Do FOMO ao JOMO: quando o silêncio vira o negócio mais barulhento de 2025

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Mai 4, 2025 - 17:11
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Do FOMO ao JOMO: quando o silêncio vira o negócio mais barulhento de 2025

Uma sexta‑feira à tarde, a câmera de The White Lotus enquadra a recepção do Four Seasons em Koh Samui. É ali que o hóspede entrega o smartphone e assina um termo de abstinência digital – experiência que, na vida real, começa em US$ 2.000 por noite.

O enredo encontrou terreno fértil em dois humores antagônicos. De um lado, FOMO (fear of missing out), o receio de ficar de fora de algo interessante; de outro, JOMO (joy of missing out), o prazer consciente de não participar.  A tensão é real: 69 % dos millennials admitem sentir FOMO com frequência e 60 % já compraram algo só para não “perder” um evento.

Esse medo prospera num ambiente hiperconectado. Nove em cada dez adultos norte‑americanos entram na internet todos os dias – e 41 % dizem estar on‑line quase o tempo todo.

Vender autocontrole, portanto, ficou rentável. O mercado global de apps de bem‑estar digital alcança US$ 11,18 bi em 2024 e deve crescer 15 % ao ano até 2034.

A demanda é palpável: 40 % dos lares em dez grandes economias afirmam preocupação com o tempo que a família passa conectada – e buscam ativamente “digital detox”.

Mesmo o hardware entrou na onda. No Reino Unido, as vendas de “dumb‑phones” chegaram a 450.000 unidades em 2024, um salto que contrasta com o mercado saturado de smartphones.

Turismo também capitaliza. O segmento global de wellness retreats deve romper a marca de US$ 1 trilhão ainda este ano, impulsionado justamente por pacotes que proíbem Wi‑Fi e oferecem rotinas de respiração guiada – sátira que a nova temporada de White Lotus faz questão de exibir.

Para quem embarca, a ciência lembra que trocar FOMO por JOMO não acontece de um dia para o outro: formar um novo hábito leva, em média, 66 dias. Não é coincidência que os programas mais vendidos tenham ciclos de 90 dias, com kits offline e coachings semanais.

O recorte brasileiro

O Brasil exibe um retrato ainda mais intenso desse hiper‑link permanente. Somos o segundo país do mundo em tempo de tela, com 9 h 32 min diários, e circulamos por aí com 258 milhões de smartphones – 1,2 aparelho por habitante. Isso em parte explica outro dado da Pesquisa TIC Domicílios 2024: 60 % dos conectados navegam só pelo celular, sem qualquer computador como plano B.

Não surpreende, então, que o FOMO ganhe sotaque local. Um estudo latino‑americano sobre nomofobia mostrou que 60 % dos brasileiros sentem ansiedade se ficam longe do telefone e 87 % se declaram dependentes dele para as tarefas diárias. A falta de sinal, portanto, não é mero incômodo: é gatilho psicológico.

E já existe quem transforme essa aflição em receita. A Nokia afirma ter dobrado sua participação de mercado em telefones flip no país em 2024, enquanto a plataforma BookRetreats lista quatro retiros declaradamente “digital‑detox” no Brasil para 2025, todos com diárias acima de US$ 1 200. O “prazer de ficar de fora” chega embalado em parcelamento de 10 × sem juros.

Quanto mais barulhenta a vida on‑line, mais valioso – e caro – se torna o silêncio. Dos apps que bloqueiam notificações aos flip phones com design fashion, a indústria descobre como monetizar a ausência transformando “paz” em upgrade premium.

Talvez a verdadeira virada não seja desconectar para sempre, mas escolher quando conectar. Na aritmética de 2025, cada minuto offline acumula valor simbólico justamente porque é escasso. Resta saber quanto desse tempo continuará realmente nosso antes de virar produto outra vez.

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