Economia tem de crescer entre 2,8% a 3% nos próximos nove meses para atingir metas do PS e da AD

O ECO vai divulgar cinco séries semanais de trabalhos sobre temas cruciais para o país, no período que antecede as eleições legislativas de 18 de maio. Os rendimentos das famílias, a execução dos fundos europeus, o crescimento da economia nacional, a crise da habitação e o investimento na Defesa vão estar em foco. O ECO […]

Mai 6, 2025 - 08:21
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Economia tem de crescer entre 2,8% a 3% nos próximos nove meses para atingir metas do PS e da AD

  • O ECO vai divulgar cinco séries semanais de trabalhos sobre temas cruciais para o país, no período que antecede as eleições legislativas de 18 de maio. Os rendimentos das famílias, a execução dos fundos europeus, o crescimento da economia nacional, a crise da habitação e o investimento na Defesa vão estar em foco. O ECO vai fazer o ponto da situação destes temas, sintetizar as propostas dos principais partidos e ouvir a avaliação dos especialistas.

Depois do fraco desempenho no arranque do ano, a economia portuguesa precisará de crescer entre 2,8% a 3% entre abril e dezembro para alcançar as previsões do PS e da AD, respetivamente, para a totalidade deste ano, de acordo com cálculos do ECO. Um cenário desafiante face à incerteza internacional, particularmente devido às tarifas, alertam os economistas.

O crescimento da economia portuguesa desacelerou no arranque do ano. Um quadro esperado pelos economistas, mas cuja dimensão do abrandamento surpreendeu. Os dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1,6% em termos homólogos nos primeiros três meses, depois de ter aumentado 2,8% no trimestre precedente. Uma evolução que resulta do abrandamento do consumo privado e da desaceleração das exportações de bens e serviços.

Os dados indicam ainda que o PIB contraiu-se 0,5% na comparação em cadeia, quando no trimestre anterior tinha subido 1,4%. Segundo o INE, um resultado que reflete a combinação de um contributo nulo da procura interna (após ter sido positiva nos últimos três meses de 2024) e do contributo negativo da procura externa líquida.

Perante este desempenho, de acordo com cálculos do ECO (com base nos dados do INE a preços de mercado e ajustados de sazonalidade), a economia terá de crescer cerca de 3% entre abril e dezembro para alcançar a meta anual de 2,4% projetada pelo Ministério das Finanças, no Relatório de Progressos do Plano Orçamento de Médio Prazo enviado a Bruxelas, e pela Aliança Democrática (AD) no seu programa eleitoral. Significa isto que, em média, o PIB terá de avançar perto de 1% em cadeia em cada um dos trimestres que se seguem.

Para cumprir a projeção do PS de um crescimento de 2,3% este ano (a mesma que o Banco de Portugal), é preciso que o PIB suba cerca de 2,8% em nove meses, a que corresponde uma taxa em cadeia de pouco mais de 0,9% em cada trimestre.

Em condições normais seria extremamente difícil, com a conjuntura internacional que temos é praticamente impossível.

Pedro Braz Teixeira

Diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade

Em condições normais seria extremamente difícil, com a conjuntura internacional que temos é praticamente impossível“, considera Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, em declarações ao ECO quando questionado sobre a probabilidade de alcançar estes valores.

Além da incerteza internacional, poderá verificar-se algum impacto do apagão, mesmo que ligeiro, no segundo trimestre. Segundo contas de Pedro Braz Teixeira, a falha que paralisou o país dia 28 de abril poderá “retirar 0,1% a 0,2% ao crescimento do segundo trimestre”, devido à paragem da produção não compensada.

“Se considerarmos a paralisação da produção talvez chegamos a uma perda de 1%, mas alguma é compensada nas semanas seguintes. Porém, há sempre atividade que não se compensa“, aponta.

Pedro Braz Teixeira calcula que apagão retire 0,1% a 0,2% ao crescimento do segundo trimestre. Ricardo Ferraz aponta para um custo à volta de 400 milhões de euros ao PIB deste ano.

Na mesma linha, Ricardo Ferraz, professor no ISEG e na Universidade Lusófona, em declarações ao ECO, considera que “além da conjuntura externa, que não é a melhor, uma parte relevante da história poderá estar relacionada com efeitos pontuais”. Porém, “de qualquer forma, estes dados parecem tornar mais difícil alcançar um crescimento económico próximo dos 2,5% no conjunto de 2025″.

O economista também sinaliza o impacto do apagão no segundo trimestre, o que de acordo com os seus cálculos, poderá ter custado cerca de 400 milhões de euros ao PIB deste ano. “Ainda assim difícil não é sinónimo de impossível. Tudo vai depender do comportamento da nossa economia nos próximos trimestres, sendo que a evolução da conjuntura externa vai ser determinante“, acrescenta.

Tudo vai depender do comportamento da nossa economia nos próximos trimestres, sendo que a evolução da conjuntura externa vai ser determinante.

Ricardo Ferraz

Professor do ISEG e da Lusófona

Para já, do lado do Governo mantém-se a confiança na projeção para a totalidade do ano. “Temos todas as condições para chegar ao final com todas as nossas estimativas cumpridas. Evidentemente que temos de ser prudentes, mas também temos de ser ambiciosos”, afirmou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, durante o debate televisivo entre os oito líderes dos partidos com assento parlamentar.

