Leão XIV e Trump terão boa relação? Historiador italiano aposta na diplomacia do papa
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ROMA – A eleição do cardeal Robert Francis Prevost como o novo papa Leão XIV marca um ponto de inflexão na história da Igreja Católica — e também na geopolítica global. Pela primeira vez, o pontífice é um norte-americano, vindo de uma das maiores potências do planeta e, ainda por cima, em um momento de alta tensão política internacional, com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.
Em entrevista ao InfoMoney, o professor italiano Roberto Regoli, da Pontifícia Universidade Gregoriana, analisou o impacto imediato da eleição de Leão XIV e seus possíveis desdobramentos nas relações com Washington e na governança financeira do Vaticano.
Regoli é diretor do Departamento de História da Igreja da Gregoriana, professor titular de História Eclesiástica, doutor pela própria instituição e autor de diversos estudos sobre o papado contemporâneo. É também diretor da revista Archivum Historiae Pontificiae e membro de comitês científicos internacionais em universidades e centros de pesquisa dedicados à diplomacia pontifícia e à história da Igreja.

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Papa e Trump: duas figuras americanas na cena global
Para Regoli, a eleição de um papa vindo dos Estados Unidos rompe uma barreira histórica dentro da Igreja. “É a primeira vez que temos um cardeal eleito vindo de uma potência como os Estados Unidos. No passado, isso era impensável”, afirmou. E isso, segundo ele, coloca o pontífice em uma posição singular de visibilidade — inclusive diante de Donald Trump, com quem deverá se encontrar em breve.
“Será muito interessante observar a relação entre duas figuras americanas de grande projeção global: Donald Trump e o Papa Leão XIV. Talvez eles consigam se entender melhor, porque, no contexto complexo do mundo atual, a cooperação é o melhor caminho para o futuro da humanidade”, diz o professor.
Segundo Regoli, apesar da nacionalidade comum, o novo papa traz um histórico cultural multifacetado. “Ele é um homem de três mundos: europeu, por origem; latino-americano, por sua missão no Peru; e norte-americano, por nascimento. Isso lhe dá uma perspectiva internacional e espiritual única.”
Cooperação entre potências e Igreja
Para o professor, a presença de um papa norte-americano pode favorecer pontes diplomáticas e abrir espaço para maior entendimento entre a Igreja e grandes potências, como os Estados Unidos. “Num mundo tão fragmentado, a cooperação é essencial — na defesa dos valores espirituais, dos direitos humanos e da dignidade da pessoa.”
A relação com Trump, nesse sentido, será observada com atenção nos próximos meses. E, no campo interno, a escolha de Leão XIV pode representar uma nova fase — com menos rupturas e mais articulação institucional.
“Todo papa é um homem de reformas. Mas a reforma sempre depende do contexto, da estrutura e das alianças. Veremos nos próximos meses que tipo de reforma Leão XIV deseja realizar — e com quem ele contará para isso”, conclui Regoli.
Governança financeira: desafios seguem vivos
Entre os principais desafios do novo pontífice está o da governança financeira da Santa Sé. Apesar dos avanços em transparência nos últimos anos, a estrutura econômica do Vaticano segue sob pressão: déficit operacional, queda nas doações e um rombo bilionário no fundo de pensão.
“Desde Bento XVI, houve muitas reformas em questões financeiras. A transparência não é mais uma política: é uma exigência de Estado”, aponta Regoli. Ele reforça que o novo papa tem experiência administrativa, acumulada como superior da Ordem de Santo Agostinho e como bispo no Peru. “Agora, como papa, sua perspectiva muda. Ele precisará de colaboradores. E será importante observar quem será nomeado responsável pelas finanças do Estado do Vaticano, no IOR e em outras agências da Santa Sé.”
Herança de Francisco e o equilíbrio com a Cúria
Para além das relações diplomáticas, Leão XIV assume a liderança da Igreja com a expectativa de dar continuidade ao legado de reformas iniciado por Francisco, mas também com a necessidade de encontrar um novo equilíbrio com a Cúria Romana.
“O nome escolhido — Leão XIV — é, por si só, um programa. É continuidade, mas também é diferença”, avalia Regoli. “Na sua primeira missa com os cardeais, ele falou com equilíbrio. Citou referências espirituais que lembram Francisco, Bento XVI e até papas do século XIX. A escolha desse nome mostra que ele não pretende romper, mas avançar com nuances próprias.”
Apesar da projeção política e institucional, Regoli destaca que a primeira mensagem de Leão XIV foi religiosa. “Seu discurso de estreia foi profundamente espiritual. Não vimos um texto político, mas algo centrado no evangelho e na vida interior. Há quem fale em des-secularização — e esse papa parece caminhar nessa direção”, completou.
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