Novo era esperança, mas se perdeu no oportunismo, diz Amoêdo

Ex-presidente e um dos fundadores declara que partido não tem mais propostas, tornou-se irrelevante e só segue Bolsonaro

Abr 20, 2025 - 15:51
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Novo era esperança, mas se perdeu no oportunismo, diz Amoêdo

O ex-presidente do partido Novo João Amoêdo afirmou em entrevista ao Poder360 que a sigla que ajudou a fundar “se perdeu” depois de ter abraçado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por “cálculos eleitorais oportunistas”.

Segundo o empresário, a legenda “era uma esperança para a população brasileira”, mas agora não tem mais ideais e se tornou irrelevante no cenário político.

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Amoêdo teve sua filiação suspensa pelo Novo em 27 de outubro de 2022 depois de anunciar apoio ao então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no 2º turno da eleição daquele ano. No mês seguinte, anunciou que deixaria o partido.

“Resolvi sair porque eu entendi que o Novo, a partir daquele momento [na eleição de 2022], e até talvez um pouco antes, tinha abraçado, por cálculos eleitorais e oportunistas, o bolsonarismo de forma disfarçada. […] O Novo era uma esperança para a população brasileira, era uma esperança de mudança, da construção de uma instituição diferente, com práticas políticas diferentes. E isso deixou de existir, infelizmente”, afirma.

Para Amoêdo, a sigla que ajudou a fundar não traz mais “nenhuma proposta para melhorar a vida dos brasileiros”. O empresário diz não admirar ninguém do partido hoje em dia.

Assista (33min28s):

Amoêdo também criticou na entrevista ao Poder360 a ida de 7 governadores ao ato na avenida Paulista, em São Paulo, em 6 de abril, a favor do projeto de lei que anistia os condenados pelos atos extremistas do 8 de Janeiro. Entre os chefes estaduais presentes estava Romeu Zema, de Minas Gerais, um dos principais nomes do Novo.

Para o ex-presidente do partido, a presença dos governadores no ato demonstrou uma “subserviência” a Bolsonaro que faz “muito mal ao país” e não condiz com os cargos que cada um exerce.

Ele afirma que o PL da anistia visa só a beneficiar Bolsonaro e não deveria ser “prioridade” no momento.

“Os brasileiros já mostraram também, na sua grande maioria, em pesquisas, que são contra a anistia, mas o Congresso segue fazendo aquilo que lhe interessa majoritariamente. Não são todos os deputados, mas boa parte deles”, disse.

RELAÇÃO E VOTO EM LULA

Amoêdo, que se considera um liberal, também fez críticas ao governo Lula, que classifica como “ruim” e “retrógrado”. Apesar disso, afirmou não se arrepender do voto dado ao petista em 2022.

“Não me arrependo de forma nenhuma. Eu nunca tinha votado no PT, mas fiz essa escolha com receio muito grande de que a gente viesse a ter um golpe de Estado com o Bolsonaro. Não em 2022, mas em 2026 […] Entendi que naquele momento era um voto necessário”, afirma.

Na avaliação do empresário, Lula tem feito “muito pouca coisa” e fala sobre “temas atrasados”.

“A ideia de que o problema todo é de comunicação, não é. O problema é de conteúdo. A pauta da responsabilidade fiscal, que seria fundamental para a gente estar combatendo a inflação, foi deixada de lado. Nunca teve prioridade por parte do governo”, diz.

Para melhorar o governo e a política econômica do Brasil, Amoêdo sugeriu duas medidas a Lula:

  • Aproveitar oportunidades – o ex-presidente do Novo afirma que as tarifas recentemente impostas pelos Estados Unidos a vários países são uma oportunidade para o Brasil reduzir barreiras alfandegárias e fazer novas parcerias comerciais;
  • Anunciar último mandato – para Amoêdo, Lula deveria anunciar já que este será seu último mandato na Presidência da República. Segundo ele, é hora de o petista “passar o bastão”.

Apesar de ter apresentado esses 2 conselhos, Amoêdo diz acreditar que o presidente não seguirá suas recomendações.

“HADDAD É SABOTADO”

Sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Amoêdo afirmou que o petista faz, “dentro do possível”, um “bom trabalho”, mas é “sabotado” por Lula e pelo PT.

“O ministro Haddad tem sido sabotado, muitas vezes, pelo próprio presidente Lula e pelo seu partido, o PT, com críticas internas. E tem feito, dentro do possível, acho que algo positivo, que é dar tranquilidade e transparência a algumas medidas”, disse.

Apesar dessa avaliação, o engenheiro declara que a política econômica “evoluiu muito pouco” neste governo. Culpa um “Congresso muito difícil” e um “presidente fraco e com ideias antiquadas” por essa situação.

“No geral, ele [Haddad] tem feito um trabalho, eu diria, regular para bom. Mas, no final, dentro de todo esse cenário, com todas essas características, ele vai entregar pouca coisa, infelizmente”, afirmou.

TEMAS SOCIAIS

Amoêdo foi candidato à Presidência da República pelo Novo em 2018. Terminou em 5º lugar na época, com 2,5% dos votos válidos (2,7 milhões de eleitores).

O Poder360 perguntou a opinião do empresário sobre 7 temas de interesse social. Eis as respostas:

  • Flexibilização do aborto“Acho que isso tem que ser defendido pelo Congresso. Não cabe a mim. Eu, como presidente, aceitaria o que o Congresso resolvesse, porque eu acho que o Congresso, legitimamente eleito, deveria representar a população”;
  • Drogas para uso recreativo “Acho que é um assunto que não deveria ser pauta do Brasil no momento. A gente tem tantos problemas. Defendo a liberdade das pessoas, então, acho que isso é fundamental, mas, no momento, eu não mexeria na questão das drogas”;
  • Cotas para minorias em universidades“As cotas estão em vigor. Eu manteria, mas faria uma avaliação ao final delas, da sua eficácia. Tendo a achar que a eficácia é baixa, e que, inclusive, muitas das cotas não fazem sentido. Preferia a gente ter uma sociedade que não dependesse de cotas”;
  • Privatizar a Petrobras “Sou a favor, acho que não cabe ao governo extrair petróleo, administrar banco, distribuir correspondência. Acho que teríamos um país muito mais próspero, com um ambiente muito menos propício à corrupção, com a Petrobras sendo uma empresa privada”;
  • Privatizar Banco do Brasil e Caixa Econômica“Idem. Acho que os 2 deveriam ser privatizados. […] Na verdade, muitas vezes, essas empresas são utilizadas como cabide de empregos, para alocação de apadrinhados e perpetuação dos políticos que estão no poder”;
  • Atuais regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)“Eu sou a favor. Acho que, quanto mais flexível for a nossa legislação trabalhista, mais protegido estará o trabalhador, e não o contrário. Acho que, em um ambiente competitivo, de livre mercado, o fato de não ter amarras fará com que o empregador tenha mais flexibilidade para contratar, para investir, e isso vai se reverter diretamente para o trabalhador”;
  • PEC da escala 6 X 1“Acho que não cabe, no Brasil, ainda, a escala 6 X 1. A gente tem que buscar produtividade. Não tenho nada contra as pessoas trabalharem menos, mas, no cenário que temos hoje, trabalhar menos significa ter menos recursos”.