Há investidores portugueses a pré-reservar vinho de luxo por mil euros. E vão a Toscana provar

O tema tem sido controverso, mas há cada vez mais “excêntricos” em Portugal a pagar valores exorbitantes por uma garrafa de vinho que esgota em três tempos. Ou a comprar às cegas em pré-reserva, a mil euros a garrafa, o quarto néctar da série limitada “Vinhos do Outro Mundo”, que o empresário Cláudio Martins vai […]

Mai 11, 2025 - 17:48
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Há investidores portugueses a pré-reservar vinho de luxo por mil euros. E vão a Toscana provar

Cláudio Martins, mentor do projeto “Vinhos do Outro Mundo”10 maio, 2025

O tema tem sido controverso, mas há cada vez mais “excêntricos” em Portugal a pagar valores exorbitantes por uma garrafa de vinho que esgota em três tempos. Ou a comprar às cegas em pré-reserva, a mil euros a garrafa, o quarto néctar da série limitada “Vinhos do Outro Mundo”, que o empresário Cláudio Martins vai lançar a 26 de junho em Toscana, Itália, em parceria com um produtor local, conta o português em primeira mão ao ECO. Já venderam 80 das 600 garrafas deste tinto cujo nome e características do planeta só serão desvendados na altura.

Já não é a primeira vez que investidores portugueses fazem uma pré-reserva de um dos “Vinhos do Outro Mundo” — Wines From Another World –, cada um deles com o nome de um planeta. Dão-se ao luxo de pagar bem pela excentricidade sem sequer a provar antes ou conhecer se é tinto, branco ou feito a partir de que casta. Aconteceu corria o ano de 2023 com o branco “Saturn”, o terceiro desta série e produzido na famosa região vitivinícola Mosel (Alemanha).

Ainda o néctar, de casta Riesling, não tinha sido lançado e já Cláudio Martins e o produtor alemão Ernest Loosen tinham vendido a investidores portugueses meia centena de garrafas a 750 euros cada, menos 150 do que os 900 euros praticados depois. Seguem-se outras novidades da coleção de Vinhos do Outro Mundo, tantos quantos os planetas do sistema solar, produzidos nas regiões de Bordéus, Champagne, Toscana — será o próximo a 1.100 euros a garrafa e menos 100 em pré-reserva –, Napa Valley, Mosel, Geórgia e o Douro. Mas já lá vamos.

Portugal produz vinhos do mesmo calibre que os grandes de Priorat, Napa Valley, da Toscana ou da Rioja, mas continuamos sem os valorizar devidamente.

Cláudio Martins

Consultor de vinhos e empresário

Estes produtos de luxo chegam a ser tão cobiçados ao ponto de os colecionadores os revenderem por mais do dobro do preço que compraram, como já aconteceu com o tinto “Júpiter”, o primeiro desta série que, em 2021, Cláudio Martins lançou, a 1.000 euros a garrafa, em parceria com produtor Pedro Ribeiro, da Herdade do Rocim, no Alentejo. Os 800 exemplares produzidos em terroir alentejano conquistaram o palato de gente rica e esgotaram num instante. Ainda hoje há investidores a revenderem uma garrafa “a 2.000 ou 2.500 euros. Os preços dispararam”, assinala empresário da Martins Wine Advisor em conversa com o ECO.

Por ocasião do lançamento, este néctar tinto ainda gerou algum alarido no meio vinícola nacional. “O Júpiter causou tanto desconforto quanto conforto, pois passados quatro anos já há vários produtores a fazerem exatamente o mesmo que nós”, nota, entre risos, o consultor de vinhos e também embaixador de Liber Pater, do produtor francês Loïc Pasquet, com um exemplar de uma garrafa a 1,5 milhões de euros.

O empresário, que se apaixonou pelo mundo vinícola, quando, na juventude trocou a Serra da Estrela por Londres, em Inglaterra, admite que quis “agitar as águas” ao vender o “Júpiter” a 1.000 euros, valorizando a qualidade do vinho português, com personalidade e uma narrativa por trás da vinha e da casta.

Quis colocar os néctares portugueses no mapa mundial no mesmo patamar que tantos outros produzidos em regiões vinícolas de renome. “Portugal produz vinhos do mesmo calibre que os grandes de Priorat, Napa Valley, da Toscana ou da Rioja, mas continuamos sem os valorizar devidamente.”

Vinha em Toscana (Itália)10 maio, 2025

Olhando para trás e conhecedor do circuito internacional do vinho, Cláudio Martins não tem dúvidas que até teve uma atitude “arrojada” nessa altura. “Arriscámos para posicionar o vinho português como um produto de luxo”, lembra, contando que a ideia inicial sempre foi “lançar mais Vinhos do Outro Mundo com nomes de planetas das regiões de Bordéus, Champagne, Toscana, Napa Valley, Mosel, Geórgia e o Douro.

“Estes nove vinhos tornar-se-ão rapidamente alguns dos mais cobiçados nas próximas décadas e, logicamente, o seu valor aumentará exponencialmente durante esse período”, crê Cláudio Martins que desde a primeira hora contou com a criatividade de Pedro Antunes, da Sparrow Creative Solutions.

Na mira está ainda o lançamento de um segundo vinho em parceria com um produtor português, produzido em terroir lusitano, mas desta vez será “um fortificado com o nome uma constelação ou de uma galáxia ou de um meteorito”, desvenda ao ECO o consultor.

Lançamento do vinho Saturn, de 900 euros a garrafa

Igualmente o segundo vinho desta coleção, o “Uranus”, que foi lançado em 2022, em Madrid (Espanha), a 1.700 euros a garrafa, colheu boa aceitação no mercado. Com edição limitada de 500 garrafas, este vinho da colheita de 2021, produzido em vinhas velhas com 75 anos, resultou de uma parceria de Cláudio Martins com o produtor espanhol Dominik Huber, da Terroir al Limit, da região de Priorat, Catalunha. Restam apenas 100 garrafas de 0,75 litros.

Mantido em total secretismo, o novo “planeta”, um tinto de 75 litros, será apresentado a 26 de junho, em Toscana, durante uma iniciativa apenas reservada aos membros do Clube Wines From Another World , criado em 2021, com o lançamento do alentejano Júpiter.

Os membros — cujos nomes são mantidos em sigilo — já ficaram recentemente a conhecer, durante um jantar privado, a data e o local do próximo lançamento e até fizeram uma pré-reserva a 1.000 euros a garrafa que depois ficará por 1.110 euros. “Temos uma pré-reserva de 80 das 600 garrafas”, conta.

Cláudio Martins explica que “para fazer parte deste grupo, não basta apenas adquirir uma ou mais garrafas. É essencial registar o código que acompanha cada garrafa para receber todas as informações” e vivenciar toda a experiência.

Controvérsias à parte, se havia dúvidas se em Portugal existe mercado e uma cada vez maior procura de investidores por estes vinhos de luxo e raros, elas foram-se desvanecendo nestes últimos anos e apesar do contexto económico que se vive.

“Vinhos do Outro Mundo”