Tarifas de Trump são completamente desconectadas da realidade

Não bastasse a truculência inacreditável com que Donald Trump trata outros países, como se tivessem obrigação de se ajoelhar em contrição perante o imperador do Ocidente, as tarifas impostas por ele não têm absolutamente nenhuma base na realidade. A afirmação é de um instituto conservador. Confira abaixo esse texto publicado há pouco pelo G1: Tarifaço […] O post Tarifas de Trump são completamente desconectadas da realidade apareceu primeiro em O Cafezinho.

Abr 8, 2025 - 14:50
 0
Tarifas de Trump são completamente desconectadas da realidade

Não bastasse a truculência inacreditável com que Donald Trump trata outros países, como se tivessem obrigação de se ajoelhar em contrição perante o imperador do Ocidente, as tarifas impostas por ele não têm absolutamente nenhuma base na realidade. A afirmação é de um instituto conservador.

Confira abaixo esse texto publicado há pouco pelo G1:

Tarifaço de Trump: Fórmula da Casa Branca contém erro que faz países serem taxados até 4 vezes mais, diz grupo conservador

Análise foi feita pelo American Enterprise Institute. Cálculo foi baseado no déficit comercial dos Estados Unidos com cada um de seus parceiros comerciais.

O cálculo das “tarifas recíprocas” impostas pelo governo Trump a produtos estrangeiros contém uma falha significativa, que pode quadruplicar o valor das taxas, segundo economistas conservadores.

A administração Trump adotou uma fórmula que divide o déficit comercial dos EUA com determinado país pelo valor das importações provenientes desse país.

Os economistas Kevin Corinth e Stan Veuger, do American Enterprise Institute (AEI), afirmam que a Casa Branca utilizou incorretamente o valor de uma das variáveis: a elasticidade dos preços de importação em relação às tarifas, representada pela letra grega φ (phi).

Segundo os analistas, a Casa Branca usou φ igual a 0,25, quando deveria ter utilizado 0,945. O valor adotado pelo governo, segundo eles, se refere ao preço final dos produtos no varejo, enquanto o correto seria utilizar o preço de importação.

“Nosso entendimento é que a fórmula adotada pela administração não se baseia em fundamentos econômicos ou jurídicos. Mas, se for para fingir que é uma base sólida para a política comercial dos EUA, ao menos esperamos que os cálculos sejam feitos com precisão”, afirmam os autores em artigo publicado pelo AEI.

De acordo com eles, corrigir esse erro reduziria as tarifas calculadas para cada país a cerca de um quarto dos valores anunciados, o que cortaria proporcionalmente as tarifas reveladas por Trump, respeitando o piso de 10%.

Com isso, as tarifas aplicadas ao Vietnã, por exemplo, cairiam de 46% para 12,2%. Já as aplicadas ao Lesoto, país do sul da África cujas exportações aos EUA se concentram em diamantes, cairiam de 50% para 13,2%.

Os economistas também destacam que a Casa Branca afirmou ter se baseado em pesquisas de Alberto Cavallo, da Harvard Business School. No entanto, o próprio Cavallo criticou a fórmula: “Com base em nossa pesquisa, a elasticidade dos preços de importação em relação às tarifas é mais próxima de 1. Se esse valor fosse usado em vez de 0,25, as tarifas recíprocas seriam cerca de quatro vezes menores”, escreveu ele em uma rede social.

Corinth e Veuger afirmam que não concordam com a metodologia adotada, e que os problemas vão além do cálculo incorreto.

“O déficit comercial com um país não é determinado apenas por tarifas ou barreiras comerciais, mas também por fatores como fluxos de capital, cadeias de suprimentos, vantagem comparativa e geografia.”

A fórmula matemática usada pelos Estados Unidos tem sido alvo de críticas internacionais por desconsiderar a alíquota cobrada pelos países e focar apenas no déficit comercial dos EUA com eles.

O déficit comercial ocorre quando um país importa mais do que exporta, gerando saldo financeiro negativo. Na prática, a fórmula penaliza países pobres, que vendem aos EUA, mas não têm capacidade de compra significativa.

Um exemplo é Madagascar, cujo PIB per capita é pouco acima de US$ 500. O país enfrentará uma tarifa de 47% sobre US$ 733 milhões em exportações de baunilha, metais e vestuário.

“Presumivelmente ninguém está comprando Teslas lá”, ironizou John Denton, chefe da Câmara de Comércio Internacional (ICC), à Reuters, aludindo à incapacidade de Madagascar de importar produtos de luxo americanos.

Outro caso é o do Lesoto, descrito por Trump em março como “um país do qual ninguém ouviu falar”. Com um PIB pouco acima de US$ 2 bilhões, o país recebeu a maior tarifa da lista de Trump.

Lesoto tem superávit comercial com os EUA, com exportações de diamantes e tecidos, incluindo jeans Levi’s. Em 2024, exportou US$ 237 milhões, mais de 10% de seu PIB.

“A tarifa recíproca de 50% imposta pelos EUA vai destruir o setor têxtil e de vestuário do Lesoto”, afirmou Thabo Qhesi, analista econômico independente da capital Maseru.

Para Denton, o tarifaço de Trump ameaça agravar ainda mais a situação de países em desenvolvimento, já prejudicados por condições comerciais desfavoráveis.

A fórmula usada pelos EUA para calcular as tarifas tenta zerar os déficits comerciais bilaterais. Em teoria, ela considera importações (mi), exportações (xi), elasticidade das importações (ε) e o repasse das tarifas aos preços de importação (φ).

“Nós literalmente calculamos barreiras tarifárias e não tarifárias”, afirmou no X o vice-secretário de imprensa da Casa Branca, Kush Desai, ao defender a metodologia.

Contudo, economistas apontam que os termos ε e φ, fixados em 4 e 0,25 pelo governo, se cancelam, simplificando a fórmula ao quociente entre déficit comercial e importações.

No exemplo da China, que exportou US$ 438,9 bilhões aos EUA e importou US$ 143,5 bilhões em 2024:

  1. Subtrai-se exportações de importações: 143,5 – 438,9 = -295,4.
  2. Divide-se esse número por (438,9 * 1), já que ε x φ = 1: 295,4 / 438,9 = 0,67, ou 67%.
  3. Esse valor é dividido pela metade, resultando na “tarifa recíproca” de 34%, conforme declarado por Trump.

Esse método implica que, quanto maior o déficit dos EUA com um país, maior a tarifa imposta, explica o economista Pedro Rossi, da Unicamp.

“Trump sugeriu que a China cobra 67% de tarifas, o que não é verdade. A fórmula apenas reflete o déficit dos EUA com o país, não tarifas reais”, resume Rossi.

Para a União Europeia, a fórmula gerou uma tarifa de 20%, quatro vezes mais que os 5% estimados pela OMC.

“Para nós, é uma imprecisão colossal”, afirmou Stefano Berni, gerente do consórcio que representa o queijo Grana Padano na Itália. “Hoje, custa três vezes mais entrar nos EUA do que o inverso.”

O post Tarifas de Trump são completamente desconectadas da realidade apareceu primeiro em O Cafezinho.