia de que o campo do amor está perdido. Doomscrolling: ler más notícias no celular sem parar pode prejudicar sua saúde Por que nosso corpo reage fisicamente às más notícias? As principais afetadas são as mulheres, por vários fatores. Em um mundo onde são ameaçadas com inseguranças e violências, a busca por algum tipo de controle é natural, e ler histórias de experiências ruins pode ajudar a evitá-las e entender os riscos aos quais se está exposta. Assim como qualquer hábito, no entanto, o problema fica no exagero, no vício de ler mais e mais relatos. O doomscrolling nos relacionamentos A abundância de relatos de dates ruins faz parecer que o cenário amoroso vai de mal a pior. Em um levantamento da revista britânica Cosmopolitan, notou-se a descrença generalizada em aplicativos de relacionamento e a grande variedade de conceitos negativos envolvendo encontros, como tipos de apego emocional a serem evitados. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- O consumo exacerbado de conteúdos ruins sobre relacionamentos pode reforçar um ciclo de negatividade e desilusão, afastando pessoas de experiências que podem ser positivas (Imagem: Daniele La Rosa Messina/Unsplash) Por um lado, compartilhar relatos e discutir a vida amorosa na internet pode ajudar a encontrar pessoas com experiências similares e trocar dicas importantes. Por outro, consumir apenas desilusões amorosas nas redes sociais, que trazem conteúdo sem fim reforçado cada vez mais pelos algoritmos, pode acabar gerando ansiedade e até sintomas depressivos. Mas a questão não é tão simples. Pode parecer que ler histórias ruins só faz mal, mas ter as experiências validadas em um ambiente que concorda com nosso ponto de vista sobre as dificuldades do mundo amoroso atual traz dopamina. Isso torna o hábito difícil de largar, e gera o paradoxo do tipo “o ovo ou a galinha”: o pessimismo com o cenário de dates vem do fato dele estar realmente ruim ou ele está ruim por já estarmos entrando em encontros com pessimismo? Um estudo da Faculdade de Medicina de Harvard, publicado em setembro de 2024, notou que mulheres e pessoas com histórico de trauma estão mais vulneráveis ao doomscrolling. Isso se dá pela maior insegurança frente às ameaças e violências vividas na sociedade, e tem um agravante: a maioria dos conteúdos negativos nas redes envolve mulheres ou crianças, reforçando o ciclo. Uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, também do ano passado, aponta que o instinto de buscar a opinião de terceiros na internet é gerado por situações de incerteza, muito comuns no início de relacionamentos. O uso das redes, mesmo quando negativo, gera dopamina por meio dos circuitos de recompensa — é muito difícil largar o hábito por conta disso (Imagem: Rawpixel/Envato) Com um ambiente tão negativo, é gerado um ciclo afetivo, segundo os cientistas, fazendo o sujeito ficar com uma sensação ruim sobre o potencial parceiro. Com isso, vem o uso de mídias sociais para se distrair, seguido de culpa e frustração, geralmente pelo consumo de conteúdo irrelevante. A partir daí, o ciclo recomeça, e pode levar ao fim dos dates sem mesmo terem ido longe. Como superar o problema? Como se trata de um hábito, o doomscrolling é melhor tratado na raiz. A clínica americana Magellan Federal, sabendo que o mundo das mídias sociais apenas reforça o consumo dos mesmos conteúdos através dos algoritmos, dá algumas dicas para romper o ciclo e buscar atividades mais saudáveis, que podem melhorar inclusive os relacionamentos: Evite conteúdo ruim: quando ver um conteúdo negativo que você prefere evitar, use as ferramentas das redes sociais para esconder a postagem ou mutar a conta em questão, reforçando ao algoritmo que você não quer ver aquilo; Limite seu tempo: reduza seu tempo online com ferramentas do próprio smartphone para não ficar nas redes por mais de 30 minutos seguidos — mais do que isso está associado a altos níveis de ansiedade; Navegue com propósito: quando estiver nas redes buscando saber mais sobre algo, estabeleça uma meta e cumpra-a — isso vai ajudar a ficar menos tempo online e ainda pode criar uma sensação de conquista do objetivo; Reduza as cores: aplicativos costumam usar cores para chamar a atenção, uma armadilha psicológica efetiva. Mudar as configurações para escala de cinza pode deixar as redes mais monótonas e menos atrativas; Busque conexões: não esqueça que há um mundo além da internet. Compartilhe seus problemas com amigos e familiares — isso comprovadamente reduz a a

Mai 4, 2025 - 19:30
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O que é dating doomscrolling e por que isso pode atrapalhar seus relacionamentos

O termo doomscrolling surgiu por volta de 2020, no início da pandemia de covid-19, para definir a leitura compulsiva de conteúdo negativo em busca de informações importantes. O mundo dos relacionamentos também ganhou sua versão do hábito, chamado dating doomscrolling — neste caso, quando o indivíduo lê relatos sobre encontros e experiências amorosas negativas, reforçando a ideia de que o campo do amor está perdido.

