Objetivo não é criar pânico, diz comissária da UE – que já tem kit de sobrevivência

Um novo plano de preparação civil da União Europeia que inclui a recomendação de um kit para sobreviver a 72 horas sem ajuda em caso de crises extremas não tem o objetivo de criar pânico na população, defenderam autoridades do bloco durante o anúncio do projeto, na quarta-feira (26).

A chamada Estratégia de Preparação da União Europeia, que traçou 30 ações-chave para lidar com momentos de crise, pretende criar uma “cultura de prevenção e resiliência”, disseram representantes da Comissão Europeia, mas sem alarmismos.

“Estar consciente dos riscos e se preparar para eles é o oposto de criar pânico e reações irracionais, como vimos no início da pandemia de Covid-19, quando as pessoas correram aos mercados atrás de papel higiênico. Aquilo não nos protegeu de nada”, afirmou Hadja Lahbib, comissária europeia para Igualdade, Preparação e Gestão de Crises, responsável pelo plano.

Lahbib disse, inclusive, que já mantém um kit básico próprio, por hábito pessoal: “Sempre tenho pelo menos seis garrafas de água comigo. Com a rotina de viagens e aterrissagens em horários impróprios, é uma forma simples de estar preparada para dois ou três dias sem precisar sair para compras.”

As seis garrafas de água potável por pessoa são parte do kit básico recomendado no plano. Além disso, famílias deveriam estocar alimentos não perecíveis (como arroz, massas e enlatados), lanternas e pilhas, rádio e kit de primeiros socorros.

A comissária também enfatizou que a preparação começa em casa, mas deve se estender à vizinhança e à comunidade: “Devemos manter contato com nossos vizinhos, pois talvez precisemos uns dos outros em uma emergência. Fortalecer a solidariedade e a confiança nas instituições também passa por isso.”

Ao final de sua fala, Lahbib brincou: “Tenho em casa tudo o que é preciso para fazer um spaghetti alla puttanesca: macarrão, azeite, tudo”.

Mudança de mentalidade

Roxana Mînzatu, vice-presidente executiva da Comissão Europeia, afirmou que o novo plano visa mudar a mentalidade do bloco em relação à gestão de crises: “Precisamos sair de uma lógica puramente reativa e entrar em uma cultura de antecipação, informação, educação e preparação.”

Segundo ela, 90% dos cidadãos europeus reconhecem, de acordo com as pesquisas do Eurobarômetro, a importância da atuação coordenada da UE em respostas a crises. “A estratégia é também uma resposta à pandemia de Covid-19, que mostrou o valor de atuar juntos, com solidariedade e eficiência. Agora precisamos ir além”, afirmou.

O plano também prevê a criação de um “Dia Europeu da Preparação”, campanhas públicas, inclusão do tema em currículos escolares e maior integração entre governos, setor privado e sociedade civil. Em países como Finlândia, jovens já recebem treinamento em gestão de crises — uma experiência que a Comissão quer adaptar a outros Estados-membros.

O pacote de medidas apresentado traz sete pilares estratégicos, entre eles a antecipação de riscos, continuidade de serviços essenciais, coordenação civil-militar e combate à desinformação. “Nosso desafio é tornar essa lógica de preparação uma lente permanente nas políticas da União”, resumiu Mînzatu.

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