Aposentadoria de Warren Buffett, alívio nas tensões comerciais e reuniões de política monetária: veja os destaques da semana no mercado financeiro
Labirinto tarifário criado por Donald Trump nas relações comerciais globais parece finalmente começar a ser desfeito O post Aposentadoria de Warren Buffett, alívio nas tensões comerciais e reuniões de política monetária: veja os destaques da semana no mercado financeiro apareceu primeiro em Empiricus.

Começamos a semana com a notícia de que Warren Buffett, um dos patronos da análise fundamentalista como a conhecemos hoje, anunciou que deixará de vez suas funções na Berkshire Hathaway em 2026. Trata-se, sem exageros, do fim de uma era.
Enquanto isso, do lado geopolítico, o labirinto tarifário criado por Donald Trump nas relações comerciais globais parece finalmente começar a ser desfeito. Na semana passada, a China deu o primeiro sinal de que estaria disposta a negociar, desde que os EUA adotem uma postura respeitosa e previsível — algo que, convenhamos, tem sido raro. Países-chave como Índia, Japão e Coreia do Sul também acenam com avanços nas conversas bilaterais, reduzindo a temperatura da guerra comercial.
Esse alívio no front internacional oferece algum respiro aos mercados nesta semana decisiva, marcada por reuniões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, ambas programadas para quarta-feira. A sinalização de que a Opep+ pode aumentar a produção de petróleo em 411 mil barris por dia ajudou a derrubar a commodity, o que, por sua vez, atenua os receios inflacionários e facilita o trabalho dos bancos centrais. Na Europa, os mercados abriram em alta, beneficiados por esse alívio nas tensões comerciais e pela ausência de novas surpresas negativas. Já na Ásia, o pregão foi esvaziado devido a feriados, com apenas Taiwan em funcionamento.
Nos Estados Unidos, os índices futuros recuam levemente nesta manhã, ainda digerindo os efeitos de um abril volátil. A boa notícia é que a dinâmica recente — apesar dos solavancos — sugere haver espaço para continuidade na recuperação dos ativos, caso a retórica diplomática se mantenha construtiva e os dados econômicos venham em linha com expectativas mais contidas. Abril pode não ter sido suave, mas deixou pistas de que a segunda metade do trimestre pode ser mais favorável. O humor dos mercados segue condicionado a Brasília, Pequim e Washington — mas ao menos, pela primeira vez em semanas, o noticiário parece permitir um certo otimismo razoável.
· 00:55 — Atmosfera política
No Brasil, a semana começa com o protagonismo político fora do eixo econômico, marcada pela viagem conjunta de Lula e Haddad e por um ambiente rarefeito em novidades relevantes na frente fiscal ou monetária. Ainda assim, o governo será colocado à prova em dois flancos: a condução de sua já desgastada agenda no Congresso e o desfecho do escândalo de fraudes no INSS, que finalmente levou à saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência. Menos mal em termos de ruídos. Em seu lugar assume Wolney Queiroz, também do PDT, atual secretário-executivo da pasta — o que ameniza a tensão partidária, mas não anula o fato de que há uma rachadura evidente, já que Lupi é o presidente da sigla. Vale lembrar que o ex-ministro também caiu durante o primeiro mandato de Dilma, por razões semelhantes.
A permanência do PDT na Esplanada ajuda a conter a sangria política no curto prazo, importante sobretudo para a articulação de pautas ambiciosas — e, em muitos casos, desconectadas da realidade fiscal — como a isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil, a taxação dos super-ricos e, mais recentemente, a bandeira populista do fim da escala de trabalho 6×1. Enquanto isso, qualquer proposta mais séria de controle de gastos ou ganho de produtividade estrutural continua fora do radar do Planalto. É uma ausência que não só preocupa, como evidencia que o governo segue mais interessado em agendas eleitoreiras do que em reformas com impacto macroeconômico concreto.
No campo monetário, o Banco Central deve entregar mais um ajuste de 50 pontos-base na Selic nesta quarta-feira, como sinalizado anteriormente. A dúvida recai sobre se este será, enfim, o encerramento do ciclo de aperto, ou se teremos uma última elevação marginal de 25 pontos nas próximas reuniões. A decisão tende a manter o tom firme da autoridade monetária, ainda pressionada pela resiliência inflacionária, especialmente nos núcleos ligados a serviços e mercado de trabalho.
