Não há pachorra para tanta maré de estupidez
(créditos: daqui) Houve quem viesse criticar, quem se insurgisse, contra o facto das cerimónias do 25 de Abril – “agenda festiva”, escreveu-se –, tivesse sido "cancelada". Esta expressão surgiu em toda a comunicação social a que tive acesso após as declarações do ministro Leitão Amaro. João Gonçalves recomendou que “as vestais do “Estado laico” e do “fascismo nunca mais” fossem ler a legislação que define o luto nacional e as restrições que implica. Eu, que não sou uma vestal do Estado laico, não emprenho pelos ouvidos nem participo em manifestações delirantes, tirando as que ocorrem de tempos a tempos no Estádio do Sport Lisboa e Benfica, onde mantenho – penso – sempre a distância e o bom senso –, pois que nem em pequenino gostava de “ajavardar”, fosse na linguagem ou nos actos – verifiquei a legislação e lá não encontrei nada que obrigasse ao cancelamento das “festividades”. Abrilistas ou outras. O Governo veio depois "esclarecer" – não há nada que fique esclarecido à primeira – que afinal não havia cancelamento. Apenas um adiamento dos "momentos festivos". Cada vez estou mais longe, graças a Deus, de algumas das preocupações dos meus compatriotas. E como não alinho em arraiais, e também não deverei conseguir votar nas próxima eleições – porque na CNE não sabem ler a lei e encerraram mais cedo do que o devido a actualização dos cadernos, impedindo-me de votar presencialmente, sendo que até hoje também ainda não chegou sobrescrito com a documentação para poder votar –, tive o cuidado de verificar o que se irá fazer em Itália, cujo Dia da Libertação cai exactamente a 25 de Abril. Este ano comemorar-se-á o 80.º aniversário da Libertação. Pois bem, tanto quanto numa pesquisa rápida me apercebi, as mais altas figuras do Estado italiano, e todo o país comunal, não deixarão de celebrar, leia-se festejar, o Dia 25 de Abril, dia da libertação do nazifascismo, embora com um programa "aligeirado" quanto às principais figuras do Estado. Na verdade, nesse dia, o Presidente Sergio Matarella e a Presidente do Conselho, Giorgia Meloni, estarão ambos em Roma, no Altare della Patria, na piazza Venezia, onde depositarão uma coroa de flores. Depois, Matarella, ainda convalescente após alguns problemas de saúde, seguirá para Génova, onde decorrerão as comemorações oficiais. Aí almoçará, regressando mais cedo a Roma para receber os dignitários estrangeiros que começarão a chegar para as exéquias fúnebres do Santo Padre. As cerimónias oficiais devido ao luto oficial serão “aligeiradas” – "hanno spinto il Quirinale a sfoltire le voci in agenda", escreveu o la Repubblica, isto é, salvo melhor tradução, a "reduzir os pontos da ordem do dia" –, o que é bem diferente de cancelamento ou adiamento, embora por todo o país, todas as comunas italianas, incluindo Roma, e com excepção, creio, apenas de Ponte San Nicoló, no Veneto, que cancelou todas as cerimónias, de Norte a Sul, não se deixará de festejar, sublinho, festejar, celebrar, comemorar, o 25 de Abril. Estou certo de que em Itália, onde o luto declarado foi de 6 dias, haveria muito mais razões, até pela proximidade ao Vaticano, para pura e simplesmente se anunciar o cancelamento ou o adiamento dos eventos oficiais. Não foi isso que aconteceu. E Meloni pode ter muitos defeitos, mas seguramente que não é de esquerda, menos ainda da esquerda radical. E também não é parva. O Governo errante de Montenegro, se estava à espera do Conselho de Ministros, poderia enveredado pelo luto oficial a partir do próprio dia 26 de Abril – dia do funeral do Papa Francisco, em que talvez fizesse mais sentido iniciar o luto –, de maneira a não contender com o 25 de Abril. Não o quis fazer por mero tacticismo político, criando mais um motivo de discórdia e polémica em período pré-eleitoral. Aliás, bastaria observar o tom e o modo das declarações de Leitão Amaro para se perceber como a agenda e o estilo do “trumpismo” tomou conta deste rebanho de ignaros e pastores sem mundo que, à direita