Erdogan tira seu principal adversário do jogo político na Turquia
Calcada em acusações de corrupção, prisão de Ekrem Imamoglu, às vésperas de tornar-se candidato opositor, segue o roteiro típico de autocracias. Policiais enfrentam manifestantes durante protesto em Istambul contra prisão de prefeito da cidade, rival político do presidente Tayyip Erdogan, em 23 de março de 2025. Francisco Seco/ AP Sob o domínio de Recep Tayyip Erdogan e na rota direta para a autocracia, a Turquia encarcerou o principal rival político do presidente — o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu — às vésperas das primárias que o elegeriam candidato do partido opositor CHP nas próximas eleições. As acusações de corrupção contra opositores são manjadas em países onde há erosão das instituições democráticas e praticadas no intuito de remover um desafiante do jogo eleitoral. Com Imamoglu não é diferente. Aos 54 anos, foi eleito três vezes prefeito de Istambul e é mais popular do que Erdogan, que está há 22 anos no poder, como premiê e presidente. Ele já esteve preso outras vezes, mas agora está a caminho da Presidência, conforme resumiu o líder do CHP, Ozgur Ozel: “Seu único crime é liderar nas pesquisas. Ele foi preso porque venceria a eleição.” A prisão não impede a candidatura de Imamoglu, mas há outros entraves. Ele teve o diploma universitário anulado — requisito essencial para se candidatar a presidente — e foi afastado da Prefeitura. O líder opositor é acusado de estabelecer uma organização criminosa, aceitar subornos, extorsão, registrar ilegalmente dados pessoais e fraudar uma licitação. Se condenado, não poderá concorrer. Ao ter a prisão formalizada, com outros 100 opositores, o prefeito convocou seus partidários ao voto nas primárias de domingo e aos protestos. “Eu nunca vou me curvar”, prometeu. Foi atendido. As manifestações ocorrem há cinco dias e são as maiores registradas em uma década. Foram violentamente reprimidas e proibidas nas três maiores cidades — Istambul, Ancara e Izmir. Mais de 1.100 pessoas foram presas e associadas a organizações terroristas. Dez jornalistas turcos estão entre os detidos. Erdogan ainda não anunciou oficialmente a intenção de concorrer novamente, até porque a Constituição turca limita os presidentes a dois mandatos de cinco anos. Ele já foi eleito três vezes, mas justificou a terceira candidatura, alegando que a primeira ocorreu antes da reforma constitucional de 2017. As 17 emendas estabeleceram o presidencialismo no país, deram ao presidente o direito de nomear e demitir ministros, indicar quatro dos 13 juízes do Supremo, emitir decretos, declarar estado de emergência e dissolver o Parlamento. Analistas encaram a prisão do líder opositor como uma nova manobra do presidente, que anteciparia as eleições de 2028 para possibilitar a quarta candidatura. O prestígio de Erdogan está em baixa, sobretudo pela crise econômica, que põe a inflação em torno de 50%. Nesse contexto, a popularidade de Imamoglu e a sua capacidade de unir secularistas e islâmicos eram um obstáculo.


Calcada em acusações de corrupção, prisão de Ekrem Imamoglu, às vésperas de tornar-se candidato opositor, segue o roteiro típico de autocracias. Policiais enfrentam manifestantes durante protesto em Istambul contra prisão de prefeito da cidade, rival político do presidente Tayyip Erdogan, em 23 de março de 2025. Francisco Seco/ AP Sob o domínio de Recep Tayyip Erdogan e na rota direta para a autocracia, a Turquia encarcerou o principal rival político do presidente — o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu — às vésperas das primárias que o elegeriam candidato do partido opositor CHP nas próximas eleições. As acusações de corrupção contra opositores são manjadas em países onde há erosão das instituições democráticas e praticadas no intuito de remover um desafiante do jogo eleitoral. Com Imamoglu não é diferente. Aos 54 anos, foi eleito três vezes prefeito de Istambul e é mais popular do que Erdogan, que está há 22 anos no poder, como premiê e presidente. Ele já esteve preso outras vezes, mas agora está a caminho da Presidência, conforme resumiu o líder do CHP, Ozgur Ozel: “Seu único crime é liderar nas pesquisas. Ele foi preso porque venceria a eleição.” A prisão não impede a candidatura de Imamoglu, mas há outros entraves. Ele teve o diploma universitário anulado — requisito essencial para se candidatar a presidente — e foi afastado da Prefeitura. O líder opositor é acusado de estabelecer uma organização criminosa, aceitar subornos, extorsão, registrar ilegalmente dados pessoais e fraudar uma licitação. Se condenado, não poderá concorrer. Ao ter a prisão formalizada, com outros 100 opositores, o prefeito convocou seus partidários ao voto nas primárias de domingo e aos protestos. “Eu nunca vou me curvar”, prometeu. Foi atendido. As manifestações ocorrem há cinco dias e são as maiores registradas em uma década. Foram violentamente reprimidas e proibidas nas três maiores cidades — Istambul, Ancara e Izmir. Mais de 1.100 pessoas foram presas e associadas a organizações terroristas. Dez jornalistas turcos estão entre os detidos. Erdogan ainda não anunciou oficialmente a intenção de concorrer novamente, até porque a Constituição turca limita os presidentes a dois mandatos de cinco anos. Ele já foi eleito três vezes, mas justificou a terceira candidatura, alegando que a primeira ocorreu antes da reforma constitucional de 2017. As 17 emendas estabeleceram o presidencialismo no país, deram ao presidente o direito de nomear e demitir ministros, indicar quatro dos 13 juízes do Supremo, emitir decretos, declarar estado de emergência e dissolver o Parlamento. Analistas encaram a prisão do líder opositor como uma nova manobra do presidente, que anteciparia as eleições de 2028 para possibilitar a quarta candidatura. O prestígio de Erdogan está em baixa, sobretudo pela crise econômica, que põe a inflação em torno de 50%. Nesse contexto, a popularidade de Imamoglu e a sua capacidade de unir secularistas e islâmicos eram um obstáculo.