Empresa chinesa aposta em “inteligência espacial” e prepara abertura de capital em Hong Kong
A empresa chinesa Manycore Tech, com sede em Hangzhou, está investindo no desenvolvimento de tecnologias voltadas à chamada “inteligência espacial”, conceito que une inteligência artificial (IA) e dados do mundo físico para a construção de modelos tridimensionais realistas e operacionais. A companhia, que atua no setor de design digital, pretende ampliar sua atuação com sistemas […] O post Empresa chinesa aposta em “inteligência espacial” e prepara abertura de capital em Hong Kong apareceu primeiro em O Cafezinho.

A empresa chinesa Manycore Tech, com sede em Hangzhou, está investindo no desenvolvimento de tecnologias voltadas à chamada “inteligência espacial”, conceito que une inteligência artificial (IA) e dados do mundo físico para a construção de modelos tridimensionais realistas e operacionais.
A companhia, que atua no setor de design digital, pretende ampliar sua atuação com sistemas automatizados aplicáveis a diferentes áreas da computação espacial e da robótica.
A iniciativa foi detalhada pelo cofundador e diretor de tecnologia da empresa, Zhu Hao, em entrevista recente.
“Todos os usuários buscam a beleza, então estamos aqui para oferecer uma plataforma onde suas ideias possam ser retratadas digitalmente de forma realista e precisa e, eventualmente, se materializarem na realidade”, afirmou.
Segundo Zhu, a missão da Manycore é permitir que o que se projeta em ambiente digital possa ser executado com fidelidade no mundo físico.
A estratégia foi formalizada no prospecto de oferta pública inicial (IPO) protocolado em março na Bolsa de Valores de Hong Kong.
O documento apresenta a empresa como um potencial competidor internacional na área de design automatizado e computação de alto desempenho, campo no qual a companhia quer consolidar sua atuação.
A Manycore é conhecida por seus produtos voltados ao design de interiores, como Kujiale, KuSpace e Coohom (versão internacional), ferramentas que oferecem recursos de modelagem 3D para a criação de plantas arquitetônicas, projetos elétricos e de iluminação. As renderizações são realizadas em tempo real por clusters de GPUs mantidos pela empresa.
Segundo dados do prospecto e de pesquisa da consultoria Frost & Sullivan, a empresa foi, em 2023, a maior plataforma de design espacial em número médio de usuários ativos mensais e a principal fornecedora de software do segmento na China em termos de receita. No último ano, a companhia reportou 2,7 milhões de usuários ativos mensais, com alcance em mais de 200 mercados.
A Manycore foi fundada em 2011 por três engenheiros formados pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. Em 2024, foi incluída no grupo conhecido como os “Seis Pequenos Dragões” de Hangzhou — startups chinesas em crescimento acelerado. O grupo também inclui a DeepSeek, voltada à inteligência artificial, e a Unitree Robotics, que fabrica robôs humanoides.
Durante visita à sede da empresa, uma placa na entrada alertava: “Não há visitas guiadas pagas; cuidado com golpes”, em resposta ao crescente interesse público. Um painel interno exibia, em tempo real, métricas relacionadas a tarefas de renderização e uso de energia computacional.
De acordo com Zhu Hao, o foco da empresa vai além do desenvolvimento de software para design. O nome Manycore remete a processadores especializados em computação paralela de alto desempenho — tecnologia utilizada em GPUs como as da Nvidia, onde o CEO da companhia, Huang Xiaohuang, trabalhou como engenheiro de software antes de fundar a empresa. Huang integrou a equipe da plataforma CUDA, voltada à aceleração de aplicações científicas e industriais.
Zhu explicou que a empresa já trabalhava com simulações do mundo físico antes mesmo de o conceito de “inteligência espacial” ganhar visibilidade no setor de IA.
“Comportamentos inteligentes em relação à linguagem formam [modelos] de inteligência linguística. Da mesma forma, comportamentos inteligentes em relação ao espaço formam a inteligência espacial. Conceitos intuitivamente apreendidos por humanos, como identificar paredes ou agarrar objetos, são incrivelmente desafiadores para máquinas”, afirmou.
Segundo o executivo, a expectativa é que esse campo tenha um momento de ampla difusão semelhante ao que ocorreu com os modelos de linguagem da OpenAI após o lançamento do ChatGPT. Ele estima que esse ponto de inflexão para a inteligência espacial possa ocorrer dentro de cinco a dez anos.
Desde 2018, a empresa tem publicado conjuntos de dados e plataformas relacionados à computação espacial. Um dos primeiros projetos foi o InteriorNet, banco de dados voltado a ambientes internos.
Em 2023, lançou o SpatialVerse, uma plataforma de simulação para treinamento de modelos de IA, utilizada por empresas como a startup chinesa de robótica AgiBot. No mês de março, a Manycore apresentou o SpatialLM, modelo 3D que converte nuvens de pontos em representações espaciais compreensíveis por robôs e sistemas de navegação.
Zhu apontou que os avanços em inteligência espacial dependem de três pilares: dados, algoritmos e capacidade computacional. Segundo ele, ainda há limitações significativas nesses aspectos.
“A inteligência espacial ainda está em estágio inicial. Ainda não há consenso na indústria sobre algoritmos, as demandas por poder de computação não são muito altas e os dados continuam escassos.”
A experiência acumulada pela empresa em projetos de arquitetura e engenharia proporciona, segundo o executivo, uma base de dados considerável para alimentar os modelos.
A Manycore havia considerado uma abertura de capital nos Estados Unidos, mas abandonou a ideia após o caso envolvendo a Didi Global em 2021. A empresa de transporte foi alvo de investigações de segurança cibernética após sua estreia na Bolsa de Nova York, resultando em sua retirada do mercado norte-americano.
A empresa ainda opera no vermelho. No período de nove meses encerrado em 30 de setembro, registrou receita de 552,9 milhões de yuans (US$ 76 milhões), crescimento em relação aos 486 milhões no mesmo período do ano anterior.
O prejuízo líquido caiu de 489,5 milhões para 422,1 milhões de yuans. A companhia informou que pretende ampliar seus projetos de código aberto no segundo semestre de 2025.
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