Criador de “O Eternauta” foi morto pela ditadura argentina nos anos 1970

Héctor Oesterheld desapareceu em 1977, após ser perseguido pelas Forças Armadas junto com as quatro filhas, todas militantes de esquerda

Mai 1, 2025 - 22:59
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Criador de “O Eternauta” foi morto pela ditadura argentina nos anos 1970

Série revive obra icônica dos quadrinhos argentinos

O lançamento da série argentina “O Eternauta” pela Netflix reacendeu o interesse pela obra de Héctor Germán Oesterheld, autor da obra original em que a trama se baseia e um dos maiores nomes dos quadrinhos da América Latina. Escrita entre 1957 e 1959 com ilustrações de Francisco Solano López, a história de Oesterheld é considerada uma das mais influentes dos quadrinhos argentinos. Na trama, um grupo de sobreviventes enfrenta uma nevasca mortal e ameaças alienígenas em um cenário de colapso global.

O destino do escritor, porém, foi ainda mais distópico, num final de vida semelhante ao de Rubens Paiva, retratado no filme “Ainda Estou Aqui”. Na verdade, foi muito pior.

Como era o envolvimento do autor com a política?

A trajetória de Oesterheld foi marcada pelo engajamento político. Nos anos 1960, ele passou a produzir quadrinhos com viés político mais direto, como as biografias de Che Guevara e Evita Perón, em parceria com o cartunista Alberto Breccia. O artista também foi parceiro do escritor numa nova versão de “O Eternauta” lançada na década de 1970, mais explícita em seu conteúdo ideológico, que transformava o protagonista, Juan Salvo, no que Oesterheld chamava de “herói coletivo”.

Ao longo da década de 1970, o escritor tornou-se militante da organização Montoneros, um grupo armado de esquerda que resistia à repressão da ditadura argentina. As quatro filhas do autor — Estela, Diana, Beatriz e Marina — também se envolveram com a militância. Todas desapareceram entre 1976 e 1977, sendo Diana e Marina sequestradas quando estavam grávidas.

Quando ocorreu o desaparecimento de Oesterheld?

O autor foi capturado em abril de 1977. Testemunhos posteriores indicam que ele foi submetido a tortura física e psicológica e teria sido forçado a ver registros das execuções de suas filhas. Acredita-se que Oesterheld tenha sido morto em 1978, mas seu corpo jamais foi localizado. Apenas Beatriz teve velório formal.

Quando os crimes foram reconhecidos?

A repressão à família Oesterheld só teve reconhecimento oficial em 1985, quando um julgamento histórico revelou os crimes cometidos pelo regime militar argentino contra desaparecidos políticos. O caso se tornou símbolo da violência de Estado durante o período mais sombrio da história do país.

A história de Oesterheld daria outra série da Netflix ou um filme para ganhar o Oscar na categoria Internacional.