Além disso, a temporada de resultados corporativos segue ganhando tração, com os grandes bancos ocupando o centro do palco nos próximos dias. Será uma boa oportunidade para calibrar expectativas sobre o impacto do cenário macro — que mistura juros altos, inadimplência e crescimento fraco — nas margens financeiras e na rentabilidade das instituições. Ainda que o ruído político persista, é no desempenho das empresas que o investidor encontrará os sinais mais tangíveis de valor (ou risco)…
· 01:47 — Ainda não vai reduzir
Nos EUA, o mercado encerrou a semana passada em tom claramente positivo, embalado por um relatório de empregos mais forte do que o esperado e pelos primeiros sinais de que a guerra tarifária promovida por Donald Trump pode, finalmente, dar lugar a uma trégua comercial minimamente racional. O resultado foi mais uma onda de valorização das ações, com o S&P 500 registrando seu nono pregão consecutivo de alta — a mais longa sequência desde novembro de 2004. A ironia é evidente: bastou Trump sair brevemente de cena para o mercado reencontrar alguma ordem.
Nesta semana, os futuros iniciam em leve queda, reflexo natural após uma sequência tão esticada de ganhos. Ainda assim, não seria surpresa se os índices tivessem uma nova perna de valorização — ao mesmo tempo, eventuais correções pontuais seriam até saudáveis, servindo de ajuste técnico após a recuperação acelerada. Na agenda, o destaque absoluto é a decisão de política monetária do Federal Reserve. A expectativa consensual é de manutenção dos juros, mas o que realmente importa é o tom do comunicado: qualquer sinalização de mudança na postura da autoridade monetária para os próximos meses pode influenciar de forma significativa o apetite por risco.
Em paralelo, a temporada de resultados segue no centro do radar, oferecendo pistas importantes sobre a saúde corporativa em meio a um ambiente ainda marcado por incertezas externas e revisões de expectativas. Até aqui, o mercado parece mais disposto a premiar surpresas positivas do que a punir pequenos desvios, o que ajuda a sustentar o viés construtivo no curto prazo. Resta saber se o Fed contribuirá para manter esse humor — ou se voltaremos ao velho hábito de tropeçar nas decisões.
· 02:33 — A agenda que deveria ter sido, mas não foi
Ainda nos Estados Unidos, a prévia do orçamento de Donald Trump para 2026 prevê uma redução de aproximadamente US$ 163 bilhões em despesas do governo, com impactos especialmente severos nas áreas de educação — que teria o orçamento encolhido em US$ 12 bilhões — e saúde, cuja verba seria reduzida em mais da metade, de US$ 9 bilhões para US$ 4 bilhões. Habitação, meio ambiente, trabalho e programas de ajuda externa também sofreriam cortes. No total, o orçamento proposto ficaria 23% abaixo dos níveis atuais de gasto. Por outro lado, Trump propõe uma elevação de 13% nas despesas militares, ultrapassando a marca simbólica de US$ 1 trilhão, além de um aumento de 65% no financiamento para segurança de fronteiras.
Trata-se de uma típica proposta de “orçamento enxuto”, aquela espécie de carta de intenções que presidentes costumam apresentar no início de mandato — mais um compêndio de aspirações políticas do que um plano realista de aprovação no Congresso. Ainda assim, o documento sinaliza claramente as prioridades do atual governo e deve servir como guia para a condução de Scott Bessent à frente do Tesouro, especialmente no esforço de contenção do déficit. Um remédio amargo, porém necessário. A ideia de um Estado mais eficiente, menos inchado e com foco em segurança e competitividade agradou aos mercados no final do ano passado. Chegou a inspirar uma esperança de que os EUA poderiam se tornar exemplo de responsabilidade fiscal em um mundo ainda inchado por estímulos pandêmicos. O problema é que essa narrativa virtuosa só veio à tona após o caos das tarifas e o ruído de uma diplomacia disfuncional. A agenda certa apareceu, mas no timing errado.
O dilema, portanto, está no contraste: uma pauta econômica tecnicamente promissora emergindo das ruínas de uma estratégia comercial improvisada. O que poderia ter sido uma vitrine de racionalidade fiscal, capaz de dar previsibilidade aos mercados e reancorar expectativas, agora aparece como mais um capítulo de um roteiro imprevisível, onde bons sinais convivem com ruídos desnecessários. Ainda assim, vale acompanhar — talvez, mesmo por acidente, algo bom finalmente aconteça.
· 03:21 — O pêndulo não virou
Assim como ocorreu no Canadá, a Austrália também experimentou os efeitos colaterais da presidência de Donald Trump em suas eleições. Comentamos anteriormente como a possível substituição de Justin Trudeau por Mark Carney funcionaria como uma espécie de representação simbólica da mudança de pêndulo político que tem ocorrido globalmente desde o ano passado. No Canadá, a presença de uma figura tecnocrática, moderada e menos polarizadora como Carney preservou a essência da tese de alternância de poder, mesmo com o recuo conservador provocado pela rejeição que Trump ainda provoca em amplos segmentos do eleitorado — o velho maniqueísmo entre “esquerda” e “direita” voltou a operar com força no imagético do eleitor.
