O tempo elástico da maternidade
Voltar da licença-maternidade pela terceira vez me fez perceber que o tempo, quando se é mãe, ganha texturas diferentes. Há dias que parecem não ter fim. Fases que queremos acelerar: as birras, as noites sem dormir, os desafios da adaptação escolar. Mas, quando essas fases passam, é comum o desejo de tê-las congelado — só mais um pouco. A maternidade embaralha nossas referências temporais. O relógio parece mais rápido e, ao mesmo tempo, mais lento.... O post O tempo elástico da maternidade apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.


(Crédito: Shutterstock)
Voltar da licença-maternidade pela terceira vez me fez perceber que o tempo, quando se é mãe, ganha texturas diferentes. Há dias que parecem não ter fim. Fases que queremos acelerar: as birras, as noites sem dormir, os desafios da adaptação escolar. Mas, quando essas fases passam, é comum o desejo de tê-las congelado — só mais um pouco.
A maternidade embaralha nossas referências temporais. O relógio parece mais rápido e, ao mesmo tempo, mais lento. O tempo se fragmenta, e cada fração vira um exercício de priorização: o que é urgente? O que pode esperar? Onde cabe a minha presença agora?
Essa negociação constante se intensifica ainda mais quando a carreira entra na equação. Para muitas mulheres, o retorno da licença é um dos momentos mais delicados da jornada profissional. O tempo parece escorrer pelas mãos: as demandas voltam a se acumular, os prazos continuam a correr, mas a energia ainda está em transição. O corpo está presente, mas a mente e o coração ainda tentam se reorganizar.
E ainda assim, nesse caos aparente, nascem habilidades raras. Mães desenvolvem uma nova forma de administrar o tempo — não pelo relógio, mas pela intenção. Aprendem a ser estratégicas sem alarde, a entregar com foco, a equilibrar demandas com sensibilidade. A pesquisa Radar da Parentalidade 2024, realizada pela Filhos no Currículo em parceria com o Movimento Mulher 360 e a Talenses Group, revelou que produtividade está entre as principais competências que mães e pais percebem ter desenvolvido com a chegada dos filhos.
Mas não se trata de produtividade no molde antigo, baseada em quantidade, velocidade, acúmulo. A parentalidade nos ensina uma produtividade com presença. Que prioriza o que importa. Que entrega sem esgotar. Que entende que fazer menos, às vezes, é fazer melhor.
Nesse contexto, as empresas também têm um papel crucial. Criar um ambiente de bem-estar parental, com jornadas flexíveis, benefícios amigos da família, extensão de licenças e isonomia entre figuras maternas e paternas, é uma forma real de multiplicar o tempo dessa mulher. É oferecer condições para que filhos e carreira coexistam com mais leveza, para que o retorno ao trabalho não represente uma ruptura, mas uma transição possível e humana.
Porque, no fim, o tempo da maternidade é feito de pequenas despedidas. Cada fase que vai embora carrega uma parte de nós. E, ainda assim, seguimos. Com menos controle, mais presença. Com menos pressa, mais intenção.
Um dia, nossos filhos vão dizer “já vou, mãe” com o mesmo desdém doce com que hoje nos chamam cinquenta vezes seguidas. Vão fechar a porta do quarto, pedir pra dormir fora, querer voar sozinhos. E nós, que passamos anos dizendo “só um minuto”, vamos desejar voltar no tempo. Só mais uma vez. Só mais um chamado. Só mais um colo no meio da noite.
Mas não dá. O tempo não volta. O que fica é a forma como atravessamos cada fase. Com que presença, com que escuta, com que amor. E talvez a produtividade mais revolucionária do nosso tempo seja justamente essa: saber estar inteira enquanto eles partem — e também quando voltam.
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