Mais da metade dos brasileiros não busca atenção primária à saúde, diz estudo

Superlotação, demora no atendimento e burocracia estão entre os principais motivos apontados pela população para a desistência

Abr 25, 2025 - 15:33
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Mais da metade dos brasileiros não busca atenção primária à saúde, diz estudo

Mais da metade dos brasileiros que precisaram de atendimento médico na Atenção Primária à Saúde (APS) no último ano não procurou ajuda. É o que mostra nesta sexta-feira (25/4) um levantamento inédito do estudo Mais Dados Mais Saúde, realizado pela organização Vital Strategies e pela Umane, com parceria técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e apoio do Instituto Devive e da Resolve to Save Lives.

Segundo a pesquisa, 62,3% dos entrevistados relataram necessidade de atendimento em unidades básicas de saúde, públicas ou privadas, mas não buscaram o serviço. O estudo ouviu 2.458 brasileiros maiores de 18 anos, de todas as regiões do país, entre agosto e setembro de 2024.

Entre os principais motivos para a desistência estão a superlotação e a demora no atendimento (46,9%), a burocracia no processo de encaminhamento (39,2%), o hábito de automedicação (35,1%) e a percepção de que o problema de saúde não era grave (34,6%).

O Ministério da Saúde define a APS como o primeiro nível de atenção em saúde, caracterizado por um conjunto de ações de âmbito individual e coletivo, tendo como missão oferecer ações de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. 

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Para especialistas envolvidos no estudo, os dados reforçam a necessidade de aprimorar o sistema de saúde. “Como porta de entrada do SUS e em seu papel de ordenadora do cuidado, a Atenção Primária à Saúde deve estar organizada de modo a garantir que a maioria das questões de saúde da população sejam preveníveis e tratáveis, sem que evoluam para quadros mais complexos”, avalia Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane.

Além da desistência de buscar atendimento, o levantamento também apontou que 40,5% dos participantes tentaram se consultar nos últimos 12 meses, mas não conseguiram. Entre os principais obstáculos estão tempo de espera excessivo (62,1%), falta de equipamentos (34,4%), ausência de profissionais adequados (30,5%) e baixa atenção recebida durante o atendimento (29%).

Percepção da qualidade

A pesquisa investigou ainda a percepção dos usuários sobre a última consulta realizada, seja na rede pública ou privada. Em geral, os índices de avaliação foram positivos em seis dos oito itens analisados. O respeito à privacidade e à confidencialidade liderou entre os aspectos mais bem avaliados, com 79,2% de respostas regulares ou muito boas. Também se destacaram a clareza nas explicações (75,1%) e a confiança no profissional de saúde (67,8%).

Entretanto, o tempo de espera e a facilidade de encaminhamento ainda são os principais pontos negativos, com avaliações insatisfatórias de 57,6% e 51,5% dos respondentes, respectivamente.

“Esses achados sugerem que, embora a maioria dos usuários do sistema de saúde público e privado relate experiências positivas em suas consultas, persistem desafios importantes e estruturais que dificultam o acesso e a qualidade da Atenção Primária à Saúde”, avalia Luciana Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.

Metodologia

A coleta de dados foi realizada de forma on-line, por meio de anúncios na internet. A metodologia permitiu reunir uma amostra nacional de forma ágil, com baixo custo e em apenas 14 dias. De acordo com Pedro de Paula, diretor executivo da Vital Strategies, esse formato pode ser replicado em futuras pesquisas, especialmente em contextos emergenciais.

“Essa nova metodologia será fundamental para análise de questões relevantes da saúde pública em menor intervalo de tempo, como em casos de epidemias, oferecendo insumos valiosos para decisões e fortalecimento de políticas públicas”, afirma o diretor.

*Estagiária sob supervisão de Andreia Castro