Volta não volta, quase com a regularidade das andorinhas, somos confrontados com os resultados dos rankings das escolas. Existe quem sofra com os pólens primaveris, mas muitos mais são os que sofrem com a divulgação destas comparações. E é quem mais directamente está envolvido no ensino que mais se incomoda com isso. É normal que quem fique embaraçado com os resultados comparativos do seu trabalho não o assuma, mas antes argumente contra o método em si. Os argumentos para se ser contra estes indicadores nunca se afastam da realidade social de onde são originários os respectivos alunos. Os filhos dos licenciados e de quem tem mais meios para pagar explicações, são quase invariavelmente melhores do que os demais.
Mas graças aos rankings também conseguimos saber que existem escolas localizadas em áreas socialmente menos favorecidas, que conseguem contrariar a probabilidade de terem maus resultados. E é aí que reside a surpresa e é também aí que se revela a utilidade dos rankings. Não precisamos de rankings para saber quais as regiões desfavorecidas, mas sim para encontrar os bons exemplos. Com uma gestão objectiva, estes exemplos deveriam ser divulgados e copiados para repetir a fórmula noutras paragens.
A escola pública, com todas as suas virtudes e conquistas de que não duvidamos, sofre de vários empenos dos quais já deveria ter livrado há demasiados anos.
Um deles é a instabilidade do quadro docente. Não faz o mínimo sentido que um professor tenha de mudar de escola, e até de residência, todos os anos. Quem após muitos anos e muito esforço consegue finalmente a sua colocação, não aceita que os que chegaram mais tarde à carreira, sejam dispensados do mesmo tormento. É como uma praxe imposta por um DUX e funciona na mesma lógica das guildas medievais.
Outro grave empeno resulta da instrumentalização dos professores pelos seus sindicatos e pelas respectivas prioridades partidárias e ideológicas. Se fizermos uma recolha das vezes em que o ensino é notícia, é fácil de concluir que o “freguês” do ensino, os alunos, está longe de ser prioritário. Ora são as carreiras, ora os salários, ora os auxiliares, ora as greves, o que o ministro disse ou a resposta do sindicato. Os alunos, os seus interesses, queixas ou aspirações ficam em quarto ou quinto lugar, o que não deixa de ser perverso.
E termino com as seguintes perguntas, quão pública é uma escola pública, que a todos quer servir, que encolhe os ombros quando os seus alunos sentem necessidade de recorrer a explicações pagas fora do âmbito escolar? E como se pode justificar todo o investimento que o país faz na escola pública, quando os alunos que não têm meios para pagar explicações, acabam sempre por ficar em desvantagem?
*Publicado no Região de Cister