Por que “Adolescência” está chocando tantos pais na Netflix?

A minissérie revela a luta interna dos jovens ao abordar bullying, misoginia e a busca por empoderamento em um mundo desconectado

Mar 29, 2025 - 21:11
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Por que “Adolescência” está chocando tantos pais na Netflix?

Há certos conteúdos tão profundos e importantes que transcendem plataformas e culturas, trazendo à tona assuntos urgentes da nossa sociedade para as rodas de conversa no trabalho, em casa e entre amigos. Em 2024, “Bebê Rena” foi essa minissérie, abordando abusos sexuais e traumas complexos.

Em 2025, pela mesma Netflix, é a vez de “Adolescência” chegar sacudindo o mundo com temas como violência, frustração, distanciamento, bullying, misoginia e desconexão – tudo dentro de casa. A minissérie é tão profunda que muitos pais, chocados e emocionados, só conseguem dizer que ela é “um soco no estômago”. Por que?

Claro que por sua atualidade e proximidade. “Adolescência” se tornou uma parte vital da conversa sobre como a comunicação – sempre problemática – está quase impossível em tempos atuais.

É fácil acusar a tecnologia como o “elemento separatista”, mas há algo mais profundo em tudo isso. Em qualquer geração, sempre houve “embates” entre filhos e pais, mas o vácuo está inegavelmente maior. Se todos um dia fomos essas crianças se tornando adultas, por que a conexão está tão perdida?

O ator e roteirista Stephen Graham, endeusado no Reino Unido, mas ainda relativamente desconhecido no exterior, se viu como nós quando acompanhou em casa não apenas uma história de violência entre adolescentes, mas várias. Por isso, não há exatamente uma única história que tenha inspirado a série, o que torna o tema apavorante.

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Stephen Graham como Eddie Miller em “Adolescência”Cr. Courtesy of Netflix/Divulgação

A grande sacada narrativa de “Adolescência” é manter a trama em quatro episódios, todos rodados sem corte e cobrindo algumas horas do pesadelo de uma família unida que é sacudida com a acusação de assassinato.

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Com atuações brilhantes de todos, ficamos consternados, ansiosos, confusos e até apavorados. O jovem Owen Cooper, marcando sua estreia como ator, já é um dos grandes talentos de sua geração. Mas voltemos um pouco atrás. A essa altura, você já deve ter visto a série, porque tentarei evitar spoilers, mas será difícil.

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Owen Cooper como Jamie Miller em “Adolscência”Cr. Courtesy of Netflix/Divulgação

Falemos um pouco mais do roteiro: somos levados a acompanhar sem muitas informações a acusação do crime (que é mostrado ao pai, mas nós nunca o vemos exatamente); a investigação e a complexidade dos adultos entenderem o que está acontecendo “de verdade”; a análise da psicóloga e a verdade exposta e, finalmente, as consequências e o impacto na família do adolescente.

No processo criminal, é atordoante que o pai, que vê um menino de 13 anos, tão vulnerável, seja o suspeito de um crime brutal. O detetive, embora empático, tem seu papel e seu objetivo, mas ele mesmo, no segundo episódio, circula entre os alunos da escola onde seu próprio filho tem sido vítima de bullying e humilhação, exatamente como o colega que foi preso.

Aqui é sensacional ver um adulto que foi popular e seguro sem conseguir entender como seu filho é o oposto, mas é o episódio mais elucidativo sobre o que realmente aconteceu e está acontecendo.

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Obviamente, o mais impactante de todos é o confronto da psicóloga com o jovem preso, com um show de Owen Cooper transitando em tantas emoções em uma sequência tão impactante. Fechamos no último episódio com o vazio, a dor e a dúvida da família se teria como ter evitado a tragédia. Ninguém erra, ninguém acerta. Esse é o soco do estômago.

