Vida depois da morte? IA continua a conversa e até resolve heranças

Já existem pessoas a utilizar a IA para preservar vozes ou imitar entes queridos falecidos. Os memoriais online também se tornaram comuns; os fantasmas generativos podem ser os próximos, especialmente como parte da comemoração, do planeamento do fim de vida e da história.

Mai 11, 2025 - 20:16
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Vida depois da morte? IA continua a conversa e até resolve heranças

Imagine uma situação hipotética em que um pai cria uma réplica do filho falecido utilizando inteligência artificial (IA). Se este fantasma se limitasse a esta idade, comportar-se-ia sempre como uma criança: da mesma forma que falava, do mesmo nível de maturidade, da mesma aparência. Mas o que aconteceria se fosse uma versão em evolução? Essa réplica tornar-se-ia um adolescente ou um adulto?

Este dilema é apenas um exemplo do futuro que os fantasmas da IA ​​generativa, um termo atribuído num novo artigo científico assinado por Meredith Ringel Morris, da Google Deepmind, e Jed Brubaker, da Universidade do Colorado em Boulder, podem trazer. Quais são as hipóteses realistas da IA ​​ser utilizada para gerar vida artificial após a morte?

“As probabilidades são elevadas, especialmente agora que a IA está a tornar-se mais poderosa, acessível e comum”, revela Brubaker ao jornal espanhol El País.

Já existem pessoas a utilizar a IA para preservar vozes ou imitar entes queridos falecidos. Os memoriais online também se tornaram comuns; os fantasmas generativos podem ser os próximos, especialmente como parte da comemoração, do planeamento do fim de vida e da história.

Inevitavelmente, há empresas que já viram uma saída comercial para estas especulações. O Re;memory permite criar uma versão virtual interativa de alguém após o entrevistar e gravar durante sete horas. Outro exemplo é o HereAfter AI, uma aplicação que entrevista a pessoa com a ideia de criar, ao longo do tempo, uma versão digital para depois da sua morte.

Com diferenças, ambos permitem conversar com um tipo de chatbot que representa o seu ente querido e pode partilhar fotografias, gravações de voz e memórias da sua vida.

Em alguns países asiáticos, onde existe uma relação particular com a morte e os antepassados, algumas destas práticas já são mais normais. “Os países do Leste Asiático, como a China e a Coreia do Sul, parecem estar à frente, em parte porque as suas tradições culturais consideram normal manter uma relação com os antepassados. Nos países ocidentais, por outro lado, a adoção depende mais da forma como cada pessoa encara a tecnologia, a morte e o luto”, diz Brubaker.

Mas os tipos fantasmas generativos podem ser muito mais do que um simples chatbot, o que não é pouco: haverá famílias que encontrarão conforto em discutir notícias da atualidade com pessoas que já cá não estão.

Outro próximo passo na IA são os agentes, programas que podem gerir tarefas por nós. No futuro, não será incomum encontrar figuras falecidas que deixaram os seus próprios agentes.

Já não será apenas um chatbot, que poderia, por exemplo, até resolver uma disputa sobre a sua própria herança, mas sim inteligências artificiais que podem executar tarefas de trabalho mesmo depois de alguém se reformar ou, claro, morrer. “Estes fantasmas também podem ajudar os parentes dando conselhos sobre coisas que costumavam fazer na vida (como cozinhar um prato favorito ou reparar a torneira da cozinha). Em alguns casos, podem até gerar rendimentos se participarem na economia de alguma forma, ajudando assim a família financeiramente”, lê-se no artigo.

Estes tipos de trabalhos não serão assim tão incomuns para uma IA treinada com um corpus específico: “Alguns podem escrever livros, responder a perguntas ou atuar como consultores virtuais, especialmente se forem especialistas na vida. Por exemplo, o fantasma de um professor pode continuar a ensinar, ou o fantasma de um músico pode criar nova música. Parece um pouco futurista, mas não é assim tão absurdo se considerarmos a rapidez com que a IA está a avançar”, diz Brubaker.

O perfil dos indivíduos ou famílias que podem ter tendência a criar este tipo de avatares não é claro, e não existem estudos que os analisem, diz Brubaker, mas já existem alguns casos que são públicos. “Normalmente, são pessoas com um certo nível de proficiência tecnológica, preocupadas em deixar um legado ou em enfrentar doenças graves. As suas motivações estão, muitas vezes, relacionadas com necessidades emocionais e com a ligação com os outros”, diz.

A secção sobre perigos previsíveis é extensa. “Não é que haja necessariamente mais riscos, mas são mais complexos e, muitas vezes, não tão óbvios”, diz Brubaker. “Os benefícios, como o consolo ou o legado, são fáceis de compreender. Mas os riscos precisam de mais explicações para que os possamos prever e evitar”, acrescenta.

Embora no artigo os autores utilizem a palavra reencarnação para a definir, “é basicamente uma metáfora”, alerta Brubaker. “Ajuda-nos a descrever um fantasma generativo que age imitando uma pessoa falecida. É muito fácil imaginar uma IA que imita a voz e os maneirismos de uma pessoa”, acrescenta.

Mas há outras que são mais difíceis de prever, como os problemas de reputação ou de privacidade. Uma IA programada consigo