Grupo alemão vai ficar com fábrica de cartão da americana International Paper em Ovar

Os alemães do Palm Group vão ser os novos donos da centenária fábrica de embalagens de cartão canelado situada na Zona Industrial de Ovar, no âmbito de um mega negócio a envolver a sua proprietária americana, a International Paper (IP). A venda desta unidade portuguesa foi um dos compromissos assumidos pela Comissão Europeia para que […]

Abr 14, 2025 - 21:44
 0
Grupo alemão vai ficar com fábrica de cartão da americana International Paper em Ovar

Os alemães do Palm Group vão ser os novos donos da centenária fábrica de embalagens de cartão canelado situada na Zona Industrial de Ovar, no âmbito de um mega negócio a envolver a sua proprietária americana, a International Paper (IP). A venda desta unidade portuguesa foi um dos compromissos assumidos pela Comissão Europeia para que a IP possa comprar a britânica DS Smith, num acordo avaliado em 7,8 mil milhões de libras (9 mil milhões de euros).

Esta segunda-feira, a IP informou o mercado que iniciou “negociações exclusivas” com o grupo familiar sediado em Aalen – opera cinco fábricas de papel e 29 de caixas de papel ondulado, faturou 2 mil milhões de euros em 2024 e emprega atualmente 4.200 pessoas –, depois de receber uma “oferta irrevogável” para a compra das cinco fábricas europeias de que tem de se desfazer – as outras unidades a alienar são três em França (região de Normandia) e uma em Espanha (Bilbau).

A conclusão definitiva da operação está prevista até ao final do segundo trimestre, estando nesta altura pendente de requisitos legais em França, envolvendo questões laborais como a consulta aos sindicatos e a notificação dos trabalhadores. Citado em comunicado, o CEO da IP, Andy Silvernail, destaca que “encontrar o comprador certo para essas cinco instalações foi uma prioridade”, acrescentando estar “satisfeito por [tê-lo] encontrado”.

Cinco anos depois, esta unidade industrial no distrito de Aveiro, que no final de 2023 contava com 102 trabalhadores e é dirigida por Miguel Costa, vai voltar a trocar de mãos e novamente por imposição de Bruxelas. É que a fábrica tinha sido comprada pela gigante americana IP quando a DS Smith (que agora é o alvo da operação) avançou para a aquisição da Europac por 1,7 mil milhões de euros.

Nessa altura, no final de 2018, um dos “remédios” negociados com o Executivo comunitário foi precisamente que o grupo britânico – tinha entrado em Portugal dois anos antes com a compra da Gopaca e da P&I Displays – devia desfazer-se desta fábrica.

A antiga Fábrica de Papel do Ave, depois renomeada Europac Cartão Ovar, foi fundada em maio de 1922 e tem atualmente como empresa-mãe a espanhola IP Container Holdings. De acordo com os dados oficiais consultados pelo ECO, a atual International Paper Cartovar, S.A. registou lucros de quatro milhões de euros em 2023 (47% acima do resultado líquido no ano anterior), enquanto o volume de negócios caiu 17%, para 36 milhões de euros.

Instalada na zona industrial de Ovar, onde chegou a ter como vizinha da frente a sede da O2 de Manuel Godinho, empresário de sucatas envolvido no processo Face Oculta, a produtora de embalagens de cartão está a terminar um investimento na descarbonização através do aumento da eficiência do processo de produção de energia térmica.

Com um custo total elegível de 245 mil euros e um apoio financeiro de quase 160 mil euros no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), o investimento foi aprovado em abril de 2023 e tem data de conclusão a 28 de fevereiro deste ano.

no anterior quadro comunitário (PT2020), encaixado na ‘gaveta’ do reforço da investigação, desenvolvimento tecnológico e inovação, a International Paper Cartovar tinha beneficiado de dois milhões de euros de fundos públicos num projeto executado entre o início de 2017 e o final de 2018.

Nesse caso, com um custo total elegível de 4,5 milhões, segundo dados da própria empresa, foi instalada uma nova linha produtiva de prancha de cartão e criada outra para a produção de embalagens de cartão “estruturalmente mais complexas”.

O que passa a ter a International Paper em Portugal?

Com o negócio com a DS Smith concluído, a IP ficou com as seis fábricas portuguesas neste segmento de packaging, localizadas em Guilhabreu (Vila do Conde), Esmoriz (Ovar), Águeda, Carregal do Sal, Leiria e Lisboa.

Se não perdesse a histórica fábrica vareira, a operação “[reduziria] a concorrência nos mercados de fabrico e fornecimento de chapa ondulada no norte e oeste de Portugal”, assinala a investigação da Comissão Europeia.

Fora do packaging, a multinacional americana vai ficar com as unidades de reciclagem no Porto e na Figueira da Foz, com o centro logístico da Madeira e, claro, com o “porta-aviões” que é a fábrica de papel kraft em Viana do Castelo.

A antiga Portucel Viana e Europac Kraft Viana, uma das maiores do país, está há apenas seis anos no portefólio da DS Smith, que em 2023 anunciou ali um investimento de 145 milhões de euros, incentivado por benefícios fiscais, para aumentar a capacidade produtiva para 428 mil toneladas e melhorar o desempenho ambiental da fábrica.

A multinacional britânica DS Smith esteve em processo de aquisição durante mais de um ano e conseguiu (oficialmente) duas propostas: a da norte-americana International Paper e da conterrânea Mondi, com quem tinha feito um acordo inicial que avaliava a empresa em 5,14 mil milhões de libras esterlinas (cerca de 6 mil milhões de euros).