F1, Opinião : Red Bull(ying)?

Foi preciso esperar apenas duas corridas para termos a primeira mexida na grelha 2025. Os maus resultados de Liam Lawson fizeram soar de imediato os alarmes na estrutura da Red Bull, que optou por despromover o piloto neozelandês e promover Yuki Tsunoda a colega de Max Verstappen. Importa analisar vários pontos nesta primeira grande história […] The post F1, Opinião : Red Bull(ying)? first appeared on AutoSport.

Mar 27, 2025 - 13:45
 0
F1, Opinião : Red Bull(ying)?

Foi preciso esperar apenas duas corridas para termos a primeira mexida na grelha 2025. Os maus resultados de Liam Lawson fizeram soar de imediato os alarmes na estrutura da Red Bull, que optou por despromover o piloto neozelandês e promover Yuki Tsunoda a colega de Max Verstappen.

Importa analisar vários pontos nesta primeira grande história de 2025, com a Red Bull a estar mais uma vez no centro das atenções pelos piores motivos.

Liam Lawson – Uma escolha acertada ou mais um tiro no pé?

Liam Lawson, nascido em Hastings em 11 de fevereiro de 2002, iniciou no kart aos sete anos e destacou-se nas categorias de iniciação. Foi campeão da Toyota Racing Series (2019) e vice na Fórmula 4 Australiana (2017), Fórmula 4 Alemã (2018), DTM (2021) e Super Formula Japonesa (2023). Também ficou em terceiro na Fórmula 2 (2022).

Estreou-se na Fórmula 1 em 2023, substituindo Daniel Ricciardo na AlphaTauri, marcando pontos no GP de Singapura. Em 2025, assumiu vaga na Red Bull Racing no lugar de Sergio Pérez.

Os números podem parecer pouco animadores, mas Lawson sempre teve um papel ingrato na Red Bull. Cientes do talento de Lawson, a equipa manteve o piloto por perto, dando-lhe tempo de pista no DTM (com um final de época polémico, quanto estava na luta pelo título) e na Super Fórmula, onde foi sempre dos mais rápidos. As hipóteses de chegar à equipa principal pareciam cada vez mais remotas, mas o regresso de Daniel Ricciardo não correu como esperado e abriu-se uma porta repentinamente.

Sem preparação, sem tempo para se mentalizar, entrou e fez logo um bom trabalho. Voltou a ser encostado em detrimento de Daniel Ricciardo, mas regressou no final da temporada passada. Fez 11 corridas com a RB antes de subir à Red Bull. Muitos apontam o dedo a Lawson pela postura arrogante que demonstrou com certas afirmações, usadas agora para fazer “memes”. Lawson mostrou apenas confiança, ingrediente fundamental na F1 e não teve medo das palavras. Não estava preparado para o “efeito Verstappen”. Lawson foi uma boa escolha, é um excelente piloto, que pode ter sucesso na F1. Foi traído por uma estrutura cada vez mais desnorteada e uma conjuntura que exigia mais tempo.

Yuki Tsunoda – A “não-opção” que acabou por ser escolhida

Yuki Tsunoda, nascido em 11 de maio de 2000 em Sagamihara, faz parte do programa Red Bull Junior com apoio da Honda. Estreou na Fórmula 1 em 2021, marcando pontos no GP do Bahrein, sendo o primeiro japonês a conseguir isso numa estreia. Em 89 GPs, o seu melhor resultado foi um 4º lugar no GP de Abu Dhabi de 2021.

Antes da F1, foi campeão da Fórmula 4 Japonesa (2018) e terceiro na Fórmula 2 (2020) pela Carlin, com três vitórias e sete pódios. Inicialmente descartado para a vaga de Sergio Pérez na Red Bull pela sua irregularidade, Tsunoda amadureceu mentalmente e agora recebe a hipótese de competir ao lado de Max Verstappen.

Tsunoda impressionou nas primeiras corridas. O que fez foi brilhante para um estreante. Mas o próprio admitiu que lhe faltou foco e disciplina para enfrentar a displicência com que encarou a F1, depois do arranque auspicioso. Tsunoda é um grande talento, com uma mentalidade talvez ainda demasiado volátil. O principal motivo pelo qual a Red Bull não optou por Tsunoda foi mesmo o fator mental. Ainda no ano passado, notaram-se algumas inconsistências. Se Tsunoda tem talento para ter sucesso na Red Bull? Sem dúvida. Sem tem capacidade para enfrentar a pressão de ser colega de Verstappen? É mais difícil de responder. Tsunoda é um dos pilotos mais carismáticos da grelha e merece esta oportunidade. Não merecia era que fosse neste contexto.

Red Bull – Um desnorte cada vez maior

A morte de Dietrich Mateschitz iniciou uma espiral descendente da Red Bull que parecia improvável numa estrutura tão coesa, mas que agora atinge proporções preocupantes. As lutas internas e a instabilidade afastaram os principais obreiros do sucesso recente da equipa. Adrian Newey já afirmou publicamente que ficou preocupado com o comportamento do carro desde o desenvolvimento do RB 19 (2023), mas que a estrutura técnica descurou esse capítulo por ter um “milagreiro” chamado Verstappen do seu lado. O principal problema da Red Bull, neste momento, chama-se RB21. Um carro que apenas um fora de série consegue colocar perto do topo.

