Canadá: Mark Carney prepara quarto governo liberal consecutivo
O Partido Liberal, de Mark Carney e de Justin Trudeau – venceu as eleições. Um favor que ficam a dever a Donald Trump, presidente do país vizinho, que prometia tomar de assalto o Canadá e transformá-lo no seu 51º Estado.


Mais por obrigação que por devoção, o próximo primeiro-ministro do Canadá, o liberal Mark Carney, terá de falar com o presidente do seu único vizinho, os Estados Unidos. Não é provável que Carney lhe agradeça a vitória nas eleições desta segunda-feira, mas o certo é que o contributo de Donald Trump foi inestimável. Para aí convergem todos os analistas, que afirmam que as declarações de Trump sobre a possibilidade de o Canadá transformar-se no 51º Estado da federação norte-americana e a proximidade ideológica entre o MAGA (Make America Great Again) e os conservadores canadianos explicam a sua derrota. Convém ter em consideração que, até ao final do ano passado, os conservadores seguiam à frente nas sondagens – um ‘gap’ que chegou a ser de mais de 20 pontos, isto é, os liberais tinham cerca de metade das intenções de voto).
O Partido Liberal conseguiu conquistar pelo menos 166 lugares no parlamento (a contagem ainda não está totalmente fechada), mas segundo as previsões citadas pela imprensa local, poderá chegar aos 172 lugares necessários para formar um governo de maioria.
Mark Carney, fez uma campanha apoiada nos sentimentos anti-Trump gerados pela guerra de tarifas entre os dois países, desencadeada pelo presidente norte-americano – e que acabou por tornar-se evidente quando os consumidores canadianos responderam positivamente ao apelo ao boicote à compra de produtos norte-americanos. Os liberais perceberam a mensagem e trataram de ‘cavalgar’ a recusa da ‘colonização’ norte-americana – sendo-lhes fácil, por outro lado, acantonar os conservadores aos princípios políticos imanados de Washington.
“Senti que precisávamos de grandes mudanças neste país, mas grandes mudanças guiadas por valores canadianos fortes”, declarou na sua mensagem de vitória. “Ultrapassámos o choque da traição americana, temos de tomar conta uns dos outros”, afirmou. E repetiu que vai continuar a aproximar-se da Europa – os “amigos confiáveis”, como tratou o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, quando os visitou, mal tomou posse do lugar em substituição de Trudeau. O próprio ex-primeiro-ministro canadiano também já tinha iniciado essa deriva pró-europeia quando se apercebeu de que a nova administração da Casa Branca iria sem qualquer dúvida trilhar os caminhos estreitos da recusa do multilateralismo.
O discurso do novo primeiro-ministro canadiano foi feito já depois de o líder dos Conservadores, Pierre Poilievre, ter concedido a vitória aos liberais, ao afirmar que o seu partido não tinha conseguido “ultrapassar a linha da meta”. O Partido Conservador continua a ser o maior partido da oposição, tendo conquistado, até agora, 146 deputados – mas é possível, segundo a imprensa canadiana, que Poilievre não seja um deles: o seu lugar no parlamento está ainda por confirmar.
Bloc Québécois — que já conseguiu 23 deputados, todos nos círculos da região do Québec e que serve principalmente para lembrar a mundo que o país tem um problema de separatismo que neste momento não é importante, mas é-o sazonalmente – o NDP, à esquerda, que conquistou sete em vez dos 25 lugares anteriores no parlamento e os Verdes, com um lugar.