Chatô, o homem que revolucionou o Brasil

Musical conta a história de Assis Chateaubriand, que mudou para sempre o jornalismo brasileiro ao fundar um dos mais longevos conglomerados de mídia do país. Em cartaz no Rio, espetáculo estreará em Brasília em 29 de maio

Abr 7, 2025 - 11:13
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Chatô, o homem que revolucionou o Brasil

O musical Chatô & os Diários Associados — 100 anos de paixão, em cartaz no Teatro João Caetano, no Rio, até 27 de abril, com texto de Fernando Morais e Eduardo Bakr, e direção de Tadeu Aguiar — é uma ode aos primórdios da TV no Brasil, ao rádio e à liberdade de imprensa.

É um acontecimento cultural de impressionante atualidade em meio à celebração dos 40 anos de redemocratização, depois de o Brasil receber pela primeira vez o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com o filme Ainda estou aqui, com a história de Rubens Paiva, sob a ameaça de golpes. A trama do musical viaja, a um só tempo, pelo presente, pelo passado e pelo futuro do Brasil.

A vida de Assis Chateaubriand, o cangaceiro modernista e modernizador da comunicação no Brasil, como o batizou o colunista do Correio Severino Francisco, entrelaça todo o musical, que estreará em Brasília em 29 de maio. Ele foi um personagem tão relevante que a história de Chatô se confunde com a história do jornalismo brasileiro e com a história do país.

Stepan Nercessian interpreta esse personagem, que transformou a comunicação do Brasil ao fundar um dos mais importantes e longevos conglomerados de mídia do país. Chatô foi um dos criadores do Museu de Arte Moderna de São Paulo, ao lado de Pietro Maria Bardi, inaugurou em 1950 a primeira emissora de tevê do Brasil, a TV Tupi, e revelou inúmeros talentos em seus jornais e revistas. Entre outros, Rubem Braga, Joel Silveira e Millôr Fernandes.

O musical viaja entre passado e presente e mostra as transformações feitas por Chatô nos meios de comunicação, enquanto acompanha Fabiano, interpretado por Cláudio Lins, um jornalista desempregado que, ao encontrar a estátua de Chatô em Recife, é levado por ele a revisitar momentos icônicos da mídia, como a criação da Revista O Cruzeiro e a inauguração da TV Tupi, a primeira emissora de televisão do Brasil.

Em uma linha paralela, o musical se detém no relacionamento de Fabiano com Juliana, uma colega jornalista, explorando conflitos pessoais e profissionais que refletem os desafios do jornalismo contemporâneo. A trama mescla história, romance e música para destacar o legado cultural de Chatô.

E não se trata de uma história oficial. Chatô é representado com suas contradições, humanas, demasiado humanas, mas também na grandeza de jornalista comprometido com a profissão, com o Brasil e com a democracia. Na peça, o próprio Chateaubriand lamenta ter apoiado a ditadura durante quatro meses. E, aí, ele diz que se orgulha de se arrepender.

O ofício de jornalista sobrevive apenas no ambiente de liberdade de expressão garantido pela democracia. A resistência é sutil, mas ocorre uma mudança de consciência. Chatô abre espaço para um programa com Caetano Veloso e Gilberto Gil, Gal. Revela um outro Brasil. As conexões entre o passado e presente são evidenciadas. A transformação vem por meio da música.

Sempre pelo fio narrativo das canções, é mostrado por meio do cotidiano de uma redação de jornal o quanto é importante a liberdade de imprensa conquistada ao longo de 40 anos de redemocratização. Ao fim, parte da plateia do Rio de Janeiro ficou empolgada e gritou "sem anistia". Mas Cláudio Lins, o filho de Ivan e Lucinha, explicou que a peça coloca a democracia em debate e o público é livre para tomar o partido que quiser.

* Enviado especial ao Rio de Janeiro