Os três tipos de ‘bear market’

Nem todos os ‘bear markets’ são iguais, mas o contexto atual pode encaixar-se melhor no que se denomina de ‘event-driven bear market’.

Mai 16, 2025 - 06:26
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Os três tipos de ‘bear market’

Os últimos meses têm sido marcados por muita volatilidade nos mercados financeiros, sobretudo nas bolsas, impulsionada pela atuação de Donald Trump no contexto da “Guerra Comercial”. O receio de uma desaceleração económica global, com epicentro nos EUA e na China, provocou uma correção significativa nos principais índices bolsistas. Durante a sessão de 4 de abril, o S&P 500 chegou a acumular perdas de 20% face aos máximos históricos – um limiar frequentemente apontado, de forma algo arbitrária, como definidor de um “bear market”.

Importa distinguir que nem todos os bear markets são iguais, com a literatura financeira a identificar três tipos: o bear market cíclico (“cyclical bear market”), o estrutural (“structural bear market”) e o desencadeado por eventos (“event-driven bear market”).

O bear market cíclico está tipicamente associado ao ciclo económico, surgindo após períodos de expansão, muitas vezes devido ao aperto da política monetária – como a subida das taxas de juro para controlar a inflação. Nestes casos, as quedas médias rondam os 30% e a duração média é de 2a meses. Já o bear market estrutural resulta de desequilíbrios profundos ou do rebentamento de bolhas, como se verificou em 2008 (crise do subprime) ou em 2000 (bolha tecnológica). Estes episódios tendem a ser mais longos e dolorosos, refletindo mudanças estruturais na economia ou no sistema financeiro. Em média, os bear markets estruturais registam quedas de 57% e uma recuperação de 42 meses.

Existem também os bear markets desencadeados por eventos (event-driven bear markets), caracterizados por quedas rápidas, causadas por acontecimentos específicos. Exemplos recentes incluem a pandemia de Covid-19 ou, no presente, o choque das tarifas comerciais. Estes bear markets costumam ser mais curtos e menos profundos, com recuperações rápidas, já que a origem do choque é mais facilmente identificável e, por vezes, reversível.

O contexto atual pode encaixar-se neste último tipo. A queda abrupta dos índices, motivada sobretudo pelo anúncio de tarifas e pela escalada verbal entre EUA e China, apresenta características de um event-driven bear market: reação rápida, elevada volatilidade e potencial para uma recuperação igualmente célere, sobretudo se surgirem surjam sinais de trégua ou medidas que agradem aos mercados como cortes de impostos ou incentivos fiscais.

Ainda assim, subsiste a dúvida: poderá a desaceleração económica transformar este bear market num episódio cíclico ou estrutural? Por agora, a resposta parece depender da atuação política. Os mercados, como sempre, reservam o direito de surpreender.