E se a cura do câncer pudesse custar 99% menos na China?
Startups de biotecnologia chinesas estão desafiando as gigantes farmacêuticas ocidentais – e podem sair vitoriosas. Há uma década, tratar o câncer com vacinas personalizadas de mRNA parecia um investimento de US$ 1 milhão por paciente, uma terapia reservada aos ultra-ricos. Mas as empresas chinesas de biotecnologia buscam mudar esse cenário, desenvolvendo terapias contra o câncer […] O post E se a cura do câncer pudesse custar 99% menos na China? apareceu primeiro em O Cafezinho.

Startups de biotecnologia chinesas estão desafiando as gigantes farmacêuticas ocidentais – e podem sair vitoriosas.
Há uma década, tratar o câncer com vacinas personalizadas de mRNA parecia um investimento de US$ 1 milhão por paciente, uma terapia reservada aos ultra-ricos.
Mas as empresas chinesas de biotecnologia buscam mudar esse cenário, desenvolvendo terapias contra o câncer por uma fração do custo e competindo diretamente com as farmacêuticas ocidentais.
A Likang Life Sciences, sediada em Pequim, é uma dessas empresas. No final de fevereiro, a Likang recebeu aprovação da FDA (agência reguladora dos EUA) para iniciar testes clínicos em humanos de sua vacina de mRNA contra o câncer, a injeção LK101, tornando-se o primeiro produto chinês do tipo a alcançar essa etapa.
Chen Li, fundador da empresa, afirmou que não pode revelar o preço exato do produto, pois ainda não está em fase comercial, mas confirmou que será “significativamente menor” que o das concorrentes ocidentais.
Os preços desses medicamentos na China podem cair “exponencialmente”, disse Cheng Xudong, fundador da ZSky, outra startup de biotecnologia de Pequim que também trabalha com vacinas personalizadas contra o câncer e avança em ritmo semelhante ao da Likang.
Com base nos custos atuais de produção na fase de pesquisa clínica, Cheng estima que o tratamento de seis doses de sua vacina custará menos de 100 mil yuans (US$ 13,8 mil), incluindo matérias-primas, insumos e mão de obra.
Neeha Zaidi, especialista em câncer de pâncreas da Universidade Johns Hopkins, destacou em 2023 que o custo é uma barreira para o acesso amplo a essas vacinas. Já Ugur Sahin, cofundador da BioNTech, afirmou que a empresa reduziu o custo por dose de US$ 350 mil para menos de US$ 100 mil com automação.
Ainda assim, o tratamento completo pode ultrapassar US$ 1 milhão. Derek Lowe, químico medicinal, escreveu em 2023 que os valores podem cair mais, mas dificilmente serão “baratos”.
Como funcionam as vacinas
Essas vacinas estimulam o sistema imunológico do paciente, ensinando o corpo a reconhecer e atacar células cancerígenas. Diferente de medicamentos tradicionais, elas são personalizadas com base no perfil de neoantígenos de cada paciente, proteínas mutantes exclusivas das células tumorais.
Cheng, da ZSky, explicou que a redução de custos na China se deve a diferenças tecnológicas. Enquanto empresas como Moderna e BioNTech usam mRNA diretamente, as chinesas convertem neoantígenos em células dendríticas (DC) para entrega do medicamento, um processo mais simples e barato.
Além disso, os custos de pesquisa e desenvolvimento na China são menores, com mão de obra e infraestrutura mais acessíveis, população ampla para testes e regulamentação ágil.
A jornada de Chen Li
A motivação de Chen veio de sua experiência pessoal. Em 2016, sua mãe foi diagnosticada com câncer de ovário. Na época, ele era estudante de doutorado e decidiu explorar vacinas contra o câncer.
Sua ideia era usar sequenciamento genético e algoritmos de IA para identificar mutações tumorais e desenvolver vacinas personalizadas. Mas, na época, nenhuma empresa chinesa tinha essa capacidade.
Em 2017, ele fundou a Likang, mesmo ano em que a Nature publicou estudos promissores sobre vacinas de mRNA. Desde então, as startups chinesas aceleraram seus desenvolvimentos.
Perspectivas futuras
Ambas as empresas, Likang e ZSky, já iniciaram testes clínicos na China. Cheng acredita que a China pode aprovar suas vacinas até 2027, competindo com Moderna e BioNTech.
Um teste da Likang com 24 pacientes de câncer de fígado mostrou taxa de sobrevivência de 100% após cinco anos no grupo tratado. Agora, a empresa prepara a fase 2 dos testes.
“Temos recursos clínicos abundantes, testes mais rápidos e baratos. Precisamos gerar evidências sólidas antes de ir para o mercado global”, disse Chen.
Autor: Dannie Peng
Biografia: Dannie Peng ingressou no SCMP em 2023, cobrindo ciência na China, com foco em avanços científicos e impactos sociais. Anteriormente, trabalhou na China Newsweek, onde ganhou prêmios por reportagens investigativas.
Data de publicação: 29 de março de 2025
Fonte: SCMP
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