Os telemóveis estão mesmo a causar-lhe “cérebro podre”? O que diz a ciência

Será que a utilização do telemóvel está mesmo a "apodrecer-lhe o cérebro"? Médica de Harvard esclarece que o termo não é adequado para descrever os efeitos do uso excessivo dos ecrãs, mas sublinha os efeitos negativos à semelhança de outros especialistas.

Abr 10, 2025 - 20:40
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Os telemóveis estão mesmo a causar-lhe “cérebro podre”? O que diz a ciência

Em dezembro, mais de 37 mil pessoas escolheram a expressão ‘Brain rot’ – “deterioração ou podridão cerebral, numa tradução mais literal]” – como a palavra vencedora de 2024 de uma lista de seis candidatas elaborada pela Oxford University Press, editora do Oxford English Dictionary.

A escolha refletia a preocupação de uma sociedade com o “scroll” quase infinito dos dias de hoje nas redes sociais, que marcam não só uma geração como a sociedade em que vivemos, e a expressão era definida como “a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa”. 

Mas será que a utilização do telemóvel está mesmo a “apodrecer-lhe o cérebro”?

Aditi Nerurkar, médica de Harvard e especialista em stress, esclarece que o termo “apodrecimento cerebral” não é adequado para descrever os efeitos do uso excessivo dos ecrãs. Segundo a especialista, o scroll contínuo não é passivo e até ativa diversos processos no cérebro, como libertação de hormonas e estímulo de circuitos neurais. Mas causa-nos, entre outras coisas, um aumento do stress.

“Estamos hipervigilantes e atentos ao perigo. Quanto fazemos scroll, mais necessidade sentimos de fazer isso”, afirma a médica.

Existem já vários estudos que mostram que passar tempo excessivo em dispositivos digitais diminui a massa cinzenta, impacta negativamente o sistema cognitivo e reduz a nossa capacidade de atenção.

Também na saúde mental o tempo excessivo de ecrã pode ter uma série de impactos negativos, como agravamento dos sintomas de depressão e ansiedade.

De acordo com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de Columbia, “o fluxo constante de notificações e atualizações pode criar uma sensação de urgência e medo de perder alguma coisa”, causando por isso um aumento da ansiedade e stress.

Brent Nelson, psiquiatra e diretor de informações médicas da Newport Healthcare, sediada no sul da Califórnia, que opera centros de tratamento de saúde mental para adolescentes em todo o país, afirma também que “os smartphones causam mudanças abrangentes em todo o cérebro” e isso é confirmado através de vários estudos. 

À CBS News, Brent Nelson chamou a atenção para uma ressonância magnética de um estudo de 2021 na Coreia que mostrou grandes aumentos na atividade cerebral — os efeitos negativos do vício em smartphones.

“Isso mostra que o cérebro está trabalhar mais em comparação com um cérebro não viciado [em smartphones] quando solicitado para fazer uma tarefa simples”, explicou.

No estudo, as imagens de ressonância magnética dos cérebros de utilizadores viciados em smartphones eram tão coloridas, ou seja, tão ativas, que os deixavam menos atentos e mais facilmente distraídos — o que agora é informalmente chamado de “podridão cerebral”.

Esses evidências tornam-se ainda mais claras nas salas de aula em que os alunos têm cada vez mais dificuldade em manter-se atentos aos professores.