Na Austrália, porém, o desfecho foi menos animador. O primeiro-ministro Anthony Albanese, do Partido Trabalhista, conquistou um segundo mandato. Seu opositor, Peter Dutton, líder da coalizão liberal de centro-direita, viu sua campanha perder tração justamente no rastro da radicalização trumpista. Dutton, por mais que tivesse uma agenda considerada promissora por parte dos mercados — liberal do ponto de vista econômico —, acabou sendo arrastado para a vala comum da retórica trumpiana. Resultado: teve desempenho inferior ao da última eleição. A imagem de Dutton como um “representante local” do trumpismo desidratou sua candidatura, em um contexto no qual a rejeição ao estilo de Trump se sobrepôs ao conteúdo técnico de sua plataforma.
Ainda que Albanese esteja longe de representar um avanço à esquerda — é, de fato, um político de centro dentro do espectro trabalhista — o fato de não termos tido uma guinada clara na Austrália lança dúvidas sobre a força do ciclo de alternância que vinha se desenhando. Sim, a tese de rejeição ao incumbente e de reequilíbrio institucional ainda está viva, como poderá ser testado nas eleições do Chile no final de 2025. Mas o episódio australiano soa como um pequeno revés no padrão que começava a parecer previsível. O timing das eleições, realizadas no meio do turbilhão tarifário internacional causado por Trump, tampouco ajuda a isolar variáveis e fazer uma leitura mais fria.
Em resumo, ainda não é hora de jogar fora o roteiro da mudança de pêndulo para governos mais pró-mercado, fiscalmente responsáveis e tecnocráticos. Mas é preciso reconhecer que os ruídos vindos de Washington — em especial o retorno da retórica caótica de Trump — têm atrapalhado mais do que ajudado. Quando a imagem do mensageiro compromete a mensagem, até boas agendas perdem força. Ainda tem muito chão pela frente e as coisas podem melhorar. Seguimos acompanhando.
· 04:15 — O fim de uma era
Foi em Omaha, como não poderia deixar de ser, que o mercado financeiro ouviu o anúncio que há anos pairava como uma sombra inevitável: Warren Buffett deixará, até o fim de 2025, o posto de CEO da Berkshire Hathaway. A notícia veio sem ensaio, surpreendendo até mesmo Greg Abel, seu sucessor na função. O silêncio inicial rapidamente cedeu lugar a uma longa aclamação de pé: não se aplaudia um executivo, mas uma era inteira da história do capitalismo. Buffett assumiu, em 1965, uma companhia têxtil moribunda e a transformou, em seis décadas, em um conglomerado de mais de US$ 1 trilhão, com 189 empresas e participações emblemáticas em gigantes como Apple, Coca-Cola e American Express. Mas o impacto de Buffett transcende os ativos que comprou. Ele reconfigurou a maneira como pensamos o investimento: trouxe sobriedade a um setor que costuma preferir a euforia, e transformou a paciência em uma vantagem competitiva — um conceito quase anacrônico em tempos de impulsos digitais e retornos em 24 horas.
Para colocar em perspectiva: mesmo que as ações da Berkshire desabassem 99% a partir de hoje, ainda assim teriam rendido mais que o S&P 500 desde que Buffett assumiu — um feito que beira o surreal. A rentabilidade média anual de 19,9% ao longo de quase 60 anos não é apenas uma façanha matemática: é a comprovação de que consistência disciplinada, com viés de longo prazo, pode derrotar qualquer moda passageira ou guru de ocasião. Ainda assim, seu verdadeiro legado talvez não esteja nos percentuais, mas nas palavras. As cartas anuais aos acionistas da Berkshire tornaram-se um gênero literário próprio no mundo dos investimentos. Ali, Buffett ofereceu mais do que números: ofereceu lucidez. Enquanto os holofotes buscavam a próxima grande ideia, Buffett insistia em lembrar que investir é, no fundo, uma atividade de racionalidade aplicada a longo prazo. Agora, não perdemos apenas o CEO da Berkshire, mas um dos últimos bastiões de uma visão mais paciente, humilde e metódica sobre o ato de investir. Fica o exemplo, e com ele a pergunta incômoda: o mercado aprendeu o suficiente com Buffett para continuar sem ele?
· 05:02 — Ainda vale a pena manter
Buffett declarou que ainda poderá ser útil em alguns casos, mas a chave do legado passa, de fato, às mãos de Greg Abel. O canadense que comandou com competência a divisão de energia da Berkshire, transformando-a em uma das maiores fornecedoras do setor nos EUA, agora assume a tarefa de manter viva a máquina de geração de valor construída ao longo de seis décadas. A pergunta inevitável, claro, é: com a aposentadoria de Buffett, ainda faz sentido manter posição em Berkshire?
Na minha visão…
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