Mais de 5 mil ribeirinhos estão em risco por erosão e assoreamento de rios

Desastres impactam os modos de vida ribeirinhos e podem trazer prejuízos à segurança alimentar e de saúde das populações

Fev 20, 2025 - 11:53
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Mais de 5 mil ribeirinhos estão em risco por erosão e assoreamento de rios

Mais de cinco mil ribeirinhos — famílias que vivem nas margens dos rios — da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, estão em situação de risco devido à erosão e ao acúmulo de sedimentos nos rios. O alerta consta no estudo liderado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em colaboração com as universidades de Brasília (UnB), do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e de Toulouse, na França, publicado nesta quinta-feira (20/2).

A erosão está relacionada à remoção de sedimentos por desgaste causado pelas variações no nível da água ao longo do ano. Já o assoreamento, também chamado de "terra caída" pela população local, se refere à deposição de sedimentos no leito e nas margens do rio, o que pode alterar o curso dele.

Enquanto terras caídas destroem construções e territórios, o assoreamento cria obstáculos para o acesso da população ao rio, dificultando a locomoção e o acesso a serviços e alimentos. Os impactos são agravados em períodos de diminuição do nível das águas, como durante a seca prolongada que afetou a Amazônia em 2023 e 2024.

A partir de informações de satélite, os pesquisadores consideraram os dados de água na superfície relativos ao período de 1986 a 2021 e combinaram os resultados a informações socioeconômicas da região para mapear o risco de 51 comunidades na região da Amazônia Central. Destas, pelo menos quatro estão sob risco muito alto (comunidades de Santa Domícia, Canariá, Boiador e Acapuri de Baixo) e sete estão sob risco considerado alto (Barroso, Porto Braga, Punã, Ingá, São Raimundo do Panauã, Triunfo e Caburini).

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá abriga cerca de 11 mil pessoas. Ayan Santos Fleischmann, pesquisador do Instituto Mamirauá e um dos autores do estudo, frisa que os ribeirinhos que moram ao longo do rio Solimões estão sujeitos a uma paisagem que muda constantemente.

"O rio migra, e essas migrações não vêm sem risco. Quando o rio migra, de um lado a terra erode. E isso gera impactos enormes. Destrói casas e comunidades inteiras, causando até morte. Essa terra que cai também se deposita em outras partes do rio, formando praias extensas. Em uma seca severa, esses bancos de areia se tornam um fator de perigo grande, porque isolam ainda mais essas comunidades", cita Ayan.

O pesquisador aponta que, além de alertar sobre o fato de que os ribeirinhos estão em risco, o estudo também tem o objetivo de subsidiar políticas públicas. "Pode auxiliar os tomadores de decisão a pensarem como investir, onde apoiar com ações de Defesa Civil ou mitigação de riscos", diz.

Ayan ainda ressalta que a erosão e a sedimentação é um processo natural, especialmente os rios com muito sedimentos, como o Solimões e o Purus, na Amazônia. Nesse sentido, a população se adaptou ao longo do tempo para migrar. "Cerca de 20% das comunidades analisadas já migraram. Mas isso não é suficiente", afirma.

O pesquisador defende a importância de medidas preparatórias para mapear as áreas em risco previamente. "Uma coisa que nós vemos é que a população costuma construir casas em madeira, porque assim pode mudar de lugar mais mais fácil", pontua o pesquisador.

Vulnerabilidade de uma grande comunidade

A maior distância até os serviços disponíveis nos centros urbanos, a ausência de estruturas de organização social e a falta de experiências prévias com desastres do tipo são fatores que aumentam a vulnerabilidade dos ribeirinhos.

O pesquisador André Zumak, do Instituto Mamirauá, destaca que as condições analisadas podem impactar a qualidade de vida dos povos tradicionais da região. Além de ficarem isolados devido à baixa do nível dos rios, eles podem sofrer com insegurança alimentar por causa das mudanças no solo.

“As secas extremas dificultam a mobilidade dessas comunidades que residem ao longo das margens dos rios. A exposição de algumas áreas durante a seca registrada em 2024, por exemplo, proporcionou eventos chamados de terras caídas, com mortes, inclusive. Isto é uma relação direta com as mudanças climáticas, mas são necessários mais estudos para entender melhor esta relação”, explica André Zumak.

Quem são os ribeirinhos?

Ribeirinhos são famílias que vivem nas margens dos rios. A pesca é uma atividade central dessa população. "O rio é desde meio de transporte até fonte de vida. Essas comunidades tem uma relação tanto material quanto simbólica com o rio. No entanto, vivem entre o rio e as florestas ou as matas, vivendo também da roça, do extrativismo e da caça. Assim o mundo das águas e da terra estão presentes na vida dessas comunidades", destaca o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

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