Galípolo conversa com Pedro Malan, que alerta: “o mundo está mais perigoso”
“O mundo ficou mais incerto e mais perigoso. Isso coloca grandes novas questões, inclusive para atividades dos bancos centrais”, alertou Pedro Malan. Em tom grave, o ex-presidente do Banco Central afirmou que a nova era de mudanças vertiginosas — com o avanço da inteligência artificial e transformações globais imprevisíveis — exige novas respostas das autoridades […] O post Galípolo conversa com Pedro Malan, que alerta: “o mundo está mais perigoso” apareceu primeiro em O Cafezinho.

“O mundo ficou mais incerto e mais perigoso. Isso coloca grandes novas questões, inclusive para atividades dos bancos centrais”, alertou Pedro Malan. Em tom grave, o ex-presidente do Banco Central afirmou que a nova era de mudanças vertiginosas — com o avanço da inteligência artificial e transformações globais imprevisíveis — exige novas respostas das autoridades monetárias.
Malan participou do terceiro episódio da série “Conversas Presidenciais”, promovida pelo Banco Central do Brasil e gravada em 17 de abril de 2025. No encontro, conduzido pelo atual presidente da instituição, Gabriel Galípolo, ele também reconstituiu momentos-chave da criação do Plano Real, revelando bastidores tensos e decisões arriscadas em meio à hiperinflação.
Logo no início da entrevista, Malan explicou que seu ingresso no Banco Central em 1993 não foi um convite, mas uma “convocação”. Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, determinou que o mercado não poderia abrir na segunda-feira sem um novo presidente do BC. “Achei que seria óbvio que o escolhido fosse o André Lara Resende”, relembra Malan. No fim do jantar, era ele quem aceitava a missão.
O contexto era de desesperança: o Brasil figurava entre os poucos países com inflação acima de 1.000% ao ano — junto de países como Rússia e Congo, em meio à guerra civil. Em 1993, a inflação brasileira beirava os 2.400%. “Tinha gente que achava que o melhor era deixar o barco correr até a eleição de 1994”, lembra Malan. Para ele, esperar seria uma aposta suicida.
Com o desafio à frente, a estratégia passou a ser construir um núcleo duro dentro do governo. “Trouxemos André Lara Resende e, depois, Persio Arida. Eles se juntaram a Gustavo Franco, Winston Fritsch, Edmar Bacha e Murilo Portugal”, disse Malan. “Criamos uma massa crítica. E o essencial: tínhamos a liderança política do Fernando Henrique Cardoso, com respaldo do Itamar Franco.”
Malan revelou que a equipe não tinha certeza absoluta do sucesso do plano. Havia um roteiro — o Programa de Ação Imediata, lançado em junho de 1993, e depois a criação da Unidade Real de Valor (URV) —, mas também muitos riscos. “Era tudo uma grande aposta. Como em tudo na vida.”
O ex-presidente do BC destacou dois momentos críticos: a assinatura da Medida Provisória que criou a URV, em março de 1994, e depois a transição da URV para o real, em julho. Em ambos, o governo Itamar quase recuou, pressionado por críticas internas e externas. “Nada acontece no Brasil se o presidente não põe sua assinatura”, disse Malan.
Durante o bate-papo, Malan explicou também a importância das decisões cambiais. A opção foi deixar o real flutuar frente ao dólar, contrariando a expectativa de uma paridade fixa e recusando a dolarização da economia, como queriam alguns. “Foi um acerto”, afirmou. Ele lembrou que, mesmo com a crise do México em 1994, o real resistiu.
Sem o Comitê de Política Monetária (Copom) ainda implantado, as decisões sobre juros e câmbio eram tomadas de maneira mais informal. “O câmbio estava no centro das atenções. Não havia periodicidade pré-agendada para as reuniões”, contou.
Malan também elogiou a qualidade técnica dos servidores do Banco Central: “A competência do Banco Central cresceu enormemente ao longo desses 60 anos”. E destacou outro feito importante de sua gestão: a conclusão da negociação da dívida externa brasileira.
Sobre o papel do BC no Brasil de hoje, Malan foi claro: “A responsabilidade continua sendo contribuir para a política macroeconômica, reduzir a incerteza, ancorar expectativas e zelar pela estabilidade da moeda”. Ele reconheceu, no entanto, que o mundo mudou: “O Banco Central hoje tem mais instrumentos à disposição do que antes”.
Com bom humor, o economista relembrou a sensação que teve ao aceitar o comando do BC: “Me veio à mente uma velha piada irlandesa. Um viajante perdido pergunta a um velho como chegar a Dublin. O velhinho responde: ‘Se eu tivesse que ir a Dublin, eu não começaria daqui’.”
Ao final da conversa, Gabriel Galípolo agradeceu a generosidade de Malan e ressaltou a importância da experiência coletiva na elaboração de políticas públicas. O encontro entre duas gerações de liderança monetária brasileira ficou marcado como um precioso registro histórico.
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