hoje, à esquerda ontem ou amanhã, manda em Portugal. Governar é só para quem sabe. E isto, refiro-me ao luto, não tem nada a ver com o facto de o Estado português ser por natureza laico, independentemente de o catolicismo ser a religião predominante no país e entrar pela nossa carne, de portugueses e ainda mesmo naqueles que se reconhecem como ateus, e só parar no tutano. Em causa está o respeito pelo falecimento de um Chefe de Estado de um país estrangeiro com o qual Portugal e os portugueses têm relações diplomáticas e de amizade há séculos. É válido para o defunto ou para outro qualquer. Francesco, Francisco, Francis, qualquer que seja a língua em que pronunciem o seu nome foi um homem que marcou o seu tempo. Dentro e fora da Igreja. E não foi pelas más razões. Pela sua bondade, pelo seu carácter, pela sua generosidade, por tudo aquilo que nos trouxe, a católicos, ateus, agnósticos, gente de outros credos, na recuperação de valores do humanismo cristão, na lealdade ao próximo e na entrega aos outros, no exemplo,

(créditos: daqui)
Houve quem viesse criticar, quem se insurgisse, contra o facto das cerimónias do 25 de Abril – “agenda festiva”, escreveu-se –, tivesse sido "cancelada". Esta expressão surgiu em toda a comunicação social a que tive acesso após as declarações do ministro Leitão Amaro. João Gonçalves recomendou que “as vestais do “Estado laico” e do “fascismo nunca mais” fossem ler a legislação que define o luto nacional e as restrições que implica.
Eu, que não sou uma vestal do Estado laico, não emprenho pelos ouvidos nem participo em manifestações delirantes, tirando as que ocorrem de tempos a tempos no Estádio do Sport Lisboa e Benfica, onde mantenho – penso – sempre a distância e o bom senso –, pois que nem em pequenino gostava de “ajavardar”, fosse na linguagem ou nos actos – verifiquei a legislação e lá não encontrei nada que obrigasse ao cancelamento das “festividades”. Abrilistas ou outras.
O Governo veio depois "esclarecer" – não há nada que fique esclarecido à primeira – que afinal não havia cancelamento. Apenas um adiamento dos "momentos festivos".
Cada vez estou mais longe, graças a Deus, de algumas das preocupações dos meus compatriotas. E como não alinho em arraiais, e também não deverei conseguir votar nas próxima eleições – porque na CNE não sabem ler a lei e encerraram mais cedo do que o devido a actualização dos cadernos, impedindo-me de votar presencialmente, sendo que até hoje também ainda não chegou sobrescrito com a documentação para poder votar –, tive o cuidado de verificar o que se irá fazer em Itália, cujo Dia da Libertação cai exactamente a 25 de Abril. Este ano comemorar-se-á o 80.º aniversário da Libertação.
Pois bem, tanto quanto numa pesquisa rápida me apercebi, as mais altas figuras do Estado italiano, e todo o país comunal, não deixarão de celebrar, leia-se festejar, o Dia 25 de Abril, dia da libertação do nazifascismo, embora com um programa "aligeirado" quanto às principais figuras do Estado.
Na verdade, nesse dia, o Presidente Sergio Matarella e a Presidente do Conselho, Giorgia Meloni, estarão ambos em Roma, no Altare della Patria, na piazza Venezia, onde depositarão uma coroa de flores. Depois, Matarella, ainda convalescente após alguns problemas de saúde, seguirá para Génova, onde decorrerão as comemorações oficiais. Aí almoçará, regressando mais cedo a Roma para receber os dignitários estrangeiros que começarão a chegar para as exéquias fúnebres do Santo Padre.
As cerimónias oficiais devido ao luto oficial serão “aligeiradas” – "hanno spinto il Quirinale a sfoltire le voci in agenda", escreveu o la Repubblica, isto é, salvo melhor tradução, a "reduzir os pontos da ordem do dia" –, o que é bem diferente de cancelamento ou adiamento, embora por todo o país, todas as comunas italianas, incluindo Roma, e com excepção, creio, apenas de Ponte San Nicoló, no Veneto, que cancelou todas as cerimónias, de Norte a Sul, não se deixará de festejar, sublinho, festejar, celebrar, comemorar, o 25 de Abril.