Uma posição sobre a qual o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, discorda. “O crescimento económico para 2025 já vai ter de ser revisto em baixa, o que torna o programa da AD uma impossibilidade completa“, aposta.

Uma opinião partilhada por Pedro Braz Teixeira. “Com os dados do primeiro trimestre crescer sequer 2% é extremamente difícil, muito menos crescer 2,3% ou 2,4%. Os dados do 4º trimestre foram muito melhor do que o esperado e levaram a um otimismo e revisão em alta das estimativas para este ano, agora os dados do primeiro trimestre foram muito pior do que o esperado e obrigam a uma revisão em baixa“, considerou.

Legislativas 2025, debate com todos os partidos na RTP. Luís Montenegro (PSD) e Pedro Nuno Santos (PS)Pedro Pina - RTP 4 Maio, 2025

O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, procurou desvalorizar a questão. “Não nos deve surpreender muito [os números do primeiro trimestre], porque o crescimento em cadeia do quarto trimestre foi o mais elevado desde a entrada no Euro, com exceção da pandemia“, disse durante um almoço-debate na segunda-feira.

Apesar dos dados do INE ainda darem pouca visibilidade sobre os contributos para o PIB, Miranda Sarmento elenca entre os prováveis fatores de influência uma desaceleração no investimento em construção, medido pelo INE através do consumo de cimento, cujas compras cresceram mais de 20% em novembro e dezembro, e que agora terão ficado abaixo dessa taxa. A este indicador junta-se um crescimento do investimento privado menor do que o previsto, bem como uma desaceleração do consumo privado.

A retração do consumo das famílias era esperada pelos economistas, que assinalavam o impacto do aumento de rendimentos devido às alterações do IRS com retroativos e ao bónus para os pensionistas e reformados no último trimestre do ano passado. O Banco de Portugal antecipou para os primeiros três meses deste ano uma redução de 1,2% do rendimento disponível nominal, com reflexos no consumo.

Ainda assim, os dados surpreenderam os economistas do BPI, que assinalam que “os comportamentos de diversos indicadores disponíveis até fevereiro não sugeriam contração do PIB em cadeia“. No consumo, destacam que embora os levantamentos e compras com cartões apresentassem uma queda, indicadores mais globais como as vendas a retalho deflacionadas e vendas de automóveis sugeriam que o consumo se mantinha robusto. Paralelamente, a faturação na indústria e nos serviços avançou 0,8% e 3,8% respetivamente, apontam.

Ministro das Finanças aponta para desaceleração no investimento em construção, medido pelo INE através do consumo de cimento, e do investimento privado, bem como do consumo das famílias. Paralelamente, as importações aceleraram.

O ministro das Finanças destacou ainda o impacto para o desempenho do primeiro trimestre da aceleração verificada nas importações, o que, admite, “poderá ou não já ter a ver com alguma antecipação do efeito das tarifas“. Efeito esse que Pedro Braz Teixeira alerta que terá impacto ao longo do ano.

“Ainda não sabemos nada do que aí vem [as tarifas estão suspensas, enquanto decorrem negociações], mas sabemos que as tarifas são negativas e a incerteza aumentou. Quando os EUA decidem uma coisa numa semana e na seguinte recuam, estamos num mundo em que temos o máximo de incerteza, o que tem um impacto muito grande“, argumenta.

O economista recorda que “no meio da incerteza, as empresas não investem e não contratam e as famílias não fazem grandes aquisições, pelo que há impactos sobre investimento e consumo“. Ademais, os efeitos poderão chegar a Portugal por via indireta, através da menor procura dos parceiros comerciais.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou recentemente a expansão do PIB mundial para 2,8% este ano, face aos 3,3% que apontou em janeiro, e para 0,8% o da Zona Euro, menos duas décimas do que projetava anteriormente. A instituição de Bretton Woods reviu em baixa as projeções para as principais economias europeias, com exceção de Espanha, apontando para uma estagnação na Alemanha. Cenário que o Governo alemão também admite. Na semana passada, passou de uma taxa de 0,3% para 0%.

Certo é que o efeito Trump já se sente nos EUA. A economia americana registou uma contração homóloga de 0,3% no primeiro trimestre, o que não acontecia desde o primeiro trimestre de 2022. O presidente norte-americano admitiu que o cenário de recessão no curto prazo pode ser uma realidade, ainda que defenda que a época é de transição e as terras de ‘Uncle Sam’ irão assistir “ao maior ‘boom’ económico da história”.

Entre as instituições económicas, o Conselho das Finanças Públicas – que na semana passada, considerou que a projeção de 2,4% é “provável”, mas não é “prudente” – prevê um crescimento para Portugal de 2,2% este ano, o FMI e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2% e a Comissão Europeia de 1,9%.

Os economistas do BPI destacam que “é muito possível que o crescimento trimestral em 2025 se revele muito volátil, com movimentos ascendentes e descendentes que pouco refletirão o comportamento real da economia“.