O que as marcas podem (e devem) aprender com Rafael Nadal

Opinião de Ricardo Mena, Coordenador PG Branding IPAM IADE

Abr 30, 2025 - 21:48
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O que as marcas podem (e devem) aprender com Rafael Nadal

Texto de Ricardo Mena, Coordenador PG Branding IPAM IADE

Depois de escrever sobre o exemplo de Michael Jordan para as marcas, somente o poderia continuar com alguém que, para mim, simboliza a mesma paixão, superação e atitude indomável para vencer: Rafael Nadal.

Rafa Nadal, muitas vezes referenciado como “Rei da Terra Batida”, reformou-se oficialmente, marcando o fim de uma carreira notável que se estendeu por quase duas décadas. Conhecido pela sua determinação, resiliência e espírito desportivo, o impacto de Nadal no desporto é inegável. Com 22 títulos de singulares do Grand Slam, incluindo um recorde de 14 títulos do Open de França, o seu legado está gravado na história do ténis.

A presença de Nadal nas redes sociais, com 15,4 milhões de seguidores no X (Twitter) e 21,9 milhões no Instagram, exemplifica uma marca pessoal cuidadosamente pensada que se estende para além do campo de ténis. As suas plataformas destacam o seu percurso inspirador no desporto, desde marcos e conquistas pessoais que impactam os fãs a nível mundial. Nadal também usa a sua influência para dar destaque às suas iniciativas filantrópicas, como a sua dedicação a cultivar aspirantes a talentos do ténis através da Rafa Nadal Academy.

As suas parcerias duradouras, nomeadamente com a Nike e a Kia, reforçaram o Esta abordagem autêntica e orientada para um objetivo posiciona-o não só como um atleta célebre, mas também como um modelo e embaixador do desporto.Com uma receita

anual estimada em 23 milhões de dólares só de patrocínios, Nadal provou ser um dos atletas com mais impacto a nível mundial. A sua abordagem seletiva aos patrocínios garante que se alinha com marcas que refletem os seus valores pessoais, mantendo a sua autenticidade aos olhos do público.

Deixo aqui as minhas reflexões sobre o legado de Rafa Nadal que podem ser uma inspiração para as marcas (e as pessoas):

1. Não queira ser tudo. Decida e treine arduamente!

O seu tio Toni fez com que o sobrinho se tornasse esquerdino quando era mais novo, pois era um destro nato pois acreditava que seria uma mais valia no seu futuro. Isto exige uma dedicação tremenda, uma vez que passar para a mão não dominante para quase tudo, quanto mais para jogar ténis, é muito difícil, como todos sabem.

No caso das organizações, quando nos deparamos com um problema, a solução é, muitas vezes, adicionar mais pessoas, mais processos, mais tecnologia e mais orçamento, mas nem sempre significa uma maior eficiência. Não queira ser tudo, decida a sua vantagem e treine repetidamente para que nunca ninguém a consiga bater!

2. A vantagem de responder mais tarde

Se repararem, Nadal responde muito atrás da linha de serviço mesmo contra alguns dos mais decisivos jogadores na resposta, como André Agassi.

Este tempo extra dá-lhe maior foco em conhecer a posição de serviço do oponente, a forma como coloca o corpo e levanta a bola. Permite assim perceber onde melhor contra-atacar na resposta.

Já a atividade de uma organização atualmente é muito caracterizada pela velocidade e faz sentido em vários casos como uma reclamação urgente. No entanto, quando comunicamos de forma consistente e repetida a um concorrente, a uma moda etc. estamos a enfraquecer a nossa importância para com a comunidade.

O silêncio e o tempo são, muitas vezes, a melhor resposta!

3. O poder “tranquilizante” dos Rituais

O tio Toni incutiu uma grande atenção aos pormenores, pois tudo tinha de ser feito com intenção e objetivo. Nadal prova-o sempre que entra em campo; coloca as garrafas de água na mesma posição em cada jogo; limpa o suor da cara no mesmo local exato antes de cada serviço; bate com o seu forehand com o mesmo golpe de forma repetida.

As rotinas emocionais dão-nos marcos que nos permitem maior foco e estabilidade em situações de incerteza. Estes rituais sempre tiveram uma importância na evolução da sociedade sendo um sinal claro de pertença a uma comunidade.

As marcas devem focar-se nestes mesmos rituais, e com uma forte componente física pois alimentam a fé e a crença no seu propósito. Este senso de pertença será

essencial às marcas que pretendem um maior envolvimento num mundo cheio de mudanças e distrações.

As marcas que não tem rituais próprios, não o são, na sua essência (um bom exemplo é a Harley Davidson).

5. Construir uma vantagem a partir de uma competência base

Nadal sempre foi considerado o “Rei do pó de tijolo”, frutos dos seus 14 títulos em Roland Garros. Isto representa a maioria dos seus títulos de Grand Slam´s ganhos,

Considero este um grande exemplo para futuras marcas (as que já o são cumprem bem este ponto) para que se possam hiperespecializar numa competência única.

Num mundo onde a generalidade é rainha, é essencial deter um eixo de competência que pode ser uma cultura interna de excelência, uma capacidade tecnológica única ou mesmo a compreensão de um determinado público.

Após criar este impacto, podemos abrir o nosso âmbito a outras áreas ou produtos pois a essência da nossa competência foi comprovada (a Apple é um excelente exemplo).

5. Uma vontade inabalável de ressurgir

Rafa Nadal teve inúmeras lesões na sua carreira, muitas delas graves e que o fizeram pensar em desistir.

O que distingue uma Marca de uma Empresa é essa mesma crença nos seus valores, no seu propósito. É isto mesmo que as faz evoluir, adaptar-se e resistir em tempos difíceis. Está no seu ADN e isso é tudo.

6. Um olhar sempre no futuro

A sua aposta em empresas tecnológicas como a Infosys para desenvolver ferramentas de análise de jogos baseadas em IA mostra a sua abordagem inovadora, posicionando-o como um empresário orientado para o futuro.

O exemplo de Nadal para as marcas, reside não só na sua capacidade atlética, mas também na sua personalidade humilde e acessível, o que faz dele um trunfo valioso para as marcas que procuram alinhar-se com uma figura positiva e ambiciosa. A sua energia incansável e a sua atitude de nunca desistir inspiraram milhões de pessoas em todo o mundo e a sua influência estende-se muito para além das suas atuações no campo.

Nadal provou sempre, que não havia nada a provar. E sua Marca?