Estou certo de que em Itália, onde o luto declarado foi de 6 dias, haveria muito mais razões, até pela proximidade ao Vaticano, para pura e simplesmente se anunciar o cancelamento ou o adiamento dos eventos oficiais. Não foi isso que aconteceu. E Meloni pode ter muitos defeitos, mas seguramente que não é de esquerda, menos ainda da esquerda radical. E também não é parva.
O Governo errante de Montenegro, se estava à espera do Conselho de Ministros, poderia enveredado pelo luto oficial a partir do próprio dia 26 de Abril – dia do funeral do Papa Francisco, em que talvez fizesse mais sentido iniciar o luto –, de maneira a não contender com o 25 de Abril. Não o quis fazer por mero tacticismo político, criando mais um motivo de discórdia e polémica em período pré-eleitoral. Aliás, bastaria observar o tom e o modo das declarações de Leitão Amaro para se perceber como a agenda e o estilo do “trumpismo” tomou conta deste rebanho de ignaros e pastores sem mundo que, à direita hoje, à esquerda ontem ou amanhã, manda em Portugal. Governar é só para quem sabe.
E isto, refiro-me ao luto, não tem nada a ver com o facto de o Estado português ser por natureza laico, independentemente de o catolicismo ser a religião predominante no país e entrar pela nossa carne, de portugueses e ainda mesmo naqueles que se reconhecem como ateus, e só parar no tutano. Em causa está o respeito pelo falecimento de um Chefe de Estado de um país estrangeiro com o qual Portugal e os portugueses têm relações diplomáticas e de amizade há séculos. É válido para o defunto ou para outro qualquer.
Francesco, Francisco, Francis, qualquer que seja a língua em que pronunciem o seu nome foi um homem que marcou o seu tempo. Dentro e fora da Igreja. E não foi pelas más razões.
Pela sua bondade, pelo seu carácter, pela sua generosidade, por tudo aquilo que nos trouxe, a católicos, ateus, agnósticos, gente de outros credos, na recuperação de valores do humanismo cristão, na lealdade ao próximo e na entrega aos outros, no exemplo, no desprendimento, na genuinidade e lhaneza de carácter, na sua autenticidade de dimensão universal, usando a palavra e o credo como factor de união, e não de criação de conflitos, protegendo quem tem de ser protegido, procurando lavar e desinfectar o chão da sua Igreja, livrando-a de escaravelhos e delinquentes, criticando os dogmas, a estupidez, a imbecilidade e a criminalidade instalada, recebendo todos no seu seio, fazendo diferente até na hora da sua partida, mostrando ser capaz de com toda a lucidez voltar a escolher a sobriedade, a discrição, a herança e o recolhimento de Santa Maria Maggiore, não merecia que este fosse mais um momento de profundo atavismo moral dos matumbos que governam o nosso país.
Nunca, nos tempos mais recentes, se diria com mais propriedade que quiseram ser, e mostrar que são, "mais papistas do que o papa”.
Os Pauliteiros de Miranda virão a 1 de Maio. Os novos trauliteiros já estão em Lisboa.
P.S. Estou fora. Não me revejo nestes broncos, nem nos antecessores. E aqui, onde 25 de Abril não é feriado, a não ser na minha alma e no Consulado de Portugal e conexos, embora se celebre, muitos choram a perda de Francisco. Mas estou exausto, cansado, farto de tanta estupidez, de tanta discussão estéril, de tanto conflito inútil que me chega da Pátria. Na Igreja de Francisco havia lugar para todos. No Portugal de hoje, onde não se distingue o escrutínio da difamação, só há lugar para os sonsos, para os labregos, para os chicos espertos, para estas abencerragens, sejam eles quem for, que se revezam na ocupação da cadeira do poder, enquanto esperam que os governados, os lorpas, lhes ofereçam os votos e os aplausos, e veneradamente lhes dêem lustro aos sapatos “marron clarinho”.