A alma selvagem do Havaí

Kauai, Havaí – Foto: Naiara Wagner

Por Naiara Wagner

ALOHA! A brisa quente logo na saída do avião, os coqueiros balançando no ritmo preguiçoso do vento e o tom de verde incandescente por toda parte já indicavam: estou no Havaí! Mais precisamente em Kauai, a mais inóspita e selvagem das principais ilhas do arquipélago havaiano.

Eu terminava a faculdade de Jornalismo quando vi, pela primeira vez, fotos da Garden Island — como é conhecida Kauai, graças a mais de 80% de seu território ser inteiramente coberto por natureza — em uma reportagem sobre os voos mais cênicos do mundo. A imagem de uma profusão de árvores, cachoeiras e um arco-íris no horizonte, emoldurados pelo vidro da aeronave, congelou em minha mente. Prometi a mim mesma que, um dia, sobrevoaria aquelas florestas tropicais sob asas. Quase uma década depois, finalmente conheci esse pedaço do mundo preservado em sua natureza idílica.

Hospedei-me no 1 Hotel Hanalei Bay, um hotel sustentável que funciona como retiro voltado à saúde e ao bem-estar. De aulas de ioga a infusão de vitaminas, a estadia foi pensada para promover uma profunda conexão com a natureza e consigo mesma. Nossos amanheceres eram presenteados com arcos-íris que se estendiam sobre o oceano à frente do quarto, enquanto os fins de tarde exibiam o pôr do sol entre as ondas gigantes que se quebravam na baía de Hanalei, pontilhada por surfistas e mergulhadores.

Kauai, Havaí – Foto: Naiara Wagner

Kauai é um daqueles lugares que fazem viajantes deixarem suas vidas caóticas nas metrópoles para se entregarem a uma existência mais contemplativa à beira-mar. Mas, diferente de Bali ou Tulum, ainda mantém sua essência pura e intocada. Nas praias, esqueça beach clubs ou aluguel de cadeiras, e pense em vastidões de areia deserta, onde, fora da alta temporada (julho e agosto), não é raro não encontrar absolutamente ninguém.

Anini Beach, com sua beleza serena e águas vítreas, conquistou meu coração. Cercada por uma barreira de corais, a praia tem mar calmo como uma piscina natural — um dos melhores locais para a prática de snorkeling. Já em Polihale Beach, outra visita obrigatória, montanhas imponentes confrontam o mar revolto — certamente um dos cenários mais dramáticos que já presenciei.

Me apaixonei pela culinária local, no melhor estilo farm-to-table. Os restaurantes são descomplicados, com diversas opções de pokes, vegetais, saladas e receitas típicas. O melhor café da manhã? No Hanalei Bread & Co, de Jim Moffat, célebre chef de São Francisco que, em 2004, deixou sua cidade natal e mudou-se para a ilha. Se for até lá, não deixe de provar o House Made Granola Bowl e o Monkey Juice Smoothie!

O sobrevoo que, anos antes, me apresentara Kauai foi um dos momentos mais belos da viagem. A bordo de um helicóptero, percorremos toda a ilha, especialmente a famosa Nā Pali Coast — um conjunto de falésias vertiginosas de até mil metros de altura que contrastam com o mar cristalino em formas abruptas e impressionantes. Entre elas, escondem-se cavernas e cachoeiras. Esse cenário místico e misterioso serviu de pano de fundo para as filmagens de Jurassic Park.

Kauai é um verdadeiro coro de belezas naturais. Ainda assim, talvez o mais especial e sensível de sua realidade seja a essência do que os locais costumam dizer aos turistas: malama Kauai — em tradução livre, “cuide de Kauai”. Há um verdadeiro espírito de comunidade e um compromisso sincero com a aventura feita com humildade e reverência, com o desejo de deixar a ilha melhor do que a encontramos.

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