Violência silenciosa: o abuso emocional mais cruel que o ghosting

Obrigadas a reviver momentos a fim de encontrar possíveis explicações, a violência silenciosa é capaz de dilacerar a saúde mental das mulheres

Mai 10, 2025 - 21:35
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Violência silenciosa: o abuso emocional mais cruel que o ghosting

Em todos esses anos escutando mulheres, trabalhando com temas relacionados a relacionamentos, entrevistando pessoas, convivendo com histórias — eu nunca tinha ouvido falar sobre a violência silenciosa.

Claro, o ghosting está aí, escancarado nos nossos dias. Quem já se relacionou minimamente na era da internet conhece bem: a pessoa some, para de responder, e a gente se vê afundada em ansiedade, questionamentos, suposições. Infelizmente, homens ainda são muitas vezes péssimos e covardes.

Mas hoje eu proponho uma outra reflexão. Uma que eu vivi na pele — e que me atravessou com uma brutalidade dilacerante  que eu não esperava: a punição pelo silêncio.

Nunca imaginei que poderia doer tanto alguém terminar um relacionamento… me silenciando. Me podando. Me excluindo da história que também era minha. Sem entender direito o que se passou – e isso é zero drama ou vitimismo.

Talvez, por ser comunicadora, jornalista, por ter nascido com a palavra como ferramenta de expressão e sobrevivência, isso tenha doído ainda mais. Mas o que posso dizer é que foi enlouquecedor. Essa foi, sem exagero, a maior violência que eu já sofri. E olha que, como toda mulher, eu já colecionei algumas.

Recebi um relato de uma seguidora que desenvolveu síndrome do pânico após um tratamento de silêncio dado por um ex-namorado. E ali caiu a ficha: eu também. Eu também desenvolvi a síndrome do pânico. Crises horríveis, debilitantes. Eu também entrei em burnout emocional. Um ano inteiro vivendo em estado de alerta, ansiedade aguda, sem conseguir desligar — nem nos lugares mais lindos, nem nos cenários mais cinematográficos.

A violência do silêncio é vil. Cruel.

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É como ser trancada num quarto escuro com os seus piores medos e nenhuma resposta.

É ser obrigada a rever mentalmente tudo o que aconteceu, tentando achar onde errou, sem nunca ter direito a um ponto final. Sem uma resposta.

E ninguém fala sobre isso.

Ninguém fala o suficiente sobre como esse tipo de abandono gera estresse pós-traumático, crises de ansiedade, dissociação, lapsos de memória. Eu, por exemplo, perdi dias inteiros da minha vida. Simplesmente não lembro. Eu estava presente, mas não estava. Fui invadida por um estado de vigília tão intenso que o cérebro desligou.

Eu funcionava no automático: conversava, trabalhava, sorria. Mas nada ficava. Nada era gravado na minha mente. Como se fosse um grande porre, um PT, Blackout.

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É no mínimo desesperador e angustiante.

Tudo isso provocado por uma ausência imposta.

Por alguém que, talvez, não tinha ferramentas emocionais. Ou que escolheu punir com o silêncio, ao invés de encarar o que ele mesmo ajudou a construir.

E sempre vem aquela pergunta:

“Mas o que ela fez pra merecer isso?”

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Como se precisássemos merecer castigo.

Como se a dor da mulher estivesse sempre condicionada a alguma culpa.

Mas violência é violência.

E o tratamento de silêncio é, sim, uma forma brutal de violência emocional.

Haja terapia, amigas, relatos e mais terapia.

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