As principais afetadas são as mulheres, por vários fatores. Em um mundo onde são ameaçadas com inseguranças e violências, a busca por algum tipo de controle é natural, e ler histórias de experiências ruins pode ajudar a evitá-las e entender os riscos aos quais se está exposta. Assim como qualquer hábito, no entanto, o problema fica no exagero, no vício de ler mais e mais relatos.

O doomscrolling nos relacionamentos

A abundância de relatos de dates ruins faz parecer que o cenário amoroso vai de mal a pior. Em um levantamento da revista britânica Cosmopolitan, notou-se a descrença generalizada em aplicativos de relacionamento e a grande variedade de conceitos negativos envolvendo encontros, como tipos de apego emocional a serem evitados.

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O consumo exacerbado de conteúdos ruins sobre relacionamentos pode reforçar um ciclo de negatividade e desilusão, afastando pessoas de experiências que podem ser positivas (Imagem: Daniele La Rosa Messina/Unsplash)
O consumo exacerbado de conteúdos ruins sobre relacionamentos pode reforçar um ciclo de negatividade e desilusão, afastando pessoas de experiências que podem ser positivas (Imagem: Daniele La Rosa Messina/Unsplash)

Por um lado, compartilhar relatos e discutir a vida amorosa na internet pode ajudar a encontrar pessoas com experiências similares e trocar dicas importantes. Por outro, consumir apenas desilusões amorosas nas redes sociais, que trazem conteúdo sem fim reforçado cada vez mais pelos algoritmos, pode acabar gerando ansiedade e até sintomas depressivos.

Mas a questão não é tão simples. Pode parecer que ler histórias ruins só faz mal, mas ter as experiências validadas em um ambiente que concorda com nosso ponto de vista sobre as dificuldades do mundo amoroso atual traz dopamina. Isso torna o hábito difícil de largar, e gera o paradoxo do tipo “o ovo ou a galinha”: o pessimismo com o cenário de dates vem do fato dele estar realmente ruim ou ele está ruim por já estarmos entrando em encontros com pessimismo?

Um estudo da Faculdade de Medicina de Harvard, publicado em setembro de 2024, notou que mulheres e pessoas com histórico de trauma estão mais vulneráveis ao doomscrolling. Isso se dá pela maior insegurança frente às ameaças e violências vividas na sociedade, e tem um agravante: a maioria dos conteúdos negativos nas redes envolve mulheres ou crianças, reforçando o ciclo.

Uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, também do ano passado, aponta que o instinto de buscar a opinião de terceiros na internet é gerado por situações de incerteza, muito comuns no início de relacionamentos.

O uso das redes, mesmo quando negativo, gera dopamina por meio dos circuitos de recompensa — é muito difícil largar o hábito por conta disso (Imagem: Rawpixel/Envato)
O uso das redes, mesmo quando negativo, gera dopamina por meio dos circuitos de recompensa — é muito difícil largar o hábito por conta disso (Imagem: Rawpixel/Envato)

Com um ambiente tão negativo, é gerado um ciclo afetivo, segundo os cientistas, fazendo o sujeito ficar com uma sensação ruim sobre o potencial parceiro. Com isso, vem o uso de mídias sociais para se distrair, seguido de culpa e frustração, geralmente pelo consumo de conteúdo irrelevante. A partir daí, o ciclo recomeça, e pode levar ao fim dos dates sem mesmo terem ido longe.

Como superar o problema?

Como se trata de um hábito, o doomscrolling é melhor tratado na raiz. A clínica americana Magellan Federal, sabendo que o mundo das mídias sociais apenas reforça o consumo dos mesmos conteúdos através dos algoritmos, dá algumas dicas para romper o ciclo e buscar atividades mais saudáveis, que podem melhorar inclusive os relacionamentos:

  • Evite conteúdo ruim: quando ver um conteúdo negativo que você prefere evitar, use as ferramentas das redes sociais para esconder a postagem ou mutar a conta em questão, reforçando ao algoritmo que você não quer ver aquilo;
  • Limite seu tempo: reduza seu tempo online com ferramentas do próprio smartphone para não ficar nas redes por mais de 30 minutos seguidos — mais do que isso está associado a altos níveis de ansiedade;
  • Navegue com propósito: quando estiver nas redes buscando saber mais sobre algo, estabeleça uma meta e cumpra-a — isso vai ajudar a ficar menos tempo online e ainda pode criar uma sensação de conquista do objetivo;
  • Reduza as cores: aplicativos costumam usar cores para chamar a atenção, uma armadilha psicológica efetiva. Mudar as configurações para escala de cinza pode deixar as redes mais monótonas e menos atrativas;
  • Busque conexões: não esqueça que há um mundo além da internet. Compartilhe seus problemas com amigos e familiares — isso comprovadamente reduz a ansiedade e ajuda a rever prioridades, melhorando a vida para além do aspecto amoroso.

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