Indaqua vende primeiros créditos de água através de blockchain

A Indaqua vendeu a primeira centena de créditos de água através da tecnologia blockchain por aproximadamente 400 euros. A empresa portuguesa de abastecimento de água e tratamento de águas residuais emitiu 122 créditos em dois dias, correspondentes a 122 m3 de água reutilizada, que estão no mercado a valer cerca de 3,50 dólares (3,23 euros). […]

Mar 29, 2025 - 15:42
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Indaqua vende primeiros créditos de água através de blockchain

A Indaqua vendeu a primeira centena de créditos de água através da tecnologia blockchain por aproximadamente 400 euros. A empresa portuguesa de abastecimento de água e tratamento de águas residuais emitiu 122 créditos em dois dias, correspondentes a 122 m3 de água reutilizada, que estão no mercado a valer cerca de 3,50 dólares (3,23 euros).

Em causa estão créditos para empresas que não estão a conseguir reduzir o consumo de água e pretendem adquiri-los para compensar e reduzir a pegada hídrica. Ou seja, semelhantes aos créditos de carbono, que são utilizados para compensar emissões de gases com efeito de estufa.

Onde é que entra aqui a tecnologia? É possível transacionar esses ativos online como se de uma moeda virtual se tratasse. Neste caso, o recurso à blockchain (tecnologia descentralizada) deveu-se a uma parceria entre a Indaqua e a empresa suíça Hypercube, especializada em finanças regenerativas (modelos de investimento e gestão financeira amigos do ambiente).

Através de um projeto conjunto pioneiro em Portugal, as águas residuais reutilizadas na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Matosinhos – que chega até aos 90 metros cúbicos (m3) por dia – estão a ser convertidas em créditos hídricos tokenizados (digitais).

Na prática, por cada m3 de água reutilizada na ETAR é evitado o respetivo consumo de água da rede pública. A partir daí, é gerado um crédito tokenizado pela tecnologia da Hypercube e depois é comercializado para que possam reinvestir em tecnologia, infraestruturas, equipamentos e melhoria de processos.

É um negócio que faz mais sentido para indústrias consumidoras intensivas de água, entre as quais se encontram a agropecuária ou a têxtil. “A nível global, existem, inclusivamente, empresas que ambicionam ser water positive, isto é, recuperar mais água do que aquela que consomem. Para eles, este mercado pode ser essencial”, refere a Indaqua.

“Este processo tem vantagens para ambas as partes. Para quem compra créditos de água, há uma forma efetiva de contribuir para a melhoria ambiental, com investimentos na infraestrutura hídrica de Portugal, ao utilizar os créditos hídricos como uma forma transparente de compensação ambiental”, afirma Matheus Ferreira, responsável da Hypercube para os países da CPLP.

“Para as empresas de saneamento, por outro lado, há o reconhecimento das suas boas práticas ambientais e um incentivo económico adicional para reutilizar a água e expandir as operações de águas residuais”, acrescenta Matheus Ferreira.

A Hypercube contabiliza vendas de créditos hídricos no valor de 65 milhões de euros para reutilização de águas residuais, dessalinização, armazenamento de água da chuva e/ou extração de água da humidade do ar. Para a fintech suíça, esta entrada em Portugal é uma rampa de lançamento para o Brasil, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e outros países de língua portuguesa que estão a trabalhar na adoção do crédito hídrico.

O CEO do grupo Indaqua considera que “este sistema responde àquele que tem sido um dos desafios centrais: fazer com que os serviços e água e saneamento deixem de ser apenas consumidores de recursos e passem a gerar valor”.

“Na nossa sociedade, o recurso água é muito desvalorizado”, alerta Pedro Perdigão. A empresa com sede em Matosinhos – que no mês passado comprou a concorrente espanhola Hidrogéstion a uma filial da Vinci – planeia expandir este modelo a outras ETAR na região norte.