Antepassados dos humanos colecionavam pedras esféricas e não sabemos porquê

Os primeiros humanos, ancestrais da nossa espécie moderna, perambulavam pelo que chamamos de Berço da Humanidade, na África, há milhões de anos, buscando pedras de forma perfeitamente arredondada. A razão dessa procura, no entanto, escapa aos cientistas — sabemos que os homens primitivos experimentavam com elas, talvez devido ao formato único. Clique e siga o Canaltech no WhatsApp Pegadas de 1,5 mi de anos mostram duas espécies ancestrais humanas juntas Primeiras ferramentas usadas no mundo não foram feitas por humanos Os pedregulhos redondos foram encontrados em sítios ocupados por hominídeos antigos em todo o mundo, mas, até recentemente, pesquisadores davam atenção apenas àqueles esculpidos pelos homens primitivos. Na caverna de Quesem, em Israel, há evidências de que uma espécie antiga criava ferramentas redondas para quebrar ossos de animais e acessar o tutano, por exemplo. Achados semelhantes foram feitos em Melka Kunture, um sítio arqueológico do Vale de Awash, na Etiópia, onde ancestrais humanos viveram por milhões de anos antes de migrarem para fora da África. Estudando o local, a cientista Margherita Mussi, da Associação Internacional de Estudos Orientais e do Mediterrâneo, mudou o foco, passando a analisar as pedras esféricas coletadas, e não fabricadas pelos hominídeos. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Coleção de esferas pré-históricas Os pedregulhos redondos apareceram em locais ocupados entre 1,7 milhão e 600.000 anos atrás, sugerindo que a espécie que os coletou tenha sido a dos Homo erectus, assim como os mais tardios Homo heidelbergensis. Muitos hominídeos do passado chegaram a fabricar pedras esféricas com lascagem, para usos como quebra de ossos, mas a coleta intencional de objetos assim tem o uso desconhecido (Imagem: Muller et al./Royal Society Open Science) Os objetos geralmente têm origem vulcânica, sendo de lapilli acrescionário, um tipo de pedra formada por cinzas expelidas em erupções violentas e explosivas. Na África do Pleistoceno, eventos como esse eram comuns. Os humanos do passado não fabricaram essas pedras, mas com certeza notaram o formato geométrico incomum delas, segundo Mussi: como as rochas em questão provavelmente eram raras nas regiões do entorno, acredita-se ter havido uma coleção atenta e proposital delas. A razão para tal, no entanto, é misteriosa. De acordo com a pesquisadora, ao longo do Pleistoceno inicial e médio, os hominídeos estavam interessados em experimentar usos apropriados das curiosas pedras — isso é provado pelas inúmeras marcas de batidas e deformações nos objetos, indicando uso percussivo (ou seja, para bater em outros objetos). Mesmo que não saibamos o uso dos artefatos, o achado aumenta nosso conhecimento sobre a cognição e comportamento dos humanos primitivos: agora sabemos que os hominídeos do Pleistoceno prestavam atenção ao ambiente constantemente, identificando recursos novos e usando a criatividade e curiosidade para encontrar usos inovadores para eles. Leia também: Hominídeos já tentavam criar esferas lascando pedras há 1,4 milhão de anos Cientistas descobrem evidências de uso controlado de fogo de 800.000 anos atrás Arte mais antiga do mundo não foi feita por humanos VÍDEO: Passagem para o submundo Zapoteca   Leia a matéria no Canaltech.

Fev 11, 2025 - 21:52
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Antepassados dos humanos colecionavam pedras esféricas e não sabemos porquê

Os primeiros humanos, ancestrais da nossa espécie moderna, perambulavam pelo que chamamos de Berço da Humanidade, na África, há milhões de anos, buscando pedras de forma perfeitamente arredondada. A razão dessa procura, no entanto, escapa aos cientistas — sabemos que os homens primitivos experimentavam com elas, talvez devido ao formato único.

Os pedregulhos redondos foram encontrados em sítios ocupados por hominídeos antigos em todo o mundo, mas, até recentemente, pesquisadores davam atenção apenas àqueles esculpidos pelos homens primitivos. Na caverna de Quesem, em Israel, há evidências de que uma espécie antiga criava ferramentas redondas para quebrar ossos de animais e acessar o tutano, por exemplo.

Achados semelhantes foram feitos em Melka Kunture, um sítio arqueológico do Vale de Awash, na Etiópia, onde ancestrais humanos viveram por milhões de anos antes de migrarem para fora da África. Estudando o local, a cientista Margherita Mussi, da Associação Internacional de Estudos Orientais e do Mediterrâneo, mudou o foco, passando a analisar as pedras esféricas coletadas, e não fabricadas pelos hominídeos.

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Coleção de esferas pré-históricas

Os pedregulhos redondos apareceram em locais ocupados entre 1,7 milhão e 600.000 anos atrás, sugerindo que a espécie que os coletou tenha sido a dos Homo erectus, assim como os mais tardios Homo heidelbergensis.

Pedras arredondadas por ação humana
Muitos hominídeos do passado chegaram a fabricar pedras esféricas com lascagem, para usos como quebra de ossos, mas a coleta intencional de objetos assim tem o uso desconhecido (Imagem: Muller et al./Royal Society Open Science)

Os objetos geralmente têm origem vulcânica, sendo de lapilli acrescionário, um tipo de pedra formada por cinzas expelidas em erupções violentas e explosivas. Na África do Pleistoceno, eventos como esse eram comuns.

Os humanos do passado não fabricaram essas pedras, mas com certeza notaram o formato geométrico incomum delas, segundo Mussi: como as rochas em questão provavelmente eram raras nas regiões do entorno, acredita-se ter havido uma coleção atenta e proposital delas. A razão para tal, no entanto, é misteriosa.

De acordo com a pesquisadora, ao longo do Pleistoceno inicial e médio, os hominídeos estavam interessados em experimentar usos apropriados das curiosas pedras — isso é provado pelas inúmeras marcas de batidas e deformações nos objetos, indicando uso percussivo (ou seja, para bater em outros objetos).

Mesmo que não saibamos o uso dos artefatos, o achado aumenta nosso conhecimento sobre a cognição e comportamento dos humanos primitivos: agora sabemos que os hominídeos do Pleistoceno prestavam atenção ao ambiente constantemente, identificando recursos novos e usando a criatividade e curiosidade para encontrar usos inovadores para eles.

Leia também:

VÍDEO: Passagem para o submundo Zapoteca

 

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