Tarifas dos EUA criam situação “perde-perde”, diz presidente da CNI
Ricardo Alban integra comitiva brasileira que vai aos Estados Unidos conversar com representantes do governo Trump

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, disse que as tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump (Partido Republicano), criaram uma situação em que nenhum lado ganha. Ele integra o grupo que vai aos Estados Unidos conversar com representantes do governo.
“Estamos indo lá na 4ª feira [7.mai.2025] com cerca de 10 empresas brasileiras, que, obviamente, têm relações com os Estados Unidos e com empresas norte-americanas. Vamos com a Amcham [sigla para Câmara Americana de Comércio], com representantes do governo, do Mdic [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços]. Lá, teremos reunião com atores governamentais norte-americanos”, declarou em entrevista publicada nesta 2ª feira (5.mai.2025) no Valor Econômico.
Segundo Alban, a ideia da comitiva é “encontrar os pontos críticos e aumentar as convergências” entre os 2 países.
“Somos exportadores de produtos semielaborados [para os EUA], e eles exportam [para o Brasil] produtos quase acabados, finais, como equipamentos e tudo mais. Então, isso não tem ganha-ganha para nenhum dos 2 lados, só tem perde-perde. A medida vai encarecer o custo para ambos os lados. O Brasil não tem essa tarifa tão alta em relação aos EUA, porque existem exceções, existem compensações, existem reposições”, disse.
Ao ser perguntado se os EUA estavam certos em estabelecer tarifas, Alban respondeu: “A Europa ia ter que fazer a mesma coisa para se reindustrializar ou para se modernizar. O que é que está sendo feito nos EUA, se não é nada mais nada menos do que proteger a sua indústria? Eles estão errados? Será que estão?”
O presidente da CNI disse que uma solução seria o estabelecimento de cotas para importação.
“Imagina a tendência que seria com o acirramento [da guerra tarifária]. Esta é uma realidade. Então, por que a gente não pode ter uma régua em um ponto de equilíbrio que aconteceu em 2024 e trabalharmos com um conceito razoável de reciprocidade, ou trabalhando em termos de tarifas, mas tendo um patamar que dê uma previsibilidade para a nossa cadeia produtiva?”, declarou.
De acordo com Alban, o Brasil precisa ser “inteligente” ao “aproveitar” a situação.
“Não é simplesmente ignorar a China, e não pode dar as costas para os EUA. Primeiro, porque é um grande parceiro industrial nosso. A China é uma grande parceira de commodities. Nós temos que tentar encontrar esse equilíbrio”, declarou.
Ele afirmou que a CNI está conversando com representantes de diversos setores e com o governo.
“A embaixada norte-americana mesmo nos disse que o Brasil está tendo um diálogo muito bom. Me parece que o vice-presidente Geraldo Alckmin [PSB] foi o 1º a abrir o diálogo com eles, mas existe a geopolítica. Será que tem um desfecho disso no curto prazo? Não sei nem dizer, porque a cada momento é um flash. Daqui a pouco vai sair um programa, daqui a pouco um anúncio do presidente dos EUA de um possível acordo com a Índia… Isso vai significar mais lenha na fogueira ou menos lenha na fogueira?”, declarou.