Dom Damasceno diz que legado do papa Francisco deve guiar futuro da Igreja

Dom Raymundo Damasceno relembra ligação de Francisco com o Brasil e diz que legado do Papa deve orientar futuro do Vaticano

Abr 23, 2025 - 01:15
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Dom Damasceno diz que legado do papa Francisco deve guiar futuro da Igreja

O cardeal arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, foi o convidado do programa CB.Poder — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, desta terça-feira (22/4). Em entrevista às jornalistas Edla Lula e Denise Rothenburg, ele destacou a profunda relação entre o papa Francisco e o Brasil, especialmente durante a Conferência de Aparecida, em 2007.

Na época, ainda como cardeal Jorge Mario Bergoglio, Francisco presidiu a comissão de redação do documento final do encontro, texto que, segundo dom Damasceno, serviu de base para o programa de governo do pontífice. “O primeiro documento do Papa Francisco, a Evangelii Gaudium, está todo inspirado em Aparecida. É um documento programático”, afirmou o cardeal.

A Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho de 2007, realizada no Santuário Nacional de Aparecida, reuniu cerca de 200 bispos do continente. Na ocasião, Francisco demonstrou dedicação e simplicidade: trabalhava até tarde, pedia refeições leves e se mostrava atencioso com todos, lembra dom Damasceno. “Ele era o último a chegar no hotel, por volta das onze horas da noite, só pedia uma sopa. No jantar de despedida dos bispos argentinos, estava me esperando na porta”, conta.

Para Damasceno, o legado de Francisco está na construção de uma Igreja missionária, também chamada de “Igreja em saída”, que vai até o povo, aberta ao diálogo com periferias, pessoas excluídas socialmente e até mesmo com líderes de outras religiões. “Ele comparava a Igreja com um hospital de campanha, que acolhe os feridos, os excluídos”, afirmou. 

O cardeal se mostrou otimista quanto à continuidade dessa visão no próximo pontificado. “Não há como regredir. A linha do Papa Francisco é inspiradora. É um processo que se iniciou mas não se chegou a uma conclusão, e que, certamente, o outro papa levará à frente. Cada um tem suas características, mas deve-se prosseguir”.

Com a morte de Francisco, o conclave que elegerá o sucessor dele será iniciado com as congregações gerais, que são encontros entre cardeais de todo o mundo, inclusive dom Damasceno, que não votará por conta da idade. Nessas reuniões, são discutidas questões administrativas e pastorais da Igreja, o que permite aos cardeais se conhecerem melhor. 

Segundo dom Damasceno, embora os cardeais italianos ainda sejam maioria, já não têm os dois terços necessários para eleger um papa. 

A expectativa, portanto, é que o próximo Papa mantenha o espírito reformador, de acolhimento e diálogo, que marcou o pontificado de Francisco. “A Igreja está a serviço do mundo e das pessoas, não o mundo a serviço da Igreja”, afirmou dom Damasceno.

Confira a íntegra da entrevista

*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

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