Tarifas e volatilidade cambial: há um escudo para as PME?

É sabido que o tecido empresarial em Portugal é composto praticamente por pequenas e médias empresas (PME), que representam 99% do total de empresas do país. Destas, num mundo cada vez mais global, muitas têm relação com o exterior, quer seja através de importações, exportações, ou ambas as atividades. Contudo, os últimos anos têm sido […]

Mai 3, 2025 - 13:49
 0
Tarifas e volatilidade cambial: há um escudo para as PME?

É sabido que o tecido empresarial em Portugal é composto praticamente por pequenas e médias empresas (PME), que representam 99% do total de empresas do país. Destas, num mundo cada vez mais global, muitas têm relação com o exterior, quer seja através de importações, exportações, ou ambas as atividades.

Contudo, os últimos anos têm sido marcados por uma enorme incerteza económica e política a nível global. A guerra na Ucrânia, por exemplo, obrigou a redefinir profundamente as relações comerciais. E hoje a instabilidade acentua-se com a “trade war” de Trump, onde já estão em vigor tarifas de 25% sobre alguns produtos vindos da Europa. O conflito tende agora a escalar com contramedidas por parte da Europa, numa guerra que aparenta não ser de curta duração e em que o desfecho não é de fácil previsão.

Este contexto de incerteza traz inúmeros desafios às PME, como terem de enfrentar a volatilidade do mercado de câmbio. Para muitas destas empresas, que operam com margens financeiras apertadas, as flutuações cambiais podem ter um impacto significativo nos custos e lucros. Felizmente, existem estratégias eficazes para mitigar esses riscos.

Uma das melhores maneiras de reduzir os riscos cambiais é através de contratos de fixação cambial, que protegem as empresas contra as variações das taxas de câmbio. Esta solução permite que uma empresa fixe uma taxa de câmbio para uma transação futura, sabendo exatamente o montante necessário a pagar, e a receber, na moeda definida. Caso a taxa de câmbio piore, esse movimento negativo não a afeta. No entanto, significa também que não vai beneficiar de movimentos favoráveis do mercado.

Fixar a taxa de câmbio através de contratos de fixação cambial é uma estratégia fundamental para empresas que enfrentam riscos cambiais, especialmente em setores que realizam transações internacionais, como vemos acontecer no setor têxtil, químico, metalomecânico, automóvel, etc.

Por exemplo, consideremos o caso de uma empresa têxtil que precisa de pagar 3 milhões de dólares (USD) por ano aos seus fornecedores na China. Para evitar que as flutuações cambiais tornem as suas compras mais caras, esta empresa decide recorrer a contratos de fixação cambial para garantir o custo da mercadoria e, por conseguinte, proteger a sua margem de lucro.

Num cenário em que esta empresa tenha fixado a taxa de câmbio a EUR/USD 1.07, conseguiu assegurar que, independentemente da variação do câmbio, pagará 1,07 USD por euro durante todo o ano. Se durante o ano o dólar valorizar e evoluir para níveis de EUR/USD 1.02 e esta empresa não tivesse fixado a taxa de câmbio sofreria um custo adicional superior a 137 mil euros.

Esta poupança significativa mostra como uma estratégia de fixação cambial não só protege a empresa de perdas provocadas pela valorização da moeda, como também assegura a estabilidade das margens de lucro, o que é essencial para o bom funcionamento do negócio. Num cenário económico marcado por incertezas e dificuldades em prever as flutuações cambiais, especialmente devido a fatores como as tarifas comerciais e a instabilidade política global, falar de proteção cambial ganha uma importância acrescida.

Dito isto, as PME portuguesas podem e devem procurar proteger-se da melhor forma. É a sua competitividade global que está em causa. A jornada nunca será fácil – sobretudo a curto prazo, dadas as circunstâncias atuais –, mas a adoção de soluções financeiras robustas facilita certamente o caminho e pode capacitar as empresas para um crescimento seguro e sustentável.