Adolescência é a série que todos precisam assistir em 2025

Por essa razão, “Adolescência” já é série a essencial do ano. Ela captura brilhantemente as lutas que os adolescentes enfrentam hoje, especialmente na busca por apoio emocional e como os pais não estão prontos para cumprir seus papéis. São frustrações ainda maiores do que a sensação juvenil de não ser compreendido. Ainda assim, é fundamental abordar as dificuldades emocionais de alguma forma.

O fato de que nem o detetive sabia traduzir o emoji que acreditava significar algo, mas era o oposto, demonstra como é complexo navegar nas relações digitais. Já sabíamos que a comunicação entre os jovens tem evoluído para incluir uma nova linguagem visual que vai além das palavras.

Como emojis, na sua essência, são símbolos gráficos que representam emoções, ideias ou conceitos, eles se tornaram uma forma de comunicação quase universal, permitindo que os jovens expressem sentimentos complexos de forma concisa e imediata.

Na psicologia, os símbolos desempenham um papel crucial na formação da identidade e nas interações sociais, ajudando os indivíduos a traduzir suas experiências emocionais em formas compreensíveis.

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Em grupos sociais, os símbolos auxiliam na construção de um senso de pertencimento e na troca de significados, moldando a maneira como as pessoas percebem o mundo ao seu redor. Aquele emoji que o detetive não soube ler foi a chave para o que aconteceu depois. O que nos faz questionar: estamos, como adultos, aptos para acompanhar essa comunicação?

Há mais do que isso. A misoginia alimentada pelas mudanças culturais, que refletem comportamentos problemáticos em alguns homens, é igualmente assustadora.

São elementos que simbolizam as pressões sociais que podem criar um ambiente hostil para as mulheres, tornando ainda mais urgente que essas conversas ocorram. No confronto com a psicóloga, muito mais vem à tona e, assim como ela, ficamos trêmulos e desesperados com a verdade.

O que torna Adolescência tão impactante é sua autenticidade. Os personagens são relacionáveis e imperfeitos, navegando por suas complexidades de maneira que ressoe com muitos adolescentes, assim como com os adultos.

O retrato de temas como vulnerabilidade e a luta contra a agressão masculina mostra que, mesmo em um mundo muitas vezes opressivo, o apoio mútuo pode levar a um empoderamento verdadeiro. A série não apenas entretém, mas também provoca discussões críticas sobre misoginia e saúde mental, incentivando os jovens a se unirem em torno de suas experiências compartilhadas.

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Mais do que julgamento ou condescendência, o que a minissérie nos oferece é uma reflexão poderosa sobre a complexidade das relações adolescentes, especialmente no que diz respeito ao bullying, violência emocional e as pressões sociais que todos enfrentam – meninos e meninas.

A série nos confronta com a dura realidade de que todos são, de certa forma, vítimas e algozes. A jovem que morre, por exemplo, não é apenas uma vítima da violência; ela também carrega a responsabilidade de ser uma agressora, praticando bullying. Essa dualidade de sofrimento e agressão é um espelho da luta interna que muitos adolescentes enfrentam hoje.

Para o público feminino, isso levanta uma questão importante: o que significa ser vítima em um mundo onde, muitas vezes, as mulheres também perpetuam padrões prejudiciais? Adolescência nos desafia a repensar essa dinâmica, mostrando que os desafios emocionais e as vulnerabilidades não se distribuem de forma simples ou unilateral. Todos nós carregamos, em algum momento, o peso de ser vítima e, ao mesmo tempo, de causar dor aos outros, muitas vezes sem nem perceber.

A série nos lembra da urgência de compreendermos a complexidade das experiências dos adolescentes, sem reduzir ninguém a uma simples etiqueta de “vítima” ou “algoz”.

Ela nos convida a refletir sobre como as pressões sociais, culturais e emocionais podem transformar nossas interações de formas devastadoras e como o apoio mútuo e a empatia podem ser ferramentas de transformação.

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Adolescência oferece uma oportunidade para repensarmos como lidamos com a saúde mental, com o empoderamento e com o respeito – especialmente com as jovens, que vivem em um ambiente onde a linha entre ser vulnerável e causar dano pode ser tênue, mas igualmente real.

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