Corrida por ‘minerais críticos’ pode abalar o mundo

A busca por minerais críticos está acirrando disputas globais, envolvendo potências, sanções e alianças estratégicas em um jogo perigoso de poder e controle Os minerais críticos estão no centro das atenções desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca. No dia de sua posse, ele emitiu uma ordem executiva chamada “Libertando a Energia Americana”. […] O post Corrida por ‘minerais críticos’ pode abalar o mundo apareceu primeiro em O Cafezinho.

Mar 13, 2025 - 09:42
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Corrida por ‘minerais críticos’ pode abalar o mundo

A busca por minerais críticos está acirrando disputas globais, envolvendo potências, sanções e alianças estratégicas em um jogo perigoso de poder e controle


Os minerais críticos estão no centro das atenções desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca. No dia de sua posse, ele emitiu uma ordem executiva chamada “Libertando a Energia Americana”. Com seu habitual exagero, ele busca garantir a “dominância mineral da América”. Ele também emitiu uma ordem executiva relacionada (“Enfrentando a ameaça à segurança nacional das importações de cobre”), ameaçou tomar a Groenlândia e anexar o Canadá, países com recursos minerais valiosos, pressionou a Ucrânia a aceitar um acordo sobre minerais (“eles têm terras raras excelentes. E eu quero segurança das terras raras”) e anunciou ações adicionais iminentes para “expandir dramaticamente a produção de minerais críticos e terras raras aqui nos EUA”.

Segundo o Financial Times a retórica belicosa e o comportamento ameaçador de Trump foram amplamente criticados, mas ele não está agindo isoladamente. No ano passado, a União Europeia assinou um acordo sobre minerais críticos com Ruanda.

No entanto, o Parlamento Europeu votou pela suspensão do acordo, pois Ruanda está apoiando uma rebelião no leste da República Democrática do Congo, em parte para controlar e exportar coltan, estanho, tungstênio, tântalo e ouro da região.

Enquanto isso, o governo da RD Congo, liderado por Félix Tshisekedi, propôs um acordo sobre minerais críticos aos EUA, inspirado no acordo estagnado com a Ucrânia. Tshisekedi sugeriu acesso privilegiado para empresas americanas às vastas reservas de cobalto e cobre, em troca de assistência na luta contra os rebeldes do M23.

Vladimir Putin também viu o acordo com a Ucrânia como um modelo, oferecendo a Trump acesso aos minerais da Rússia — bem como aos dos territórios ucranianos sob controle de suas forças.

Esses acordos fazem parte de uma tendência global. Os países importadores estão correndo para garantir o acesso a minerais, usando uma combinação de onshoring (incentivando a mineração dentro de suas fronteiras) e acordos comerciais bilaterais.

Já os países produtores estão implementando proibições de exportação, criando empresas estatais e, em alguns casos, nacionalizando setores inteiros da mineração. Seja justificado pela transição energética, pelo avanço tecnológico ou pela preparação militar, todos os países buscam garantir sua parte dos minerais críticos.

Nos Estados Unidos, as ações de Trump representam a intensificação de um consenso bipartidário que vem se consolidando há mais de uma década. Foi durante o governo de Barack Obama que autoridades federais delinearam pela primeira vez uma “estratégia de minerais críticos”.

No primeiro mandato de Trump, ordens executivas expandiram a lista de minerais críticos e enquadraram a dependência de importações de países adversários como uma ameaça à segurança nacional.

A administração de Joe Biden ampliou a mineração doméstica, estabeleceu alianças de friendshoring e impôs tarifas significativas sobre minerais provenientes da China.

Algumas políticas anteriores dos EUA também ecoam o recente exagero de Trump. Sob Biden, por exemplo, o Departamento de Estado pressionou o CEO da Tanbreez, uma empresa privada, a rejeitar ofertas de investidores chineses para seu depósito de terras raras na Groenlândia.

Há uma história ainda mais longa por trás disso. O conceito de “minerais críticos” remonta ao período anterior à Segunda Guerra Mundial e foi reforçado durante a corrida por materiais atômicos na Guerra Fria e a crise energética dos anos 1970.

Em cada momento, a classificação de recursos como “críticos” justificou o apoio governamental à extração e ao acesso, a desregulamentação de salvaguardas e a preferência por táticas de força em vez de cooperação.

As consequências são graves: a mineração está entre os setores com maior número de violações de direitos humanos.

A ideia de “minerais críticos” encerra o debate. Críticos para quem? E extraídos para benefício de quem e às custas de quem? Em vez de “dominância mineral”, precisamos de acordos internacionais que estabeleçam padrões ambientais e sociais, além de políticas que reduzam a demanda por minerais.

Caso contrário, o consenso sobre minerais críticos pode nos levar a uma corrida do ouro do século 21 ou a uma guerra por recursos.

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