Quanto ganha, afinal, um influencer em Portugal?
O tema da relevância e rentabilidade da profissão de Influencer é, cada vez mais, trazido a debate público. Afinal, o que determina o seu valor no mercado?


O marketing de influência tem sido um dos setores que mais evoluiu nos últimos anos, acompanhando as mudanças no comportamento digital dos consumidores e as exigências crescentes das marcas. Na realidade, o tema da relevância e rentabilidade da profissão de Influencer é, cada vez mais, trazido a debate público. Afinal, quanto ganha um influencer em Portugal e o que determina o seu valor no mercado?
Margarida de Paula, Chefe de Operações da Naughtyboys e Gestora de talento, esclarece que este é um setor em constante mutação, moldado pela evolução das plataformas digitais. “Se há uns anos o sucesso nas redes sociais era determinado pelo número de seguidores, agora o cenário é mais complexo. A autenticidade e a transparência são fatores essenciais e os conteúdos mais procurados são em formato de vídeos curtos, sem grande produção, quase como um ‘home-made vídeo’.”
O que define o valor de um influencer?
Atualmente, as marcas estão mais exigentes na escolha dos influencers com quem trabalham. A decisão de apostar num determinado perfil passa por uma análise detalhada de métricas e objetivos da campanha. “Se o foco for vendas e conversão, é essencial escolher alguém com uma taxa de engagement elevada, que consiga gerar interação e influência direta sobre o seu público. Se a meta for notoriedade e posicionamento da marca, a aposta pode recair numa personalidade de relevo na sua área, mesmo que a taxa de engagement não seja especialmente alta”, explica Margarida de Paula.
Além disso, a escolha do influencer depende de fatores como a adequação da marca ao seu estilo de vida. “Uma marca de produtos de cozinha dificilmente abordará uma personalidade que nunca se mostra a cozinhar ou que não tem interesse pelo tema. A afinidade entre a marca e o criador de conteúdo é fundamental para que a parceria seja credível”, sublinha Margarida.
Outro fator determinante é o orçamento disponível. “A realidade é que o valor a pagar a um influencer pode variar muito consoante a dimensão da campanha, o número de publicações, o tipo de conteúdos, a exclusividade exigida, a duração dos direitos de imagem e até a utilização de paid media”, explica a agente.
O momento da carreira do influenciador também pode impactar os valores praticados. “Se uma personalidade está com um projeto em televisão, um lançamento em plataformas de streaming ou acabou de receber um prémio relevante, esses fatores influenciam diretamente os valores cobrados.”
O número de seguidores já não é o critério absoluto para determinar o valor de um influencer, mas continua a ser um ponto de partida. “As marcas olham para o número de seguidores para identificar perfis que possam ser interessantes, mas a decisão final recai sobre métricas mais relevantes, como a taxa de engagement e o alcance real das publicações. Muitas vezes, um perfil com um milhão de seguidores tem um engagement inferior ao de outro com 300 mil, e isso impacta diretamente o retorno para as marcas”, esclarece Margarida.
Influencers mais seletivos
Se, por um lado, as marcas se tornaram mais exigentes, os influencers também estão cada vez mais seletivos em relação às marcas com quem escolhem trabalhar. “Hoje, os criadores de conteúdo não aceitam qualquer proposta. Todos os orçamentos que enviamos passam por uma análise para perceber se a associação com a marca faz sentido para a imagem da personalidade. O briefing das campanhas deve ser adaptável à linguagem do influencer para garantir um conteúdo autêntico e natural”, destaca Margarida de Paula.
Além disso, fatores como o posicionamento da marca, a flexibilidade na criação de conteúdos e os prazos de entrega influenciam a decisão dos influenciadores em aceitar ou recusar um projeto. “Trabalhamos com personalidades que não têm como única profissão ser influencers, mas sim como um complemento às suas carreiras. Por isso, temos de garantir que as parcerias não entram em conflito com os seus projetos principais.”
Como as marcas avaliam o ROI?
A avaliação do retorno do investimento (ROI) em campanhas de influência depende dos objetivos definidos para cada ação. “As marcas analisam os resultados com base no que pretendem atingir – seja notoriedade, conversões ou engagement. O acompanhamento constante das métricas e dos resultados das campanhas permite medir o impacto real da parceria”, explica a especialista.
Como se posiciona Portugal face a outros mercados?
Portugal está alinhado com as tendências internacionais, mas, de acordo com Margarida de Paula, há algumas diferenças em relação a outros mercados. “A informação que temos de parceiros em Espanha indica que, de forma geral, os valores praticados para campanhas de influência são mais baixos do que os de Portugal.”
A transparência na publicidade digital é outra questão que tem sido amplamente discutida. “As marcas estão muito atentas às diretrizes de publicidade e à etiquetagem de conteúdos patrocinados. A Direção-Geral do Consumidor tem um papel ativo na análise de mensagens publicadas digitalmente e a fiscalização tem sido cada vez mais rigorosa”, explica Margarida.
O futuro do marketing de influência
Com a evolução da tecnologia e o reforço da regulamentação, o marketing de influência está a tornar-se uma área mais profissionalizada e estruturada. “A inteligência artificial pode vir a ter um papel importante na detecção de padrões de publicidade que vão contra a legislação, promovendo mais ética e transparência no setor. A sustentabilidade deste mercado passa por garantir a confiança do público e um ecossistema mais responsável e regulado”, conclui Margarida de Paula.
O setor dos influencers continua em crescimento e a adaptação constante às novas dinâmicas do digital será essencial para o sucesso, tanto para as marcas como para os criadores de conteúdo.