Entre a habitação e a ecologia, seis novos artistas reflectem sobre o mundo no MAAT
A partir desta quinta-feira, o MAAT expõe os trabalhos dos seis finalistas da 15.ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP. Vencedor deverá ser anunciado em Junho.


É a 15.ª edição de um dos mais relevantes prémios de arte do país. A partir desta quinta-feira e até 8 de Setembro, o MAAT expõe obras dos seis finalistas do Prémio Novos Artistas Fundação EDP. O vencedor deverá ser anunciado em Junho. "Há um critério que é fundamental, que é a qualidade artística. E isso é subjectivo, decorre de contextos, do espaço, do prémio anterior e das retóricas artísticas, importantes para que o júri marque uma posição em relação ao que queremos promover", refere Sérgio Mah, curador da exposição, juntamente com Catarina Rosendo e Luís Silva.
No total, o trio avaliou quase 700 candidaturas. Depois de cada um chegar a uma lista mais reduzida de possíveis candidatos, juntam-se para discutir a selecção feita por cada curador, um processo que Catarina Rosendo diz ser "moroso, mas estimulante". Escolhidos os seis finalistas, acompanham de perto a evolução dos diferentes projectos, incluindo a própria execução das obras. Quem irá arrecadar o prémio de 20 mil euros? Essa decisão fica a cargo de um júri internacional.
Entre desenho, vídeo, escultura e instalação, os seis candidatos este ano desdobram-se em suportes e materiais, mas também em pontos de vista e temas. O mundo que os rodeia e a própria interioridade são pontos de partida para reflectir no campo das artes plásticas e visuais. É este o exercício levado a cabo por Inês Brites, a primeira jovem autora da exposição, no edifício da antiga central. Num espaço rodeado de paredes brancas, a artista juntou um conjunto de objectos domésticos, de uso quotidiano no contexto da vida contemporânea ocidental. Através de luz e movimento, estes objectos surgem reanimados e retirados da sua função habitual.
Uma reflexão diferente da que fez Maja Escher, artista natural de Santiago do Cacém, com ascendência alemã. Com panos de algodão, cerâmica e sementes criou uma instalação de linhas orgânicas, por onde público pode circular. Os tecidos foram tingidos com terra que a própria recolheu, reforçando os laços da artista ao meio natural. O trabalho colaborativo e mutualista é outro dos traços visíveis, denotando uma ecologia suficientemente abrangente para envolver natureza e relações humanas.
Sara Chang Yan trabalhou para eliminar qualquer vestígio de figurativismo. Ao abraçar a pura abstracção, nos seus desenhos há espaço apenas para a intuição, a oração e os momentos de consciência. Do negro profundo às manchas de cores, a artista deixa uma nota de optimismo, na esperança de que "a vida seja mais alegre do que o mundo que vemos".
Francisco Trêpa, outro dos finalistas, foi dos que apostou na escala. Com um revestimento de cera, criou uma estrutura alusiva aos postes de electricidade usados pelas cegonhas para nidificar. Uma relação de conflito entre natureza e aparato humano que o artista nos desafia a contemplar de perto, enquanto circulamos sob e em torno da instalação, habitada por figuras em cerâmica. São exemplares do "sci-fi barroco" que há muito povoam a obra de Trêpa – figuras de aspecto alienígena, ali colocadas para despertar reacções tão díspares como a repulsa e a empatia.
Já o trabalho de Alice dos Reis surge dividido em duas partes – uma tapeçaria, distribuída ao longo de quatro peças, e um pequeno filme. Tecnologia, género, história da ciência e ansiedades pessoais povoam o imaginário da jovem artista lisboeta, que trabalhar sempre sobre uma narrativa. Aqui, a história é a de uma freira, no século XIIX, contratada pelo Vaticano para ajudar a mapear as estrelas fotografadas pela primeira vez.
A exposição termina com a instalação de Evy Jokhova, que partiu do curioso caso do caranguejo-ermita, espécie que tem de procurar a própria concha para sobreviver, para apontar a mira à crise da habitação. A estrutura, em tecido, está entre a tenda e o teatro e convida também ela o público a entrar e a colocar-se na pele do pequeno caranguejo, ao entrar em cada uma das conchas costuradas na instalação.
Criado em 2000, o Prémio Novos Artistas Fundação EDP tem como objectivo apoiar e dar visibilidade à produção de artistas emergentes nas artes plásticas e visuais. Ao longos dos anos, o prémio foi entregue a nomes sonantes do quadrante artístico português, como Joana Vasconcelos, Leonor Antunes, Vasco Araújo, Gabriel Abrantes, Claire de Santa Colomba e Diana Policarpo, entre outros.
Avenida de Brasília (Belém). Qua-Seg 10.00-19.00. Até 8 Set. 11€