Se a questão da instabilidade interna e da menor força da equipa na área técnica começa a ser cada vez mais visível, a questão da gestão dos jovens talentos é um problema de há já algum tempo, mas que, com Lawson, tomou proporções gigantescas. Daniil Kvyat foi despachado após 21 corridas, com a Red Bull a ter pressa de promover Verstappen. O russo acabou para a F1 e, o talento que foi comparado com os melhores da história, saiu pela porta pequena. Pierre Gasly durou 12 corridas, com dificuldades claras em mostrar o seu valor. Parecia acabado para a F1, mas soube recompor-se e hoje em dia é um dos melhores talentos da grelha. O mesmo com Alex Albon, que durou 26 corridas, apesar do seu talento. Albon explicou recentemente de forma eloquente o que é ser colega de equipa de Verstappen. Felizmente a Red Bull não cuspiu o tailandês, que acabou por ser fundamental no título de 2021 de Verstappen no trabalho de simulador. Na Williams é agora a referência. Três pilotos descartados, três pilotos com talento reconhecido.

Lawson durou duas corridas, tornando-se no piloto com menos corridas feitas pela Red Bull. Um recorde que não merece. A Red Bull, que deu uma época e meia a Sergio Pérez para se recompor e tentar chegar perto do nível de Verstappen, não teve paciência para dar tempo a Lawson. Depois de avaliações, testes, de análise de dados e do historial competitivo, escolheram Lawson por acharem que tinha mais condições. Tsunoda pareceu sempre fora das opções. Agora a escolha ponderada sai após 2 corridas e o excluído passa a ser opção. Toda a avaliação cai por terra. Será que a avaliação que a Williams também deve largar Carlos Sainz depois de duas corridas más? Certamente que ninguém pensa isso.

É difícil olhar para este episódio e não achar que Lawson foi injustiçado. Quer pela sua entrada na F1, quer no (pouco) que fez na Red Bull. É difícil olhar para Christian Horner e Helmut Marko e compreender o trabalho feito recentemente. Mais ainda depois das declarações em que o choro de Isack Hadjar depois de uma estreia falhada foi rotulado de embaraçoso. A F1 é um mundo tremendamente exigente, mas não há necessidade deste tipo de postura.

Um futuro cinzento à vista?

O que fica claro nesta “Maldição Verstappen” é que a equipa parece se estar a colocar num beco sem saída. Com uma evolução do carro feita a pensar em aproveitar as caraterísticas do tetracampeão, o problema parece evidente quando se olha para a performance da Red Bull. Sem um carro vencedor, Verstappen vai bater a porta. E a Red Bull fica sem o seu campeão, com um carro que a maioria dos pilotos não consegue domar, numa equipa cujo ambiente já foi bem mais apelativo.

Isto mostra que Verstappen é especial. Mas também mostra uma estratégia talvez demasiado voltada para o neerlandês, que segundo alguns rumores, está pouco agradado com esta instabilidade. Se Yuki Tsunoda falhar será mais um piloto para a lista negra. Se a Red Bull não voltar a ser a estrutura forte e estável que era, vai perder Verstappen, o foco de toda a estratégia, depois de ter queimado pilotos que podiam ser solução. A decisão da Red Bull até é legítima, mas parece mostrar mais do que apenas uma postura intransigente e implacável.

Palavras sábias de Giedo van der Garde

O neerlandês Giedo van der Garde comentou o mais recente episódio da Red Bull de forma eloquente:

“Estou a ficar um pouco cansado de todos os comentários de que a F1 é o desporto mais duro em termos de desempenho e que, quando não se cumpre o prometido, há que enfrentar as consequências. Sim, temos de ter um bom desempenho. Sim, a pressão é insana. Mas, na minha opinião, isto está mais próximo de bullying ou de um movimento de pânico do que de um verdadeiro feito de um atleta de alto nível. Eles tomaram uma decisão – plenamente conscientes – deram ao Liam duas corridas apenas para esmagar o seu espírito. Não se esqueçam da dedicação, do trabalho árduo e do sucesso que Liam teve na sua carreira até agora para atingir o nível em que se encontra atualmente. Lembro-me do meu próprio sangue, suor e lágrimas – e isso foi para chegar à F1. E ainda por cima a conduzir para uma equipa de topo. Sim, ele teve um desempenho inferior nas duas primeiras corridas – mas se alguém está ciente disso é ele próprio. Talvez ele próprio tenha sugerido isto, mas se não o fez, desejo ao Liam toda a força e coragem para chegar à grelha de partida no Japão. Confia em ti, levanta a cabeça e prova que estão errados”.

Bullying. Uma palavra forte, mas que talvez seja indicada para definir o que aconteceu com Lawson. No desporto mais complexo e exigente do mundo, só os melhores chegam ao topo. Mas por vezes, até os melhores precisam de algum tempo e das condições certas para mostrarem que valem.The post F1, Opinião : Red Bull(ying)? first appeared on AutoSport.