Café sem açúcar – A todos os meus amigos, influencers forçados
Mês passado escrevi sobre meus amigos “robôs de LinkedIn” e comentei sobre os riscos de esconder nossa personalidade atrás de posts padrões, comentários feitos por inteligência artificial e regras limitantes sobre o que pode e não pode na plataforma. Falei que isso está deixando tudo muito chato, sem nenhuma identidade e nos transformando em parte de uma paisagem quadrada, vazia e sem nenhum ponto de vista. Ao publicar, as conversas geradas – leia-se “desabafos” –... O post Café sem açúcar – A todos os meus amigos, influencers forçados apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.

Mês passado escrevi sobre meus amigos “robôs de LinkedIn” e comentei sobre os riscos de esconder nossa personalidade atrás de posts padrões, comentários feitos por inteligência artificial e regras limitantes sobre o que pode e não pode na plataforma. Falei que isso está deixando tudo muito chato, sem nenhuma identidade e nos transformando em parte de uma paisagem quadrada, vazia e sem nenhum ponto de vista.
Ao publicar, as conversas geradas – leia-se “desabafos” – foram tantas, que decidi transformar ele em uma série de três textos, cada um trazendo um ângulo diferente sobre o nosso uso (equivocado) de redes sociais.
Hoje, na parte dois desta série, o assunto é simples: nossa obrigatoriedade não dita de produzir conteúdo sobre nosso trabalho. Como se trabalhar com o que fomos contratados não fosse o suficiente. Como se trabalho que não está no feed ou story não existisse de verdade.
Digo obrigatoriedade não dita porque, normalmente, ela não aparece em nenhum descritivo de trabalho ou contrato. Mas está ali, nas entrelinhas, quando vemos as pessoas em nosso entorno conquistando mais seguidores, postando suas vitórias e sendo reconhecidas por isso. É importante, sabemos. Aí, é aquela coisa: quando a grama do vizinho é mais verde que a nossa, a gente começa a querer ser dono de um jardim também. E quando nos damos conta, estamos fazendo o mesmo: trabalhando pra ter o que postar e postando pra mostrar que o trabalho vem sendo bem-feito.
Quem nunca? Que atire o primeiro like aquele que nunca fez parte disso.
Mas quais são as discussões que deveríamos estar tendo sobre isso? Qual o buraco que está mais embaixo e não estamos falando sobre? E quais impactos positivos e negativos essa prática gera na escala individual e coletiva?
Na esfera pessoal, pode haver desvio de foco das funções principais e uma cobrança extra por resultado e performance, o que pode gerar sobrecarga e esgotamento. Assim como no caso do que abordei no texto do LinkedIn, há também o risco de superficialidade, já que nem todo mundo sabe produzir conteúdo – e muitas vezes, nem quer saber ou ter que lidar com isso – e uma parcela considerável acaba por replicar posts prontos e pontos de vista de terceiros. Mas esse não é o único ângulo importante.
Na esfera coletiva, como equilibramos a autenticidade do conteúdo, que é construída por meio de novos pontos de vista e, muitas vezes, discussões sobre erros, aprendizados e estratégias com as implicações éticas de compartilhar práticas de trabalho? Em um mundo cada vez mais digital, outras questões precisam entrar no jogo, como a privacidade e a comercialização da experiência de trabalho. Questões complexas por si só, mas que ficam ainda piores em mercados que ainda não discutem pautas como essa.
Mas como nem só de problemas vive o mundo, sinto que preciso trazer um contraponto para a minha própria discussão.
Se combinarmos direitinho, definirmos frequência, não-obrigatoriedade ou obrigatoriedade, escopo, se estruturarmos quem produz o conteúdo e quais ângulos as equipes podem ou não adicionar, teremos uma ferramenta institucional muito potente em mãos. E quando digo institucional, me refiro não apenas ao retorno gerado para a empresa, mas para a própria pessoa que aceita ser um pouco influencer e alavancar sua marca pessoal.
Se bem feito, esse uso pode gerar não apenas o tão desejado reconhecimento profissional e construção de networking, mas também influência no mercado, já que, ao compartilhar conhecimento, há uma consequente educação sobre o que fazer ou não fazer. Para a empresa, essa divulgação pode se transformar em um meio de aproximação organizacional, de relação de confiança e afinidade e até mesmo de transparência. Em curto prazo, estamos falando de engajamento, aumento da base etc. Mas, em longo prazo, estamos falando de retenção de talentos e atratividade para novos parceiros e profissionais.
Há muito potencial em jogo, isso é inegável, mas ele só será uma realidade possível em um cenário em que acordos sejam feitos e formalizados entre empregadores e empregados. Para funcionar, os dois lados precisam saber o que é esperado e a prática precisa ser corretamente – e eticamente – ferramentada.
Como em tudo na vida, tudo que não é dito abre espaço para ser interpretado. E, hoje, não dizer pode estar gerando uma onda cansada de influenciadores forçados. Será que você faz parte disso?
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