Deepfake? Agatha Christie “retorna” em curso de escrita criado por IA
Agatha Christie foi recriada com IA para dar um curso online de escrita. Projeto da BBC usa arquivos da autora com aval da família O post Deepfake? Agatha Christie “retorna” em curso de escrita criado por IA apareceu primeiro em Olhar Digital.

A escritora Agatha Christie, morta em 1976, acaba de ganhar uma nova função: professora de escrita criativa. Uma versão digital da autora foi recriada com o uso de inteligência artificial para lecionar um curso na plataforma britânica BBC Maestro, conhecida por oferecer aulas online com especialistas de diversas áreas.
O projeto utiliza um avatar gerado por IA, desenvolvido a partir de entrevistas e escritos da própria Christie, com interpretação feita por uma atriz real. A ideia é oferecer aos fãs da escritora e aspirantes a escritores uma chance de aprender diretamente com uma das autoras mais publicadas da história, ainda que por meio de uma representação tecnológica.

Curso com IA respeita legado de Agatha Christie?
- O curso custa 79 libras e foi autorizado pela família de Christie, que administra seu espólio.
- “Tínhamos apenas uma exigência: que fossem usadas as palavras dela, e que a imagem e a voz fossem parecidas com a dela”, afirmou James Prichard, bisneto da escritora e CEO da Agatha Christie Ltd.
- Segundo os organizadores, não houve invenção de ideias ou falas: a equipe acadêmica responsável pelo projeto se baseou em trechos dos arquivos de Christie para elaborar os roteiros.
- A IA foi usada apenas para criar sua aparência e voz, sem interferir no conteúdo ou no método de ensino.
- O curso está disponível online com um ano de acesso para quem decidir comprá-lo. Ao todo, são 11 aulas totalizando 2,5 horas e 12 exercícios práticos.
- A boa notícia para interessados brasileiros é que o custo é de R$ 300 em compra única, sem a necessidade de adquirir em libras (a conversão direta seria praticamente o dobro deste valor).
Discussão ética sobre o uso de IA com artistas mortos
O lançamento do curso reacende debates sobre os limites éticos da inteligência artificial, especialmente no uso da imagem e da voz de pessoas já falecidas. Embora não haja violação de direitos autorais nesse caso, especialistas alertam para a possibilidade de confusão entre o que é real e o que foi reconstruído.
Carissa Véliz, professora da Universidade de Oxford, disse ao New York Times que considera o projeto “extremamente problemático”. Para ela, mesmo com o consentimento da família, Christie não pôde autorizar a iniciativa: “Agatha Christie nunca disse essas palavras. Ela não está ali. É um deepfake.”
Já para Felix M. Simon, também de Oxford, o uso da IA neste caso é mais defensável, por se tratar de um esforço para preservar e difundir o pensamento da autora, sem comprometer sua integridade. Ele avalia que o impacto na reputação da escritora é mínimo, o que torna a situação mais complexa e menos passível de julgamento definitivo.

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Tecnologia como ponte entre passado e futuro
A BBC Maestro rejeita o termo “deepfake” para descrever o projeto, justamente para evitar a ideia de engano. “A implicação de ‘fake’ sugere algo enganoso, e não é isso o que estamos fazendo”, explicou Michael Levine, CEO da plataforma, ao NYT. Para ele, trata-se apenas de uma maneira de tornar o conteúdo de Christie mais acessível.
Embora o uso de IA para simular pessoas mortas esteja se tornando mais comum — como nos casos de Anthony Bourdain e Peter Cushing —, a abordagem da BBC Maestro tenta se diferenciar ao usar apenas palavras reais da autora, sem criar falas inéditas ou manipular seu legado.
A proposta desperta reflexões sobre o papel da IA na cultura e na educação, e também sobre os limites do consentimento póstumo. Como resume Levine: “Podemos afirmar com certeza que isso seria algo que ela aprovaria? Esperamos que sim. Mas não temos como saber com certeza, porque ela não está aqui.”
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